Precisamos falar de Medellin - 1 de 3

Porto Alegre (POA) - Lima (LIM): 5h;

Lima (LIM) - Medellín (MED): 3h.

Ou seja, saindo de Porto Alegre, num voo da Avianca e com apenas uma conexão em Lima, no Peru, depois de oito horas, você estará em Medellín, na Colômbia. Então, começo essa primeira coluna de uma trilogia (serão três textos sobre o tema) com um pedido: por favor, inclua Medellín no seu próximo roteiro de viagem e se prepare para uma experiência transformadora.

Talvez, quando eu fale de Medellín, a sua primeira lembrança seja o 'Cartel de Medellín', rede de traficantes de drogas organizada por 'Pablo Escobar Wagner Moura' que tem origem exatamente nessa cinzenta cidade colombiana de mais de dois milhões de sobreviventes.

Pois bem, esqueça. A Medellín do cartel e do narcoterrorismo que, até o final da década de 1990, fazia dessa cidade uma das mais perigosas do mundo não existe mais. Acabou.

Hoje, depois de menos de 20 anos, Medellín é uma cidade pacificada e que funciona. É organizada em 'comunas': das 16, a Comuna 13 é a mais famosa. Ali, nos anos 90 e até início dos anos 2000, havia grupos guerrilheiros, paramilitares e narcotraficantes disputando espaço e poder à custa de mortes, sequestros, constrangimento e humilhação da população dessa comunidade.

Hoje, os 150 mil habitantes da Comuna 13 vivem num lugar limpo, organizado, seguro e que, naturalmente, virou, também, uma referência turística. Estrangeiros como eu jamais imaginaram escadas rolantes, lindas e limpas rasgando ao meio uma favela sul-americana e servindo como solução criativa e de mobilidade urbana, morro acima e abaixo. Isso tudo para a população que mais precisa e com envolvimento dela. Os monitores, por exemplo, que servem como guias para orientação aos turistas nas escaleras, são voluntários da comunidade. Pois é, Medellín tem isso e muito mais.

A Comuna 13 não é uma exceção. A segurança parece estar em toda cidade e na Colômbia de forma geral. Para uma cidade da América do Sul com mais de dois milhões de habitantes, os níveis de violência são baixos. Medellín conta, hoje, com uma taxa de 19 homicídios para cada 100 mil habitantes e os índices seguem caindo. Como referência, em 2002, esse número era de 177 para cada 100 mil.

Tudo isso aconteceu a partir de um movimento que foi batizado de 'arquitetura social'. O movimento transformou aos poucos a cidade. O investimento na recuperação dos espaços urbanos, especialmente nos bairros mais pobres e a construção de escolas e bibliotecas mexeu fundo na estética e na autoestima dessa gente.

Eu fui e vou voltar. Fiquei menos de uma semana por lá e me envolvi com duas sensações: primeiro, o absoluto encantamento com as soluções locais e criativas, de uma cidade que renasceu nos últimos 20 anos e onde a economia criativa pulsa. Segundo, uma inveja branca e verdadeira por não ter na minha Porto Alegre a menor expectativa de trilhar, no médio prazo, um caminho parecido.

Na próxima coluna, a gente falará mais sobre isso, sobre as soluções criativas e espaços urbanos de Medellín.

Autor
Engenheiro, fundador, ex-CEO e ex-presidente do Conselho de Administração da AG2, fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Agências Digitais (AbradiRS) em duas gestões. Presidente do Conselho de Administração da Seekr de Blumenau e também sócio e membro do Advisory Board das seguintes empresas: Alright, MPQuatro, Delta, Zeeng, DEx01 e Minovelt. Foi eleito pela plataforma Proxxima um dos 10 profissionais mais inovadores do mercado brasileiro, em 2011. É professor do curso de Comunicação Digital da Unisinos e mestrando em Design Estratégico. Já trabalhou com estratégia digital para as principais marcas do mercado brasileiro incluindo Bradesco, Toyota, GM, Natura, Rio2016, Vale, Embraer, C&A, entre outras.

Comentários