Publicidade ontem e hoje

Por Flávio Dutra

07/07/2025 10:30
Publicidade ontem e hoje

Sou do tempo em que os estabelecimentos comerciais e os produtos eram tão ou mais conhecidos pelos seus slogans do que pelas suas marcas.  A Casa Reinaldo, um bazar de preços populares, por exemplo, era ?a maluquinha da praça do Portão? ( praça Conde de Porto Alegre). O Magazine Alberto Bins, loja de roupas masculinas,  era ?aquele da escadinha?. A Bromberg, ferragem e importadora de máquinas, se anunciava como  ?na Siqueira Campos, em frente à paineira?, a majestosa árvore que ainda hoje é referência no Centro Histórico de Porto Alegre.

O Conhaque Dreher apostava no DNA, pois era ?de pai para filho desde 1910?. A equipe de esportes da Rádio Gaúcha, dirigida pelo saudoso Ari dos Santos, se vangloriava de ser ?a maior e melhor? e a TV Gaúcha, hoje RBS TV, se apresentava como ?a imagem viva do Rio Grande?, em contraponto à TV Piratini, ?a pioneira?.  Valia as rimas básicas, como ?quem toma Grapette, repete?, ou ?Casa Maria, a sua sapataria?, ou ainda, a famosa propaganda rimada, muito comum nos bondes de então: 

Veja, ilustre passageiro,

O belo tipo faceiro

Que o Senhor tem a seu lado;

E, no entanto, acredite:

Quase morreu de bronquite;

Salvou-o o RUM CREOSOTADO.

Eram os anos 1960, 70, 80 . quando ainda não vigorava o politicamente correto, que certamente não permitiria os comerciais do Coscarque, um chá que seria milagroso para o emagrecimento. ?Essa tomou Coscarque?, afirmava o gauchão, de binóculo, conferindo na beira da praia as garotas de biquini, ou ?essa não tomou Coscsrque?, quando aparecia uma senhora, digamos, mais nutrida. E o que dizer do Paixão Cortes, ícone do gauchismo raiz, sentenciando ?Chega de café de chaleira? ao anunciar um novo produto, escandalizando os regionalistas e surpreendendo a população em geral? 

Faço essa investida na memória da Publicidade, me intrometendo na área do Marino Boeira e do Iraguaçu, para destacar o ocorrido no recente Festival de Cannes, que cassou 12 troféus concedidos à agência brasileira DM9, após a constatação de campanhas com conteúdo manipulado por Inteligência Artificial (IA.). A DM9, de forte presença no mercado publicitário e nos momentos históricos da publicidade brasileira, reconheceu as falcatruas, devolveu os leões da premiação e demitiu seu presidente. 

A repercussão no mercado nacional e internacional foi grande e o vexame ainda maior, porque Cannes  celebrava  nesta edição a criatividade brasileira, homenageando o gênio Washington Olivetto, que deve ter se revirado no túmulo diante desse escândalo. Nos seus desdobramentos, o episódio levanta a necessidade de discussões urgentes sobre ética, transparência e os limites do uso da Inteligência Artificial na comunicação publicitária e na Comunicação em geral.

De forma simplória, sem o conhecimento dos dois experts já citados, só me resta afirmar que já não se faz mais publicidade como antigamente, do tempo do Coscarque e do Rum Creosotado - que nunca concorreram em Cannes, mas cujos anúncios até hoje são lembrados.