Qual será o futuro das universidades?

Por Anelise Zanoni

Semana passada recordei uma história que aconteceu comigo. Abri o Facebook e encontrei o relato de um ex-colega que acabava de ser demitido. Ele estava atônito, havia sido avisado da demissão por e-mail. 

Os quase 12 anos de dedicação à universidade e o empenho para ajudar a formar centenas de comunicadores não importaram na decisão. Na hora de dispensar um profissional, o momento de pandemia combina com a frieza de um aviso digital de que ele não serve mais para o sistema.  

Como resposta, um grupo de estudantes fez um manifesto, porque está cansado de perder professores ao longo da formação acadêmica. 

Fiquei pensando comigo: diante desse cenário, qual será o futuro das universidades? Será que os novos modelos de educação têm autonomia e capacidade suficiente para formar profissionais capacitados e éticos para o mercado de trabalho? Não sei... ainda tenho dúvidas.  

Em 2016, quando eu era professora universitária e coordenava uma das áreas de uma agência experimental, comecei a presenciar o drama das demissões. Primeiro, começaram com o enxugamento de horas de trabalho. Depois, analisavam qual professor iria para o "paredão". Os critérios eram variados: um estudou demais e tem pós doutorado, outro já se aposentou e continua na sala de aula, aquele tem uma empresa de sucesso e não precisa dar aula... Enfim, tudo poderia ser um critério. Como eu estava grávida na época, ganhei imunidade temporária. 

Porém, um ano depois da volta da licença maternidade, chegou minha vez. Recebi uma ligação, pedindo uma reunião urgente às vésperas das minhas férias. Eu já sabia: as reuniões de janeiro de 2019 eram para demitir professores. Naquele ano eu era apenas uma de mais de 70 professores demitidos na mesma universidade. E isso ocorreu também em outras tantas instituições de ensino do Brasil. 

No período entre 2016 e início de 2019 vi muitos professores serem dispensados de diferentes universidades privadas. E sabia que, infelizmente, minha hora chegaria. Antes mesmo de ser demitida, um coordenador de curso já anunciava que em breve ele estaria na lista de quem não se enquadrava mais no sistema educacional - ele sabia que estavam mandando embora aqueles que tinham estudado demais, que tinham pesquisado demais e, consequentemente, tinham mais horas de sala de aula e salários maiores. Eu ouvia os relatos dele e já imaginava que também estaria na lista. 

A onda de demissões nas universidades veio antes mesmo da pandemia. E é uma conta que não fecha, porque as instituições querem excelência mas evitam ter professores doutores, com muitas horas de aula, com experiência suficiente que exija pagamento mais justo.  

Claro, além de um novo posicionamento diante da crise, as universidades precisam ser analisadas como empresas. Se não têm faturamento suficiente, precisam enxugar. E é neste ponto que surgem as demissões - e novas contratações de profissionais menos experientes e menos onerosos.  

É triste, mas é a realidade. Por isso, professores com décadas de experiência, professores premiados, doutores, pós-doutores tendem a ficar fora das universidades privadas. Todo mundo sai perdendo, mas quem disse que a vida é justa, não é mesmo?

Autor
[email protected] Mestre e doutora em Comunicação Social, a jornalista é CEO da Way Content Agência da Comunicação, especializada em turismo, gastronomia e estilo de vida, e fundadora do projeto Travelterapia, que divulga destinos, experiências e cria projetos de branded content. Em 2019 foi finalista da categoria Imprensa do Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo. Tem experiência como repórter e editora, e é freelancer de publicações como Viagem Estadão e Veja Comer & Beber. Trabalhou 12 anos na redação do jornal Zero Hora e produziu conteúdos para veículos como Sunday Independent, Hola!, Contigo!, Playboy, Veja, Globo.com e Terra. Também atuou por 10 anos como professora de universidades como Unisinos e ESPM, passando pelos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Produção Fonográfica. Atualmente pesquisa o papel da imprensa no desenvolvimento do turismo e já estudou em países como Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

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