Quando as mãos viram coração

Por Grazielle Araujo

13/02/2019 17:45 / Atualizado em 13/02/2019 17:44

Escrever sempre foi meu hobby predileto (ah Grazi, que novidade!). Desde os tempos de diário em que eu desabafava para valer, sonhava com a ponta dos dedos segurando a caneta e deixava registrado naquelas folhas seguras por cadeados o que exatamente se passava na minha cabeça. Sem filtros, sem pudores e sem obrigação. Era um compromisso comigo, ninguém me cobrava. Eu gostava de reler os anseios do mês anterior, de dar risadas de bobagens adolescentes e de ver o quanto o ato de colocar no papel contribuía para que algumas coisas, de fato, se realizassem. Sim, eu acredito na força das palavras.

Então segui com essa doce mania de escrever, o que por vezes pode até ter me ?roubado? a habilidade de dialogar, porque na escrita eu sempre coloquei o meu coração para pulsar. O ato de redigir é um ato de amor, de entrega. A vida adulta veio ensinar que mesmo sabendo me expressar entre as linhas, tem vezes que é exigido um olho no olho. A verdade também está ali, mesmo que difícil de encarar. Ao longo destes 34 anos, nada substituiu, de fato, a narrativa no papel. Obviamente não foi à toa que optei pelo jornalismo.

A facilidade de um bom texto está na percepção do autor, naquilo que faz começar a rabiscar o bloco. Se eu disser que é preciso ser um bom observador vou estar me boicotando, porque não consegui adquirir ? ainda ? esta virtude. Mesmo muitas vezes com a cabeça na lua, o ouvido não engana, o tom de voz entrega, a entonação dá a manchete. Para redigir, basta alguns minutos e um teclado disponível.

Mas de todo esse universo mágico e doido de palavras, linhas, vírgulas, parágrafos e pontos finais, o meu texto predileto é aquele que é escrito por acaso, como os dos diários da juventude. A inspiração pode vir de tantos lugares que pontuar alguns seria até desleal. A parte mais bacana é quando eu consigo fazer com que alguém também se encaixe no meio daquela infinidade de letras que, juntas, retratam diferentes significados de situações cotidianas. Nem sempre é algo particular, mesmo parecendo ser.

É um mergulho tão profundo que, por vezes, parece que foi somente uma transcrição de pensamentos. E na maioria das vezes, é. A melhor parte de escrever por escrever é redigir de peito aberto, de alma. É realmente se entregar. Deixar pulsar na ponta do dedo o que está percorrendo o corpo inteiro. E, por fim, ver que muita gente se dá o trabalho de ler, se encontrar em alguma estrofe e compartilhar de algum sentimento em comum.