?O amor se declara no afeto,
mas se prova na responsabilidade.?
No início de outubro de 2025, o meio-campo galês Aaron Ramsey, então vestindo a camisa do Pumas UNAM, do México, viu sua vida ganhar um capítulo fora dos gramados. Sua cadelinha Halo, uma beagle que fazia parte da família, desapareceu enquanto estava sob os cuidados de um abrigo de animais em San Miguel de Allende, no estado de Guanajuato.
Ramsey publicou pedidos emocionados nas redes sociais, ofereceu recompensa e interrompeu sua presença nos treinos para se dedicar à busca. Pouco depois, em comum acordo com o clube, seu contrato foi rescindido após apenas seis partidas, encerrando precocemente sua passagem pelo México.
Há quem ache exagero. Há quem diga que é ?só um cachorro?, como se o amor precisasse pedir licença para existir, como se o vínculo, por não ter voz humana, tivesse menos valor. Mas quem vive o amor que nasce dos olhos úmidos, do balançar de rabo e do silêncio que acolhe sabe que não se trata de exagero. Trata-se de responsabilidade, da mais pura que existe.
Aaron Ramsey não abandonou simplesmente um contrato. Ele não virou as costas para uma carreira sem motivo. Ele escolheu honrar o compromisso mais profundo que se pode assumir: o compromisso com um ser que depende de nós para viver. Um ser que não entende calendário de jogos, mas entende presença. Que não sabe de troféus ou estatísticas, mas sabe de lealdade.
Quando Halo desapareceu, Ramsey tomou a única decisão que um coração responsável poderia tomar. Foi atrás dela, não por espetáculo ou vaidade, mas porque, quando o amor é verdadeiro, ele não se resume a carinho. O amor também é dever. É promessa silenciosa: eu cuido de você, eu te protejo, eu não te deixo sozinho no mundo.
Muita gente esquece dessa camada do amor. O amor não é só o afeto registrado em fotos bonitas ou em posts do feed. O amor está no que se faz quando ninguém está vendo. Amor é responsabilidade.
Responsabilidade é acordar no meio da noite porque se ouviu um latido distante. É adiar compromisso porque alguém não está bem. É deixar para depois o que pode esperar para estar com quem não pode esperar. É largar tudo - trabalho, reconhecimento, compromissos inadiáveis - porque uma vida que confia em você vem antes.
Quem vive isso entende: nossos animais não são acessórios, não são etapas de vida, não são apenas companhia. São família. São filhos de alma, de ternura, de cuidado diário. E quem escolhe adotá-los, tutelá-los e amá-los sabe que o amor que recebe não é menor do que o dedicado a um ser humano. É apenas expresso em outra linguagem. Uma linguagem que não fala, mas que grita quando falta.
Por isso, quando vejo alguém como Ramsey agir assim, não enxergo fraqueza nem irresponsabilidade. Vejo coragem. Vejo grandeza. Vejo alguém que entende que amor de verdade tem peso, compromisso e sacrifício.
E se um dia um dos meus se perdesse, que não reste dúvida: eu também largaria tudo. Troco agenda por horas de busca, reunião por passos apressados na rua, aplausos por cartazes e lampejos de esperança. O amor que escolhi cuidar, eu cuido até o fim. Porque amar é responsabilidade, e responsabilidade é uma das maiores formas de amar.
Que o mundo aprenda isso. Que o mundo respeite isso. E que nunca falte força para honrar esse vínculo que não precisa ser explicado para ser sentido.