Quem está por traz de uma empresa de pesquisa?

Semanalmente, analiso dados de pesquisa referentes ao comportamento humano. Resultados que refletem o pensamento da sociedade de forma geral (de um estado, de uma cidade, etc.) ou de forma segmentada, opinião de pessoas que compreendem instituições (como família, instituição religiosa, escola, associação, governo, etc.).

Algumas pessoas me questionam como são feitas as pesquisas e quais os profissionais responsáveis por realizar pesquisas com as pessoas. E, seguidamente, há o questionamento clássico: "Por que eu nunca fui entrevistado?".

Há muitos tipos de pesquisas que envolvem a opinião, a declaração de pessoas: desde as pesquisas de satisfação, passando pelas pesquisas de hábito e comportamento de consumo, de mercado, de preferência por meios de comunicação (audiência de rádio, televisão ou jornal) e até as pesquisas eleitorais.

Para compreender a tendência do comportamento humano, na maioria dos casos, aplica-se pesquisa quantitativa que possibilita a realização de entrevistas com uma amostra de pessoas e se estima os resultados para toda a população. Significa dizer que, para compreender o que pensa a população de uma cidade ou os associados de uma instituição, não se faz necessário entrevistar todos os membros desta população e sim, uma parte, uma amostra, desde que ela seja representativa do todo.

Mas é aí que reside a primeira tarefa técnica: a capacidade de desenhar a amostra representativa. A amostra deve ser calculada garantindo todos os elementos que representem a população. Vamos imaginar uma associação: para garantir a representação de uma amostra é necessário calcular o tempo de associado (pois há empresários muito experientes e alguns que são entrantes), os segmentos de atuação, o porte da empresa e a região de localização (um empresário do centro tem percepções diferentes de um empresário de bairro), enfim, precisa levar em consideração a proporção de todos os aspectos que compõem o grupo a ser estudado.

E para fazer a amostra existe o profissional da estatística: o estatístico, que é responsável pelos 'tais percentuais' de representação. O estatístico responde pelos cálculos amostrais e também pelos cálculos analíticos (é quem calcula ou valida os números que permitem estimar os resultados da amostra para toda a população).

Além do estatístico, para estudar a realidade social é indispensável o sociólogo, que é o profissional que estuda o comportamento humano de forma coletiva. Não é à toa que sociologia é a ciência que estuda a sociedade.

O sociólogo cuida da elaboração do instrumento de pesquisa (como filtros, questionários, etc.) e coordena todo o processo de pesquisa atinente a realidade social, fazendo com que cada objetivo de pesquisa se torne uma pergunta e que cada pergunta tenha a capacidade de confirmar ou refutar uma hipótese sobre a realidade em que se vive.

E como a realidade é constituída por vários saberes, conforme o segmento em análise, junto com o estatístico e o sociólogo se aglutinam outros profissionais que contribuem para aprofundar uma análise. Um exemplo seria a pesquisa de intenção de compra para o dia das mães, onde se compartilham conhecimentos com o psicólogo e o economista. O psicólogo traz consigo a análise sobre a relação afiliativa e a influência no processo de compra, enquanto que o economista traz para o debate a influência da economia nesta decisão. E assim uma empresa de pesquisa faz ciência, trabalhando com cientistas!

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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