Repercussão que não me surpreende

Por Renato Dornelles

Não vou aqui contestar quem é contrário a um aporte financeiro público à escola de samba Portela, no carnaval carioca, no próximo ano. Entendo os argumentos daqueles que, desprovidos de qualquer interesse político ou preconceito, citam a situação financeira do Estado par se opor. Mas minha compreensão para por aí.

Isso porque não vejo como não me manifestar a respeito da rapidez da repercussão, do nível de mobilização e das ações já adotadas por quem se opõe a um possível auxílio público à escola de samba. Inclusive por perceber integrantes de diferentes setores, alguns normalmente apartados por divergentes ideologias, unidos numa mesma direção neste tema.

Claro, não tenho como medir até que ponto isso é representativo em termos do Rio Grande do Sul como um todo. Mas tenho como certo que, nos últimos dez dias, desde que o enredo da Portela, que fala sobre a parcela negra do Rio Grande do Sul, foi anunciado, com a possibilidade de apoio do Estado, manifestações públicas contrárias, muito enfáticas, têm se proliferado em diferentes plataformas e mídias.

É sabido e notório que um erro não justifica outro. Mas a forte repercussão de uma possibilidade (sim, possibilidade, pois em nenhum momento foi falado em números ou valores), não vista em outras grandes polêmicas envolvendo o poder público gaúcho (em níveis municipal ou estadual) demonstra mais uma demonização da cultura negra e, no caso do enredo da Portela, da própria história e da visibilidade dos negros no Rio Grande do Sul.

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

Comentários