Rolo na troca de mimos 2
Por Flávio Dutra

A coluna da semana passada, com a história da troca de presentes que não houve em Xangai, até que rendeu comentários interessantes. A destacar o do ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, uma das testemunhas da gafe que cometi ao não apresentar num cerimonial com os chineses, o mimo que seria trocado com os anfitriões. O presente seria o livro 'Cenas Urbanas, Paisagens Rurais', do consagrado fotógrafo Eurico Salis, só que ao abrir o pacote que havia pedido para ser preparado pela assessoria na prefeitura, deparei com dez exemplares de um relatório de gestão e nada da artística obra fotográfica.
De trapalhada em trapalhada, as autoridades da China, ao formalizarem o convite para Porto Alegre participar da ExpoXangai 2010, ficaram sem o livro do Eurico Salis e nenhum outro regalo, porque não seria o caso de ofertar-lhes o relatório sobre os avanços da administração municipal da capital dos gaúchos. Importantes avanços, mas incompreensíveis para os chineses.
Hoje, passados quase 15 anos do constrangedor episódio, ao ler a coluna em Coletiva.net, Fogaça apontou mais um equívoco a somar-se à falta do presente. Com bom humor, disse que o problema não foi só o esquecimento dos livros do Eurico Salis, mas não termos feito a impressão do relatório na forma de multitradução, incluindo o mandarim. "Pelo menos nossos amigos chineses teriam uma leitura mais acessível no banheiro", acrescentou. Só pra lembrar, o pacote com os relatórios ficou no banheiro do local onde ocorreu a cerimônia.
Já a responsável pelo empacotamento errado, ao terceirizar a tarefa para um servidor que não entendeu corretamente de quais livros se tratava, relembra receosa: "Tu queria me matar quando soube que foi o material errado". Verdade. O que salvou a moça foi a distância de mais de 19 mil km em rota aérea entre Xangai e Porto Alegre. Mas ainda hoje, quando lembro do episódio, sinto ganas de cometer um assessoricidio.
Na posterior viagem à China, acompanhando a comitiva de Porto Alegre para a participação na grande feira mundial de 2010, lembro que ganhei de presente dos chineses uma gravata vistosa e um pregador com uma pequena pérola incrustada e agora fiquei na dúvida se mantenho os mimos no meu acervo pessoal ou encaminho para o patrimônio da prefeitura. Vou aguardar o desfecho do caso do Bolsonaro e as jóias da Arábia Saudita para tomar uma decisão. Pode ser, ainda, que o período para devolução já tenha prescrito...