Somos diferentes e somos iguais, dá pra entender?

Por Grazi Araujo

Acho tão importante escrever, conversar, discutir e tudo mais que se possa fazer para colocar o racismo à mesa. Temos que falar de racismo e não só no dia da consciência negra. Falar deste preconceito ainda tão presente é contribuir para o futuro do meu filho, do teu vizinho, do filho de uma amiga, de um colega de trabalho. As pessoas precisam saber que existe - de verdade e diariamente, não dá pra fingir. Mas é difícil falar de fora. É difícil porque eu, branca, não sinto na pele esse preconceito tão ridículo. Mas com a ousadia que me pertence, me aproprio bem pouco da causa por ser mãe de uma mistura (e uma pintura), fruto de um casamento com um negro. 

"A Grazi é casada com um negão", "ah, mas o Vitor nem é negro", "mas nem tem traços de negro", "vai ser jogador de futebol". Quanta coisa as pessoas falam - e muitas vezes sem maldade - que alimentam este preconceito? Precisamos acender a luz da atenção a essa gente sem noção. Repudiar, defender, tomar partido, explicar, contar histórias. Vivemos numa geração de evolução e o simples fato de falar sobre isso faz com que as coisas prosperem. Porque tem gente que julga, que pensa em silêncio, que não fala mas cogita num erro de pensamento. Somos diferentes e somos iguais, dá pra entender?

A imprensa repercutiu o último ato de racismo no futebol com o Taison e criticou - com razão - o comportamento do árbitro de expulsar o jogador de campo. Atitudes precisam ser tomadas, exemplos precisam existir para serem seguidos, punição deve ser dura para este tipo de crime. Roger, que sabiamente declarou "punição é uma ferramenta, mas a educação é mais forte", trouxe à tona outro dia desses a questão de negros e mercado de trabalho, ao destacar o encontro dos únicos dois negros técnicos de futebol. Você, que tá aí do outro lado da tela, faz esse exercício. Dá uma olhada na volta, lembra da sala de aula, dos colegas de trabalho, das reuniões importantes, das autoridades, dos políticos. Quantos negros? É, gente, não deve ser fácil para eles quando fazem este mesmo exercício. Qualificação, capacidade técnica, conhecimento e disposição estão dentro de cada um, na cabeça e no coração, não no tom da pele. Isso não muda em função da cor da pessoa, dá pra entender? 

Eu tento mascarar, por vezes me convencer que isso vai mudar quando meu pequeno crescer um pouco mais e compartilho - quanta ousadia de novo - do sonho de Martin Luther King: "o sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele".

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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