Disse um colega de academia que o Brasil está se comportando como uma república de bananas ao não conseguir negociar com os EUA a questão do tarifaço. Discordei; com o presidente Trump agindo como moleque nas relações internacionais (?Faço porque posso? estão entre seus argumentos infantis), todo caminho é tortuoso para se chegar a um denominador comum.
Foi bom identificar, pela mais recente pesquisa do Datafolha, que 89% dos entrevistados condenam o tarifaço e 57% entendem que Trump está errado ao tentar intervir nos julgamentos do Supremo Tribunal Federal. O diabo é tentar entender o que pensam os 43% que admitem tal interferência em nossa soberania enquanto país que zela pela democracia.
As alegações trumpistas soam até ridículas, como vimos, quando alega prejuízos no comércio com um país como Brasil, quando são os EUA que colhem os frutos positivos do intercâmbio comercial. Seu objetivo com o tarifaço evidencia que há muita coisa em jogo, mais do que conseguimos captar. Sinais claros não faltam; o mais rasteiro e imediato é a tentativa de interferir no julgamento da tentativa de golpe executada pelo grupo bolsonarista. As medidas de Donald Trump avançam sobre o Judiciário brasileiro, com sanções a ministros do STF e uma punição execrável a um deles.
Posicionamento que, como sabemos, é articulado por lideranças bolsonaristas ainda inconformadas com o resultado da eleição de 2022 e que recorrem a Trump como uma tábua salvadora ante à iminência da prisão de seu líder principal. Insistem na tecla de que não houve tentativa de golpe para reverter o resultado, apesar de todas as evidências em contrário, e colocam a família acima dos interesses da nação. No que já se catalogou como patriotismo reverso, traem, de uma forma assustadora e nojenta, e se valem de uma pretensa amizade com Trump para levar os EUA a interferir na política brasileira.
Claramente também é o cenário adverso para a economia americana e que leva Trump a vitaminar o imbróglio que alimenta com seu ar de desdém.
O país tem um déficit gigantesco, da ordem de US$ 36 trilhões (R$ 210,7 trilhões). O poder que o dólar segue exercendo impacta as importações dos EUA, com um consequente desestímulo ao desenvolvimento de sua indústria.
O BRICs é uma pedra no sapato, especialmente quando levanta a bravata de dispensar o dólar nas relações entre seus países.
E o PIX surgiu como pedregulho para grandes empresas americanas, que perdem dinheiro com o surgimento de uma transação de pagamento eletrônica sem custo algum para seus usuários. Mas há mais, muito mais. Há as terras raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais para produtos como turbinas eólicas, veículos elétricos, aviões de caça, submarinos, celulares, a lista é gigantesca. A maior parte desta riqueza natural está na China e no Brasil, cuja reserva agora é cobiçada pelo governo trumpista. O recado foi dado há poucos dias: os Estados Unidos querem ter acesso a estes minerais estratégicos. O poder revela o homem, e para entender Trump ajuda muito o filme O Aprendiz. Se não viu, não perca tempo. Detalha a ascensão da carreira de Trump desde quando um jovem pouco experiente mas já sedento de riqueza e poder. Aconselha-se com um advogado frio e inescrupuloso, que procurou para se defender de um processo por discirminação racial. O fato é real: tentou expulsar inquilinos de forma arbitrária por serem afro-americanos. Com o advogado aprendeu a mentir, chantagear e trapacear, e se mostrou ser o legítimo caso do aluno que supera o mestre, ao enganar inclusive o mentor quando este estava no final de sua vida. Minta, minta sempre, ensinou o ?mestre?, liçãozinha que Trump aprendeu rapidamente para atingir seus objetivos.