Uma semana de censura (que tristeza)

Por Anelise Zanoni

O que está acontecendo com a liberdade de imprensa? É uma reflexão muito pertinente a ser feita quando recordamos alguns fatos das últimas semanas. E, quando conhecemos os fatos, nós, jornalistas, temos que ficar muito decepcionados.

Depois de receber mais detalhes sobre as denúncias de assédio sexual que envolvem o ator Marcius Melhem, a revista piauí foi proibida de publicar uma reportagem sobre os desdobramentos do caso. O humorista é acusado por pelo menos oito mulheres, todas colegas de trabalho. 

Por meio de advogados, o artista entrou na Justiça pedindo a censura prévia da revista. E, claro, conseguiu!

Um detalhe: a revista é a mesma que publicou  uma reportagem sob o título "O que mais você quer, filha, para calar a boca?". Na época, foram ouvidas 43 pessoas para a construção texto, que revelou um lado obscuro e nada engraçado envolvendo o humorista. Há diversas evidências de que as histórias são reais.

Na minha opinião, a censura revela o medo do acusado e fere a constituição brasileira, que proíbe a própria censura. Casos de empresas jornalísticas e jornalistas censurados e ameaçados são cada vez mais comuns nos últimos tempos, inclusive no Rio Grande do Sul. Somente na última semana foram notificados dois casos, inclusive. 

A RBS TV teve uma reportagem censurada. Falava sobre a delação premiada feita por um empresário ao Ministério Público. Em outro caso, um repórter do Matinal recebeu ameaças após publicar uma reportagem de grande repercussão sobre um  estudo irregular feito no Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre. No caso, médicos manipularam proxalutamida em pacientes de Covid-19 sem o aval dos órgãos competentes. 

O que os três casos têm em comum? São denúncias graves e que precisam ser noticiadas, principalmente porque envolvem outras pessoas e ferem diversos direitos. 

E se as reportagens tiverem erros e calúnia sobre os acusados? Aí existe a justiça, para avaliar e aceitar processos contra quem estiver errado. Mas punir a imprensa sem dar oportunidade de fala, sem permitir que reportagens informem o público sobre o que está errado, isso sim é falta grave. 

Autor
[email protected] Mestre e doutora em Comunicação Social, a jornalista é CEO da Way Content Agência da Comunicação, especializada em turismo, gastronomia e estilo de vida, e fundadora do projeto Travelterapia, que divulga destinos, experiências e cria projetos de branded content. Em 2019 foi finalista da categoria Imprensa do Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo. Tem experiência como repórter e editora, e é freelancer de publicações como Viagem Estadão e Veja Comer & Beber. Trabalhou 12 anos na redação do jornal Zero Hora e produziu conteúdos para veículos como Sunday Independent, Hola!, Contigo!, Playboy, Veja, Globo.com e Terra. Também atuou por 10 anos como professora de universidades como Unisinos e ESPM, passando pelos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Produção Fonográfica. Atualmente pesquisa o papel da imprensa no desenvolvimento do turismo e já estudou em países como Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

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