Uma semana de censura (que tristeza)

Por Anelise Zanoni

27/08/2021 11:22
Uma semana de censura (que tristeza)

O que está acontecendo com a liberdade de imprensa? É uma reflexão muito pertinente a ser feita quando recordamos alguns fatos das últimas semanas. E, quando conhecemos os fatos, nós, jornalistas, temos que ficar muito decepcionados.

Depois de receber mais detalhes sobre as denúncias de assédio sexual que envolvem o ator Marcius Melhem, a revista piauí foi proibida de publicar uma reportagem sobre os desdobramentos do caso. O humorista é acusado por pelo menos oito mulheres, todas colegas de trabalho. 

Por meio de advogados, o artista entrou na Justiça pedindo a censura prévia da revista. E, claro, conseguiu!

Um detalhe: a revista é a mesma que publicou  uma reportagem sob o título "O que mais você quer, filha, para calar a boca?". Na época, foram ouvidas 43 pessoas para a construção texto, que revelou um lado obscuro e nada engraçado envolvendo o humorista. Há diversas evidências de que as histórias são reais.

Na minha opinião, a censura revela o medo do acusado e fere a constituição brasileira, que proíbe a própria censura. Casos de empresas jornalísticas e jornalistas censurados e ameaçados são cada vez mais comuns nos últimos tempos, inclusive no Rio Grande do Sul. Somente na última semana foram notificados dois casos, inclusive. 

A RBS TV teve uma reportagem censurada. Falava sobre a delação premiada feita por um empresário ao Ministério Público. Em outro caso, um repórter do Matinal recebeu ameaças após publicar uma reportagem de grande repercussão sobre um  estudo irregular feito no Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre. No caso, médicos manipularam proxalutamida em pacientes de Covid-19 sem o aval dos órgãos competentes. 

O que os três casos têm em comum? São denúncias graves e que precisam ser noticiadas, principalmente porque envolvem outras pessoas e ferem diversos direitos. 

E se as reportagens tiverem erros e calúnia sobre os acusados? Aí existe a justiça, para avaliar e aceitar processos contra quem estiver errado. Mas punir a imprensa sem dar oportunidade de fala, sem permitir que reportagens informem o público sobre o que está errado, isso sim é falta grave.