Viva cada minuto intensamente como se fosse o último

Por Márcia Martins

Esta não é a última coluna que escrevo (para desgosto de alguns que não gostam das minhas opiniões). Simplesmente porque não pretendo morrer ainda, não aos 62 anos (confessei a idade, mas ninguém diz), não tenho nenhuma doença terminal (apenas complicações da data de nascimento avançada) e não espero ser afastada da equipe do portal Coletiva (nunca tive nenhuma indicação deste movimento). Mas resolvi tecer pequenos comentários sobre a importância de se aproveitar cada minuto da vida como se fosse o último, com a maior intensidade, com impetuosidade e com toda a energia.

Depois de quase dois anos totalmente confinada em decorrência da Covid-19 e com meu esquema vacinal completo, tenho apostado muito nos reencontros com os amigos e amigas daqueles que guardo do lado esquerdo do peito. Não são tantos e tantas (porque tornei-me mais seletiva), mas são especiais e tem um valor inestimável e uma parceria fundamental na minha história. Porque a vontade de conversar, de receber afetos, de doar gentilezas, de ver os sorrisos escancarados sem a máscara que encobriu os rostos por muito tempo precisam ser supridas. 

Assim, agora eu ando pela cidade prestando muita atenção nas cores de todos os nomes, inclusive as cores de Almodóvar e de Frida Kahlo, e garimpando cafés legais, principalmente aqui pela Cidade Baixa, a fim de que eu possa ir caminhando, e chamar os amigos para jogar conversa fora. Ainda de máscara, porque mantenho os cuidados necessários uma vez que o Coronavírus segue a rondar nossos corpos, frequento locais fechados, sempre banhando as mãos no álcool em gel. E em breve, até vou me arriscar a entrar num cinema para uma sessão às 16h de um filme romântico.

Não sei se foi o isolamento, a saudade de familiares com quem eu convivia mais, a perda de pessoas queridas vítimas da Covid que me doem todos os dias, o silêncio de outras apesar de insistentes pedidos meus de atenção mais cotidiana, mas adquiri uma pressa surpreendente de viver, de esbanjar energia, de distribuir conselhos, de abusar de todos os momentos e viver todos eles como se fossem o último. Abandonei qualquer tipo de pudor de expor as emoções. Sem medo de expressar os sentimentos (até os negativos). Sem vergonha de falar o quanto alguém é importante para mim. Como se não houvesse amanhã.

Às vezes, desenvolvemos pequenos rancores de conversas truncadas, regamos sementes de raiva de partidas mal resolvidas, alimentamos tristezas de encontros que não ocorreram. E isso apenas interrompe novos encontros, atrasa a troca de carinhos, nos torna mais ásperos e mesquinhos. E perdemos instantes preciosos e chances de reverter qualquer encrenca que tenha gerado tais desavenças. Algo que a pandemia deveria ter nos ensinado (arrisco dizer que aprendi um pouco) foi a não relevar tanto essas animosidades e respondê-las com o vigor e a potência do instante vivido, do momento presente, da grandiosidade de estar respirando e sobrevivendo neste mundo.

 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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