No meio do burburinho de um restaurante acolhedor, Gabriel Besnos e Fernanda Aldabe escolhem cuidadosamente o que pedirão, ele gosta de vinho, ela aprecia coqueteis. Quem passasse por ali poderia pensar que estavam celebrando 18 anos de casamento. E, de certa forma, estão mesmo.
Mas o 'casamento' deles acontece dentro do escritório, onde a relação é muito mais que um contrato social: é uma parceria que começou em um pequeno apartamento e, hoje, ocupa 250 metros quadrados em um prédio no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Claro, como em qualquer casamento, não faltam as famosas DRs, aquelas discussões necessárias que garantem o alinhamento e a autenticidade da Bistrô, uma empresa que não só fala em diversidade, mas a vive em cada estratégia e projeto.
Criar uma agência com alma, identidade e, acima de tudo, propósito. Foi essa a receita da Bistrô, que começou com dois amigos da faculdade, alguns freelas e muitos jantares regados a sonhos. Foi assim que se consolidou como uma agência reconhecida por seu trabalho consistente, comprometido com causas sociais e uma cultura interna acolhedora, sem nunca perder o afeto e humor que marcaram a origem.
De freelas ao primeiro cliente fixo
Gabriel e Fernanda se conheceram ainda nos corredores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Ele mais voltado para o Design e direção de Arte. Ela, jornalista com tino para estratégias e tendências. A amizade nasceu no ambiente universitário, ganhou força em projetos paralelos e se transformou em uma parceria profissional quando ambos começaram a colaborar informalmente: ele criava, ela escrevia, vendia, coordenava.
?Eu vendia os freelas do Gabi. Aí, fazia um banner e a gente comia ele inteiro em um restaurante?, brinca Fernanda, referindo-se aos encontros no antigo Chez Philippe. Os trabalhos vinham de onde já tinham contatos, como a Radioweb, o colégio Israelita e algumas revistas institucionais, que eram feitas, muitas vezes, no pequeno apartamento de Gabriel, que também servia de escritório.
Foi ali que nasceu a ideia de criar um 'Bistrô de Design', uma metáfora que combinava bem com o espírito da dupla: artesanal, próximo, feito com cuidado. O nome Bistrô ficou. E a pequena empresa que fazia de tudo, de cartões a vídeos, começou a se consolidar com os primeiros contratos fixos, como o da Unisinos.
Crescimento com propósito
A Bistrô nunca foi imaginada como uma agência convencional. Isso porque Gabriel e Fernanda vieram do lado 'cliente' da Comunicação, e não de outras agências. ?A gente se formou resolvendo a dor, não criando campanha para prêmio?, resumiu Gabriel.
Esta mentalidade ajudou a moldar um negócio voltado para estratégia, posicionamento e narrativa, mais do que para slogans ou modismos. O crescimento veio de forma orgânica, puxado por recomendações de clientes satisfeitos, um modelo não tão usual no mercado, conforme destaca Gabriel.
?Aqui é um espaço onde as pessoas podem errar e, por isso mesmo, acontecem poucos erros?, afirma Flávia Ogawa, head de conteúdo da Bistrô, ressaltando a confiança que permeia a cultura da agência. Ela destaca o entrosamento do time, que trabalha majoritariamente em home office, e como isso fortalece o compromisso coletivo. Um exemplo recente dessa união foi durante a enchente de 2024, que afetou nove colaboradores, momento em que o apoio mútuo e o valor de cada indivíduo ficaram ainda mais evidentes dentro da empresa.
Campanhas para o setor educacional abriram espaço para novos mercados, como Moda, Varejo e Construção Civil. O contrato com o Canoas Shopping foi um divisor de águas: oito comerciais em um ano, ampla visibilidade e um salto na profissionalização.
Depois, vieram contas importantes como Albert Einstein (Comunicação Interna), Azo Construtora (SP), Dakota, Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gang, Imbralit (SC), Killing, Kolosh, Laguetto Hotéis, Redemac, Rede Bem Viver (PR), Uniodonto e Univates. Muitas delas permanecem até hoje no portfólio.
Uma agência com cara e voz
Mais do que uma carteira robusta, a Bistrô ganhou relevância ao abraçar causas sociais e políticas em um tempo em que isso ainda não era comum no mercado. O episódio da morte de João Alberto, no estacionamento do Carrefour, em 2020, foi um marco: a campanha 'Não vamos esquecer' reforçou a postura da agência diante de temas de diversidade étnico-racial e responsabilidade social.
Este viés se traduziu em práticas internas. A agência criou comitês de ESG, saúde mental, diversidade e inovação, contratou pessoas de perfis diversos, LGBTQIAPN+, negras, indígenas, neurodivergentes, e passou a estruturar ações que iam além do discurso. ?A gente sempre teve esse olhar diferente porque nunca quisemos ser iguais às outras agências?, diz Fernanda. ?Não viemos com a lógica do prêmio, mas com a da construção conjunta com o cliente.?
Consolidação nacional
Hoje, com cerca de 63 profissionais, a Bistrô atende projetos em todo o Brasil, inclusive no Paraná e em São Paulo. Tem clientes fixos, projetos de grande porte e atua em campanhas de Comunicação Interna, diversidade, ESG, conteúdo estratégico e identidade visual.
Além de Fernanda e Gabriel, a Bistrô conta com um time de liderança que fortalece a estrutura e os valores da agência. Juliana Lazuta, head de Cultura e Atendimento, é responsável por cuidar da experiência dos clientes e garantir um ambiente interno alinhado aos princípios da empresa. Leonardo Viana, head de Planejamento, lidera as estratégias que orientam cada projeto com propósito e consistência. Já Paula Flores, diretora Operacional, assegura a organização dos processos e o bom funcionamento das entregas no dia a dia da agência.
Mesmo assim, o espírito original permanece. ?A Bistrô ainda tem aquele clima do nosso primeiro apartamento?, diz Fernanda ao relembrar o lar de Gabriel, no início da parceria. O sócio completa: ?A gente continua sendo procurado por quem se identifica com nossa forma de fazer, com ética, cuidado, afeto e criatividade?.