Especial Consciência Negra: empreendedores da Comunicação

Coletiva.net conversou com dois empresários que, diante das oportunidades de mercado, abriram seus negócios

Marianne Gaspary e Michel Couto, empresários do segmento da Comunicação - Crédito: Reprodução/ Facebook

Com o desemprego formal em alta, o empreendedorismo cresce no Brasil, de acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Segundo os dados da instituição, a taxa de empreendedorismo no País é de 38% entre a população de 18 a 64 anos, o que equivale a aproximadamente 51,972 milhões de pessoas. E, ao analisar toda a população nacional, tem-se cerca de 24,76% que empreendem em algum tipo de negócio, ou seja, de um a cada quatro indivíduos. 

Na população negra, a realidade é ainda maior e, por isso, o empreendedorismo afro-brasileiro é uma potência de inclusão racial. No especial que antecede o Dia da Consciência Negra, que completa 50 anos neste sábado, 20, hoje, Coletiva.net conversou com dois empresários que, diante da realidade de oportunidades no segmento da Comunicação, abriram os seus próprios negócios. Trata-se de Marianne Gaspary e Michel Couto.  

Diversidade racial

Marianne é graduada em Design Visual pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e empresária. Ela é diretora da Patuá Estúdio, que tem foco na criação de soluções de Comunicação e Design para Afroempreendedores e negócios da Economia Criativa. "Tenho quase uma década de experiência em projetos de marca e me considero uma profissional em constante aprendizado, buscando estar sempre atualizada principalmente sobre comunicação, empreendedorismo, design e inovação", avalia.

Atualmente, ela tem se envolvido em ações que incentivam e promovem a diversidade racial, sendo integrante da Odabá, a Associação de Afroempreendedorismo, como diretora de Comunicação. Além disso, é consultora e associada do EmPODERafro, programa de consultorias de negócios da mesma entidade.

Marianne conta que os principais desafios do segmento estão ligados à questão de credibilidade e visibilidade, tanto por ser mulher, por ter entrado no mercado ainda muito nova, e por ser negra. "Ao mesmo tempo, comecei a atuar mais em um mercado que consegue me visualizar como uma profissional de referência", explicou. "Assim, também vejo as dores dos meus pares, que estão construindo os seus negócios, como eu quis construir de alguma forma há uns anos atrás." 

Ela pretende ir mais adiante nas questão das oportunidades, a partir de alguns questionamentos, tais como: de que maneira posso ajudar mais empreendedores e profissionais negros por meio da Comunicação dos seus negócios? "A partir desta reflexão, visualizei um novo rumo para o meu negócio. A ideia é, a partir do começo de 2022, começar a atuar mais com a parte de mentoria de Comunicação para negócios em estágio inicial."

Oportunidades no mercado da Comunicação

Segundo a empresária, ela tem visto que as oportunidades vêm aumentando. No entanto, os profissionais negros, que já estão no mercado, têm dificuldade de encontrar seus pares. "Em alguns grupos que participo, tenho visto divulgações de vagas que sinalizam a busca por profissionais negros em diversas áreas da Comunicação e acho que isso é uma importante chave para mudança."

Perguntada se, no Rio Grande do Sul, conhecia pessoas negras que atuavam em cargos de gestão em empresas de Comunicação, respondeu somente três: "Louinnie Dandara, Maurício Oliveira e Patrícia Carneiro", citou. Apesar disso, ela acredita que, de certa forma, enxerga-se como alguém que faz a diferença em representatividade. "Acho que, principalmente através da minha conexão com outros afroempreendedores que estão iniciando, ajudo a visualizar que é possível empreender criando uma rede de contatos, participando de eventos e fazendo parcerias que trazem bons frutos a médio e longo prazos."

O 20 de novembro

"É uma data significativa, mas a gente sabe que também é um dia de oportunismo pra quem quer dizer que apoia a causa, mas não faz mais nada o ano todo", desabafou. Ela disse que, nos espaços onde que tem abertura, solicita para que este dia, além de trazer mais diálogo sobre antirracismo, criem ações que possam perdurar durante o ano todo. "Que não seja só uma coisa de momento, mas o começo de uma transformação mais efetiva", finalizou.

O mercado de trabalho

Michel é publicitário e iniciou a carreira como vigilante, passando também por profissões como faxineiro e porteiro, funções que o enchem de orgulho. Em um dos lugares onde vigiava, situava-se uma agência de Comunicação e, no local, aprendeu a fazer designer gráfico. Após dois anos, tornou-se diretor de Arte nessa agência. Em 2009 foi demitido, momento em que decidiu empreender na comunidade onde cresceu, localizado na zona leste de Porto Alegre, no Morro da Cruz. 

A agência Formô - Comunicação e Negócios produz panfletos e cartões de visita, mas também faz pesquisa de mercado, cria marcas e identidades visuais. O negócio em si existe desde 2015, mas virou agência em 2018. Michel tentou criar no mesmo espaço um hub de negócios, juntando outros empreendedores para ter troca de experiências, no entanto, com a  vinda da pandemia, acabaram saindo. 

Agências elitizadas 

Segundo o empresário, a Comunicação é um segmento elitizado e, por isso, não se costuma ver negros como protagosnitas. "Graças a Deus, temos algumas pequenas referências como Alessandro Garcia, que foi diretor de criação da Agência Bistrô, e outros trabalhando em setores de agências", citou. Ele afima que, diante desses pequenos exemplos, os negros vão se inspirando e mostrando que podem, sim, ocupar espaços diversos, como diretorias e até astronautas. 

"Há muito glamour nas agências em altos cargos, mas no meu mundo abro uma porta para mostrar que a Comunicação é importante em qualquer lugar e que o que mais importa é o trabalho bem executado, que impacta", exaltou.  Para ele, precisamos de uma comunicação mais micro, potencializando muito mais pequenos mercados e fomentando a economia  local.

Segundo Michel, o Dia da Consciência Negra é para enaltecer talentos e gênios, pois muitas vezes a cor de pele tira as oportunidades. "É um dia de inspirar, admirar heróis e relembrar que ouve algo chamado escravidão, que reflete até hoje. Não importa se você é negro, cearense, japonês, mexicano, mas que posse ser tratado com igualdade apenas por ser humano."

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