Onda de demissões da Globo atinge profissionais gaúchos
Helio Alvarez, Jo Mazzarolo e Marcelo Canellas deixaram a emissora nesta semana
Desde o início desta semana, a Rede Globo promove uma série de demissões entre profissionais do Jornalismo. Entre os afetados, a reportagem de Coletiva.net apurou que três gaúchos foram desligados da empresa. São eles: Helio Alvarez, supervisor de Imagem e Áudio da TV Globo; Jo Mazzarolo, diretora de Jornalismo da Globo Nordeste; e Marcelo Canellas, repórter especial do Fantástico.
Em nota oficial, o conglomerado midiático salientou que possui "um compromisso permanente com a busca de eficiência e evolução", mas lamentou a despedida de profissionais que "ajudaram a escrever e a contar a sua história". "Isso, no entanto, faz parte da dinâmica de qualquer empresa", informa. O documento ainda relaciona os resultados da Globo com uma "constante avaliação do cenário econômico do País e dos negócios". "Como parte do processo de transformação pela qual vem passando nos últimos anos e alinhada à sua estratégia, a empresa mantém a disciplina de custos e investimentos em iniciativas importantes de crescimento", completa.
Os profissionais
Natural de Santana do Livramento, Helio Alvarez tem passagens pela Escala, pelo Grupo RBS, além das TVs Bandeirantes e Manchete. Formado em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), estava na Globo desde 1985. Atuou na cobertura da queda do Muro de Berlim, dos atentados de 11 de setembro, da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da guerra na Caxemira e do incêndio da boate Kiss. Viajou pelos Estados Unidos, produzindo reportagens para o 'Jornal Hoje', 'Bom Dia Brasil' e 'Jornal Nacional', além do 'Fantástico'.
Jo Mazzarolo nasceu em Veranópolis e ingressou na RBS TV em 1984, onde foi editora da sucursal para o 'Jornal Hoje' e 'Jornal Nacional'. Mudou-se para o Rio de Janeiro e assumiu como editora do 'Jornal Hoje', antes de ser realocada para o 'Jornal da Globo' e o 'Jornal Nacional', onde assumiu a chefia de produção. Depois de uma rápida passagem pela afiliada da Globo em Londrina, recebeu o desafio de unificar as praças nordestinas da emissora como diretora de Jornalismo da Globo Recife.
Na empresa havia 33 anos, Marcelo Canellas começou a carreira no Grupo RBS em 1987, em Santa Maria. Foi para o Rio de Janeiro como repórter especial da Globo em 1990 e cobriu momentos importantes da redemocratização do Brasil. Voltou a atuação aos direitos humanos e sociais, o que gerou a websérie jornalística 'Fome', quando viajou por seis estados para buscar personagens e histórias e compor um mapa da fome no Brasil. Seu trabalho de destaque mais recente foi a série documental 'Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria', disponível no Globoplay.
Fenaj e sindicatos se manifestam
Os desligamentos não passaram despercebidos pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e pelos sindicatos profissionais de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. As entidades assinaram um ofício, encaminhado à direção da Globo, que solicita uma reunião emergencial para discutir as demissões que ocorrem nas diferentes praças. Além disso, o documento sugere que as dispensas estão relacionadas a um caso de "etarismo", visto que os afetados são "profissionais com décadas de experiência".
Confira a nota na íntegra:
Em uma ação unitária, entidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, além da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), enviaram na última terça-feira (4 de abril) um ofício à Rede Globo reivindicando uma reunião em caráter urgente para tratar das demissões que começaram a ocorrer nos diferentes estados onde a emissora está sediada.
Na manhã do dia 4 de abril, enquanto o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro realizava uma assembleia da campanha salarial de Rádio e TV, jornalistas foram surpreendidos com as demissões que atingiram diferentes editorias do jornalismo da Rede Globo. Ao longo da tarde, mais desligamentos foram confirmados, incluindo as praças de Pernambuco e Minas Gerais.
Nas primeiras horas desta quarta-feira, 5 de abril, as demissões começaram a ocorrer em São Paulo: até o momento, ao menos seis jornalistas foram demitidos, mas a apreensão geral é que a direção da empresa anunciará mais cortes ao longo do dia.
Em reunião realizada com profissionais da emissora, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo salientou que a posição da entidade é a luta contra qualquer demissão, com a categoria resistindo coletivamente a esse verdadeiro desmonte de nossa profissão. Fica evidente também a posição etarista da empresa, com a demissão sumária de profissionais com décadas de experiência.
Diante disso, as entidades que representam jornalistas e radialistas planejam ações conjuntas para barrar as demissões, além de abrir um canal de comunicação com a Rede Globo: tal prática é, inclusive, uma obrigação de qualquer empresa que realiza demissões coletivas, como indica recente entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Não basta realizarmos as notas de repúdio contra as demissões. Iremos nos organizar com a categoria para resistir coletivamente às demissões e garantir dignidade a todas e todos os profissionais da Globo", afirma Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.