Vencedor gaúcho: Como foi produzir 'Quando a Gente Menina Cresce'

Em entrevista exclusiva, a diretora Neli Mombelli fala sobre o longa-metragem gaúcho ganhador do Kikito no Festival de Cinema

Neli Mombelli é diretora do longa-metragem ganhador do Kikito no Festival de Cinema - Crédito:Cleiton Thiele/Ag.Pressphoto


O cinema gaúcho celebrou um momento de grande emoção e reconhecimento com a vitória do longa-metragem 'Quando a Gente Menina Cresce' na categoria de Melhor Longa Gaúcho no Festival de Cinema de Gramado. O documentário, dirigido por Neli Mombelli, mergulha na intimidade e nas descobertas de meninas entre 9 e 12 anos em uma escola pública na periferia de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e tem se destacado por sua sensibilidade e abordagem autêntica.

O filme não é apenas uma obra cinematográfica, mas o resultado de um processo cuidadoso de construção de laços afetivos. Em entrevista exclusiva ao
Coletiva.net, a diretora Neli Mombelli detalhou como a equipe conquistou a confiança das jovens e suas famílias. Desde o início do ano letivo, a equipe se dedicou a uma série de oficinas audiovisuais, ensinando as meninas a manusear câmeras e microfones.

"Levamos as câmeras, os microfones, e fizemos um trabalho deixando elas se sentirem à vontade com o equipamento', contou Neli. Segundo ela, essa abordagem prática e lúdica não só desmistificou o processo de filmagem, mas também permitiu que as meninas se tornassem co-criadoras, participando ativamente da produção. A convivência quinzenal na escola foi fundamental para fortalecer os laços, transformando o relacionamento em uma troca genuína, onde a equipe ouvia e dialogava com as jovens, sem interferir excessivamente.

O documentário também lança luz sobre a realidade social da comunidade Renascença, em Santa Maria. A diretora ressaltou que, na ausência de postos de saúde ou praças, a escola se torna o principal ponto de encontro e referência para a população. A equipe de saúde,vinda da Vila Lídia, embora pequena e sobrecarregada, desempenha um papel crucial, atendendo a uma média de 5 mil pessoas por mês com apenas cinco profissionais. Ainda de acordo com Neli, essa ausência do Estado em diversas frentes faz com que a escola assuma um papel central na vida das meninas e de toda a comunidade, um cenário que o filme retrata "com sensibilidade, sem perder a crítica".

Torcida de casa

A vitória no Festival de Cinema de Gramado tem um significado ainda maior para a equipe, que atua fora das grandes capitais. "É muito difícil fazer cinema não estando nas capitais, parece um clichê, mas é um clichê real", afirmou a diretora. Para ela, a premiação é um reconhecimento que impulsiona e valida o trabalho de produtores do Interior do Estado.

O prêmio já está reverberando por toda a cidade de Santa Maria, com a população vibrando com a conquista. "Estamos há 29 anos trabalhando em Santa Maria e nunca na minha vida recebi mensagens como estou recebendo hoje", comemorou a diretora.

Neli finalizou a entrevista ressaltando a importância de fazer cinema a partir do próprio lugar de origem, valorizando as histórias locais que têm um apelo universal. "Podemos mostrar tantos mundos que cabem no mundo, há tanta história bonita para ser contada. Que a gente possa fazer isso do lugar de onde a gente vive e que a gente conhece bem".


A equipe de Coletiva.net acompanha o 53º Festival de Cinema de Gramado, realizado de 13 a 23 de agosto, na Serra Gaúcha. Nesta edição, o apoio é da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que enviou estudantes de Jornalismo e Publicidade e Propaganda para reforçar a cobertura. O público pode conferir matérias e entrevistas exclusivas sobre o evento no portal, repercutidas nas redes sociais - Facebook e Instagram -, além de drops em Coletiva.rádio.

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