O YouTube recentemente assinou, em conjunto com outras plataformas, um acordo de cooperação com o objetivo de evitar a propagação de notícias falsas on-line envolvendo as enchentes no Rio Grande do Sul. Entretanto, o NetLab, laboratório vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identificou que canais estão lucram com conteúdos publicados no site envolvendo fake news sobre a tragédia.
Foram constatados oito vídeos ainda monetizados pela rede social, que somam, juntos, mais de 2,3 milhões de visualizações desde maio. Nas publicações em questão, é exibido somente um texto sobre mudanças climáticas que serve como link para uma página da Organização das Nações Unidas sobre o tema.
No acordo assinado com o governo federal, as plataformas se comprometem a promover a ?integridade da informação? e o enfrentamento à desinformação, além de disponibilizar recursos e mecanismos de acesso a discursos e fatos oficiais sobre a situação no Estado. Nos termos de uso do YouTube ainda consta a proibição de anúncios em vídeos que contêm discursos negacionistas sobre as mudanças climáticas.
Uma das publicações, feita em 12 de maio, já conta com mais de 100 mil visualizações, e o dono do canal nega a relação entre o aquecimento global e o desastre natural. O autor do vídeo afirma que na catástrofe histórica de 1941 a emissão de gás carbônico (CO2) mundial era de 5 bilhões de toneladas, enquanto em 2024 o valor é superior a 35 bilhões, porém, como em ambos os momentos houve enchentes, a relação com as mudanças climáticas seria inválida.
Outras desinformações envolvem: a recusa de ajuda do governo federal de mantimentos vindos de portal, quando os mesmos passavam por uma triagem, a proibição por parte do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul no uso de jet skis nas regiões atingidas, já desmentida pela corporação; vídeos conspiratórios envolvendo previsões bíblicas; e a distorção de uma fala da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). A política disse que uma estimativa dos gastos necessários só poderá ser calculada após as águas baixarem, mas um vídeo sugeria que a mesma declarou que o governo não enviaria recursos para o Rio Grande do Sul antes do nível do Guaíba retornar à normalidade.
A diretora do NetLab, Rose Marie Santini, culpa as big techs por monetizar vídeos desinformativos e ainda relata que essa prática é perigosa por dificultar o acesso a informações verdadeiras durante a catástrofe. Ela afirma que o YouTube deve ser mais transparente na forma como modera conteúdos na plataforma.