Vídeos com desinformação sobre tragédia no RS são monetizados no YouTube

Embora plataforma tenha assinado um acordo de cooperação com governo para evitar notícias falsas, canais ainda lucram com fake news na plataforma

03/06/2024 11:00
Vídeos com desinformação sobre tragédia no RS são monetizados no YouTube /Crédito: Reprodução

O YouTube recentemente assinou, em conjunto com outras plataformas, um acordo de cooperação com o objetivo de evitar a propagação de notícias falsas on-line envolvendo as enchentes no Rio Grande do Sul. Entretanto, o NetLab, laboratório vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identificou que canais estão lucram com conteúdos publicados no site envolvendo fake news sobre a tragédia. 

Foram constatados oito vídeos ainda monetizados pela rede social, que somam, juntos, mais de 2,3 milhões de visualizações desde maio. Nas publicações em questão, é exibido somente um texto sobre mudanças climáticas que serve como link para uma página da Organização das Nações Unidas sobre o tema.

No acordo assinado com o governo federal, as plataformas se comprometem a promover a ?integridade da informação? e o enfrentamento à desinformação, além de disponibilizar recursos e mecanismos de acesso a discursos e fatos oficiais sobre a situação no Estado. Nos termos de uso do YouTube ainda consta a proibição de anúncios em vídeos que contêm discursos negacionistas sobre as mudanças climáticas.

Uma das publicações, feita em 12 de maio, já conta com mais de 100 mil visualizações, e o dono do canal nega a relação entre o aquecimento global e o desastre natural. O autor do vídeo afirma que na catástrofe histórica de 1941 a emissão de gás carbônico (CO2) mundial era de 5 bilhões de toneladas, enquanto em 2024 o valor é superior a 35 bilhões, porém, como em ambos os momentos houve enchentes, a relação com as mudanças climáticas seria inválida.

Outras desinformações envolvem: a recusa de ajuda do governo federal de mantimentos vindos de portal, quando os mesmos passavam por uma triagem, a proibição por parte do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul no uso de jet skis nas regiões atingidas, já desmentida pela corporação; vídeos conspiratórios envolvendo previsões bíblicas; e a distorção de uma fala da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). A política disse que uma estimativa dos gastos necessários só poderá ser calculada após as águas baixarem, mas um vídeo sugeria que a mesma declarou que o governo não enviaria recursos para o Rio Grande do Sul antes do nível do Guaíba retornar à normalidade.

A diretora do NetLab, Rose Marie Santini, culpa as big techs por monetizar vídeos desinformativos e ainda relata que essa prática é perigosa por dificultar o acesso a informações verdadeiras durante a catástrofe. Ela afirma que o YouTube deve ser mais transparente na forma como modera conteúdos na plataforma.