Andrea Schüür: Olhar à frente dos desafios

Do Atendimento ao Marketing, publicitária reencontrou seu propósito indo parar do outro lado do balcão

Andrea Schüür - Divulgação

Por Cinthia Dias

As lagartixas são da família Gekkonidae, do grupo dos répteis, mas isto somente no reino Animal, porque na casa da publicitária Andrea Schüür elas são pertencentes às famílias de seu sobrenome e do marido, Fernando Macagnan. Desde quando as filhas do casal, Fernanda, 28, e Martina, 23, nasceram, a alcunha é o chamamento preferido da matriarca, fazendo com que a família toda o abraçasse também. O motivo está no fato de terem vindo ao mundo bem esguias e com os dedos cumpridos. Ao contrário dos bicos e fraldas, que ficaram no passado, o apelido se consolidou e, hoje, faz com que carregue suas herdeiras no pescoço e no pulso em forma de pingente e tatuagem, respectivamente.

"Minha maior fonte de aprendizado são elas", resume, referindo-se à dupla que quase seguiu os passos profissionais da mãe. Formada em Direito e apaixonada pela área tributária, a mais velha estudou um ano de Design, enquanto a caçula tentou Publicidade e Propaganda por dois anos e migrou para o curso de Arquitetura e Urbanismo. Andrea sente orgulho de apresentarem um comportamento de desprendimento aos bens materiais. "São extremamente do bem, leves e com filosofias de vida muito parecidas", caracteriza-as, lembrando a prática ciclística de Nanda com o marido Gabriel e os voluntariados de Martina pelo mundo.

Casada com o neuroanestesista Fernando há 30 anos, o relacionamento é regado à parceria desde que se apaixonaram em Porto Alegre, onde ambos vieram estudar, deixando para trás a cidade natal, Cruz Alta, em datas diferentes. No início, morou com duas amigas, mas não demorou muito para se acertar com o amado e passarem a dividir o mesmo teto. Da vida de recém-casados, lembra a vez que foram para o Interior e ganharam um filé e um pedaço de alcatra. "O Nando disse para dar a segunda carne para a faxineira e separar o filé para fazer uma janta especial, mas confundi os pedaços", conta, às gargalhadas.

A filha de Henrique e Branca confessa que o marido sofreu um pouco em sua mão no início da relação, mas que basta olhar para as filhas adultas para ver que todos sobreviveram. Os quatro dividem bem a cozinha, tendo cada um uma especialidade que lhe agrada: a salada de manga com palmito e nata e o churrasco do gordo - apelido carinhoso do médico; as invenções da Martina com o que tem na geladeira; e o molho de cachorro-quente e a maionese com manjericão da Fernanda. Além disso, compartilham a paixão pela banda britânica Pink Floyd.

Apesar de o casal ser totalmente independente, o que se deve às rotinas agitadas, declara que fazem praticamente tudo junto e prezam por estar junto dos familiares - entre eles, seus irmãos Cláudio e Renato - e amigos no sítio em Gravataí. Aos finais de semana, o lugar de encontro está sempre movimentado e garante que só recebe quem gosta muito, pois detesta chamar as pessoas por obrigação. O recanto de descanso também é composto por uma horta, que recorre para "brincar de fazendinha". "É um momento solitário bom", explicou, completando que entre as flores, os lírios brancos são os preferidos. "Minha marca registrada."

Grata surpresa

Ao assumir a gerência de Comunicação e Marketing da Santa Casa, em agosto de 2016, Andrea pôde reencontrar seu propósito profissional e implantar novidades, como a plataforma digital, as ações de endomarketing e a unificação entre as áreas de sua competência. Ainda, passou a usar o método de Design Thinking e criou o núcleo digital, responsável pelo relacionamento na internet. Tudo isso credita aos 20 colaboradores com quem divide a difícil missão de atender aos sete hospitais do complexo e uma instituição que abriga pacientes carentes, a casa de apoio.

Diariamente, transitam pela Santa Casa 25 mil pessoas, o que aumenta a responsabilidade do departamento. A partir desse entendimento, coloca em prática, junto da equipe, o conceito 'Jeito Santa Casa de Ser', que visa a incentivar o atendimento com mais humanismo, gentileza e afeto. O slogan foi desenvolvido pela área de Gestão de Recursos Humanos, sob gerência de Viviane Furquin. Sente orgulho de pertencer à instituição e dos profissionais com os quais atua. "Eles são como gremlins, quanto mais eu rego, mais eles se multiplicam", brincou, acrescentando que, com a dedicação do grupo, realizam uma "entrega incrível para a imagem da instituição".

O que passou

O universo da Propaganda foi lhe fascinando ao longo da transição entre a infância e adolescência, quando os intervalos comerciais eram mais atraentes do que os conteúdos da grade de programação. Porém, a entrada na área não se deu pela graduação, na qual optou pela Administração na PUC, com encerramento em 1997, mas pelas especializações, pós-graduações e MBA em Comunicação e Marketing. Se existe uma palavra que defina o período da faculdade é superação, pois frequentou inúmeras aulas com a primogênita a tiracolo. Junto a isso, estava esperando a caçula. "Não tínhamos com quem deixar a mais velha, porque nossas famílias são do Interior e o Nando fazia residência", pontua, destacando o professor Max Lacher pela receptividade e entendimento com a situação.

Os primeiros passos da carreira foram no empreendedorismo, lançando, assim que deixou a PUC, uma consultoria em Marketing com uma colega que, pouco tempo depois, transformou-se na extinta Danke. Na agência, iniciou como diretora de Atendimento e, depois, sócia ao lado do publicitário Roger Silva. Tinham como cliente a ESPM-Sul, a qual caracteriza o período como de muitos aprendizados acadêmicos e profissionais. "Uma grande escola e sou grata pelo diretor da época ter apostado na gente." Como tudo uma hora acaba, no caso de Andrea a sociedade chegou ao fim após 11 anos de trabalho com clientes como Laboratório Weinmann e Petiskeira. Quando decidiu se desligar, tinha como norte trilhar um novo caminho no segmento.

Após um período de autoconhecimento e de breve prospecção, foi contratada pela DeBrito Sul, cuja atuação se deu em menos de dois anos. De lá, estreou na Escala com o intuito de conduzir o núcleo de diretoria dos clientes de serviço e varejo qualificado, atendendo Diário Gaúcho, Lebon, Savarauto, Unimed RS, Unisinos e Zero Hora. Deste período, faz questão de ressaltar a admiração pelo publicitário e sócio-diretor da agência, Miguel de Luca, que lhe ensinou muito. "Foi um momento de grandes aprendizados com uma equipe madura e de excelência profissional."

O que ainda está por vir

Mesmo fora da DB Sul, manteve o contato com a ex-chefe Liana Bazanela. Entre uma taça e outra de espumante, a dupla percebeu que estava caindo de maduro estabelecer um Grupo de Atendimento no Rio Grande do Sul. Apaixonadas pela atuação do profissional do setor e totalmente alinhadas nas premissas que buscavam defender junto ao mercado sobre a função, nasceu o coletivo. Conforme Liana, a Deia, como carinhosamente a chama, foi fundamental para tirar a iniciativa do papel. "Tenho um carinho muito grande por ela. Sabe aquele sentimento que temos por uma irmã mais velha? Essa é a minha percepção dela", acrescenta.

Para tanto, procuraram o presidente da época do GA de São Paulo, Márcio Oliveira, a fim de que pudesse orientá-las nessa aventura. Após uma ida à capital paulista, o executivo se colocou à disposição, além de compartilhar como funcionava o projeto. Determinadas, retornaram para Porto Alegre com a certeza do que queriam. Como resultado, as duas lançaram o GA-RS na Semana ARP, com apoio do então presidente da entidade, Fábio Bernardi.

Inspiradas no modelo paulistano, a presidente do coletivo, Andrea, e a vice, Liana, deram início ao calendário, que se mantém agitado até hoje, de eventos e formações em prol dos atendimentos. Entre eles, estão o projeto Tá na Pauta, que reunia convidados para conduzirem discussões de temas relevantes ao mercado; e a realização do primeiro Encontro Nacional de Atendimento, durante o Festival Mundial de Publicidade de Gramado. Prestes a completar dois anos à frente do GA-RS, surgiu a oportunidade para deixar a Escala e assumir o Marketing da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o que acarretou na transição prematura da presidência.

Ao sair do coletivo, começou a se sentir sozinha, não pela ausência de eventos ou pelos colegas com quem convivia, mas pela falta de ter com quem compartilhar sobre a área de Marketing. Diante desse sentimento, percebeu que existem muitos grupos tentando se reinventar para atender às mudanças de um mercado, do qual, hoje, ela faz parte, mas que não dialoga com ele. "Há uma conversa acontecendo somente no meio publicitário, que é quem atende estes profissionais e marcas." A partir dessa noção, começou a organizar um grupo, não no formato de presidência, mas semelhante ao do Clube de Criação, a fim de adiantar as tendências e oferecer informação com curadoria. "O olhar lá na frente é o que é necessário", diz, resumindo sua vontade, ainda que ela não tenha previsão para lançamento.

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