Alex Bagé: Construído a desafios

Aos 43 anos, as lembranças da infância humilde e o reconhecimento profissional que conquistou são os principais orgulhos do jornalista

Alex Bagé - Divulgação

"Na verdade, eu sempre quis trabalhar com rádio." Essa foi a primeira frase de Alex Bagé para demonstrar seu amor pela Comunicação. O jornalista conta que, quando criança, a brincadeira com os amigos era simular uma jornada esportiva, tanto quando os jogos eram de rua, quanto quando eram de botão. Narração, reportagem e comentários, tudo como se fosse uma transmissão ao vivo. Bagé, que tem, até hoje, uma paixão pelo veículo, considera que a mágica está na proximidade que parece estabelecer com os ouvintes. 

O objetivo demorou um pouco a se concretizar. Na adolescência, formou-se como técnico em Contabilidade e iniciou a vida profissional em escritórios, trabalhando das 8h às 18h. O salário era bom, mas não o fazia feliz. A situação se perdurou até completar 27 anos, momento em que ele teve certeza de que conseguiria arcar com as despesas da graduação e pôde investir no Jornalismo. Engana-se quem pensa que ele, em algum momento, duvidou que ia conseguir alcançar o que tanto desejava. Muito pelo contrário. Alex Bagé não trata suas metas como sonho, mas como foco. Ele garante que é isso que faz com que todas as dificuldades da infância e adolescência pobres tenham valor. 

"Eu só precisava de uma oportunidade", atesta, complementando que sabia o caminho para alcançar o reconhecimento profissional que almejava como jornalista. "Nunca quis ser melhor do que ninguém, nem mais famoso. Meu intuito era ser visto pelas pessoas que eu admirava pela minha capacidade", afirma, e relembra seu início de carreira, como estagiário da Rádio Guaíba. Ele conta que era perceptível a diferença que havia entre ele e os colegas, referindo-se ao fato de que todos eram mais jovens, tinham aproximadamente 20 anos, e já estavam na fase de conclusão da faculdade. "A indecisão deles era quanto ao presente de formatura. Uma viagem para a Disney ou um carro?", exemplifica, e acrescenta que, nesta época, já era casado e pai.

E é uma frase do seu pai, que não teve o nome citado, já falecido, a quem homenageou com tatuagem no braço direito, que sempre o inspirou nesse sentido: "O legado de um homem não é o quanto de dinheiro ele conquista, mas quantas pessoas ele consegue impactar com o que faz". Ao relembrar, confirma que isso já é uma meta atingida. Atualmente, saindo de casa às 6h da manhã e se dividindo entre o trabalho na Band RS, onde atua na Band TV e na Rádio Bandeirantes, a presidência da Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg), uma loja de móveis planejados e uma agência de publicidade, das quais é sócio, Bagé declara achar fantástica sua rotina. E diz ainda que não consegue pensar nela sendo de outra forma. Além disso, cuida também das redes sociais e do seu canal do YouTube.

Família e orgulho 

Nascido em Bagé e criado no bairro Restinga, Zona Sul de Porto Alegre, Alex Sandro se orgulha de sempre ter tido em seus pais o exemplo de honestidade. Uma situação citada por ele como sendo exemplo foi o dia em que a mãe o pegou pela mão e embarcou em um ônibus em busca de trabalho. Empregada doméstica, ela o levou até um bairro que era conhecido pela grande oferta. "Era um dia de muito calor. Já tínhamos batido palma em algumas casas, mas o sim ainda não tinha aparecido. Um pouco à frente, avistamos uma senhora regando as plantas. Minha mãe pediu para que ela nos deixasse beber água da mangueira que usava e ela nos convidou para entrar", narra, para contar que o convite resultou em um refresco gelado e uma oferta de trabalho, o que ajudou a família por muito tempo.

Quem o acompanhou durante sua construção foi a esposa Silvane. Conforme conta, o centro da vida com a família é sua carreira e, se oportunidades irrecusáveis surgirem em outra localidade, eles já estão combinados de não deixar passar. "Ela é a maior fã que tenho. Parceira em tudo e nunca deu palpite em nada. Vibra comigo a cada conquista", reconhece, ao admitir que é difícil a convivência com ele e que até as férias são planejadas conforme o período de jogos e dos compromissos com a Aceg.

O maior orgulho é saber que a realidade das duas filhas é diferente. A mais velha é Laysla, que tem 25 anos, é fisioterapeuta e mora em Santa Catarina, onde também está a neta Manu, de um ano, a quem Bagé declara todo o seu amor. Programado para vê-la pelo menos a cada dois meses, o avô-coruja garante que, se fosse possível, dedicaria mais tempo a ela. A caçula é Amanda, de 21.

Desafios da profissão

Um momento recordado com carinho por Bagé é a lembrança de quando o Iraque ganhou a Copa da Ásia, em 2007. O treinador da seleção era o brasileiro Jorvan Vieira, que teve apenas dois meses para preparar a equipe, composta por atletas que perderam familiares na guerra - o que impedia o time de jogar no próprio país. Mesmo com os desafios e com o pensamento de desistir da final, após um homem-bomba matar 30 fãs em Bagdá, os iraquianos conquistaram o título com uma vitória sobre a Arábia Saudita. Isso rendeu o desafio de que o jornalista produzisse uma matéria através do olhar dos comentaristas, algo que ele não achou conveniente. Fez diferente. Após ler algumas matérias, contatou um comunicador de São Paulo, que forneceu para ele os contatos de Jorvan Vieira. E a matéria, segundo conta, nunca mais foi esquecida.

Outra situação que marcou sua carreira foi a queda do avião da TAM, também em 2007, um voo que saía de Porto Alegre para São Paulo. O jornalista lembra que estava deixando a redação, quando foi solicitado que ele fosse ao aeroporto para reportar as movimentações após a fatalidade. Com a orientação de conversar com os familiares, o que mais recorda é de que muitos estavam em choque, outros entendiam que os jornalistas não estavam com má intenção. Horas passaram e nada da lista com os nomes de quem estava no voo. A situação se agravou quando quem aguardava por respostas foi encaminhado para um hotel. Acompanhado do motorista da Guaíba, Bagé seguiu o ônibus que conduzia os familiares das possíveis vítimas, para onde ficariam confinados em um centro de convenções. Foi por meio de um abaixo-assinado, idealizado por um advogado que fazia parte do grupo, que todos puderam ter acesso aos nomes sendo divulgados ao vivo. 

E, enquanto lembra dessas marcas, Bagé é categórico: "A pior coisa que me aconteceu foi ter conhecido quem eu admirava". A frase surgiu para sentenciar a troca de profissões, da Contabilidade para o Jornalismo. O profissional recorda que, ao ter a oportunidade de conviver com os profissionais a quem ouvia, acabou por entender que nem todos são o que transmitem. "Tive um choque de realidade", lamenta. Por outro lado, reconhece que foi a partir disso que começou a observar o trabalho daqueles que eram tão legais no microfone quanto fora dele. Rememorando a oportunidade de cobrir jogos da seleção brasileira, o jornalista confidencia que sempre buscava um lugar próximo de profissionais reconhecidos  para fazer com que eles o notassem. "Eu estava com um crachá de imprensa, assim como Silvio Luiz, Luciano do Valle e Juca Kfouri. Óbvio que eu não ia me esconder", salienta.

Futebol, samba e futuro

Apaixonado pelo esporte, mesmo que ainda não se sinta confortável para manifestar-se com relação ao time do coração, evitando usar roupas que causem questionamentos e comprar carro com uma das cores que identifica a dupla Grenal, Bagé confessa que nunca foi fanático. Em compensação, tem uma foto de quando criança que usará no dia em que decidir se identificar como gremista ou colorado. "Não visto a camisa há mais de 18 anos. O dia que eu contar, vou poder dizer que é desde pequenininho", brinca.

Compositor de samba-enredo, já teve três de suas letras selecionadas no mesmo ano. Ele recorda que, em três dias, precisou participar dos desfiles de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. "É uma honra entrar na avenida com as pessoas se identificando com aquilo que tu escreveste", orgulha-se. O jornalista conta que, sempre que pode, participa das competições, que são promovidas nas escolas de samba, para eleger a melhor letra. Mesmo já tendo conquistado o espaço na Capital Gaúcha em mais de uma escola, confessa que a sua do coração é a Estado Maior da Restinga, que o acolheu aos 11 anos, quando desfilou pela primeira vez como ritmista na bateria e o grupo foi Campeão do Carnaval. "Em 2011, quando fui diretor de lá, pude retribuir o que fizeram por mim, através de projetos sociais", detalha. Sua percepção é de que é possível estudar e conhecer muitas histórias através das letras que passam pelos sambódromos. 

Além de samba-enredo, também compõe letras de pagode, as quais deixa com produtores. Atualmente, duas músicas circulam na mão de aproximadamente 15 responsáveis, e estes oferecem para nomes como Thiaguinho, Pixote, Belo, Sorriso Maroto, Adriana Calcanhotto, Ana Carolina, Roupa Nova e Dilsinho, que é amigo de Bagé desde o início da carreira de cantor.
Aos 43 anos, menciona que seus objetivos são ter espaço para apresentar um programa de televisão, narrar futebol e, quem sabe, trabalhar fora do Rio Grande do Sul. Outro projeto que tinha era escrever um livro sobre a profissão, algo que ele acredita que renderia muitos processos, porque contaria verdades e situações vividas enquanto jornalista. "Não publicaria sem citar nomes. Com certeza arrumaria confusão", pondera. Por isso, após conversar com Zé Vitor Castiel, para que ele avaliasse a possibilidade de criar uma palestra com as anotações que guarda em seu escritório, ouviu a sugestão de levar o material para o StandUp Comedy. Inicialmente, a ideia enfrentou resistência do autor, pois não se considera engraçado, mas, desde janeiro de 2019, cedeu e agora admite que a atividade vem lhe dando muito prazer. "Não me dedico como gostaria, mas uma vez por mês estou metido em algum lugar. Me faz bem", conclui.

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