Alexandra Zanela: Entre causas e batalhas

Independente e intensa, jornalista e sócia-fundadora da Padrinho Conteúdo é apaixonada por gente

Alexandra Zanela

Imagine uma guriazinha que aprendeu a tocar violão e adorava presentear as pessoas. O jeito que encontrou foi fazendo uma serenata a cada casa que visitava. Essa é a jornalista Alexandra Zanela, sócia-fundadora da Padrinho Conteúdo, conhecida por Ale, apaixonada por gente e que transborda humanidade e devoção. Uma menina, filha do falecido cerealista Dirceu, que não se encaixava no local onde nasceu (uma comunidade rural do norte do Estado, chamada Capinzal), e que se tornou logo cedo uma mulher cujo propósito é viver para batalhar pelas causas nas quais acredita. Com o lema de vida "Vai com medo e tudo", desde cedo foi muito independente - mesmo antes de ir morar sozinha, aos 14 anos.

À frente de uma empresa de Comunicação, vale-se do poder de gestão para lutar por uma sociedade mais justa. Por isso, não é raro vê-la apoiando algum projeto cultural ou discursando a favor das minorias. Porém, dentre tantas batalhas, aquela que se tornou o propósito da vida é o feminismo. Tem trabalhado muito sobre as mulheres e o espaço que ocupam no mercado de trabalho, enquanto realizar um mestrado com uma tese sobre a temática está nos planos. Contudo, o que a fez entender melhor este enfrentamento aconteceu logo no início da carreira de jornalista. Ale atuou por um período com duas editorias consideradas masculinas: Polícia e Política. "Foi muito difícil esse início, porque tive que me impor muito", revela.

Por elas

A luta ultrapassa o exercício da profissão. Na música, tem dado muita atenção a nova geração de cantoras, como Tulipa Ruiz e Ana Cañas - que não tem rótulo de apenas um gênero. No passado, escutou muito rock - considera-se uma "beatlemaníaca", e as roupas pretas e o cabelo longo fizeram parte da adolescência, mas, há alguns anos, percebeu, que existe um mundo inteiro de novas possibilidades. Na playlist, podem ser encontradas composições e melodias de MPB, como Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso e Gilberto Gil; do movimento cultural Tropicália, além de samba. Inclusive, tem por hobby colecionar discos de vinil, chegando a ter mais de 200 títulos. Um dos favoritos é o 'Acabou Chorare', dos Novos Baianos.

No entanto, a dedicação à causa feminista não para na cultura musical também. Apaixonada por leitura, tendo em casa uma biblioteca enorme e uma pilha de livros nos braços do sofá, além de um Kindle, acompanha o trabalho de escritoras. Além deste, muitos outros compõem o repertório - inclusive, com leituras simultâneas. Aficionada por Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, também tem todos os livros de Nelson Rodrigues. A lista da leitora voraz, que tem por prazer rabiscar as obras, ainda contempla Charles Bukowski e Fiódor Dostoiévski - autor da publicação que mudou sua vida: 'Crime e Castigo'.

Workholic em recuperação

"Nasci jornalista", diz, ao ser questionada sobre o caminho profissional que escolheu trilhar. Quando tinha seis anos, fazia um jornalzinho recortado e escrito à mão sobre a comunidade onde morava e, ainda, ia para a porta do supermercado e questionava o que as pessoas tinham comprado ou iam fazer para o jantar. Até chegou a prestar vestibular para Psicologia, muito mais para contentar a mãe, a professora Nely, mas nem fez a matrícula.

Diante de diversas dificuldades, como a sensação de não se sentir inserida no meio e ter um dialeto diferente dos colegas, pois trocava o som das letras R, formou-se na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na época, trabalhou durante toda a graduação em assessorias de imprensa e em uma rádio da região chamada CDN, na produção. Ainda, atuou na mesma função de um jornal da Rede Pampa da cidade universitária - totalizando dois trabalhos ao mesmo tempo, adicionados ao período que passava na faculdade.

Ale também trabalhou para o Diário de Santa Maria. Depois de três anos, foi chamada para a área digital do Diário Catarinense (na época, do mesmo grupo, RBS), onde passou a atuar como editora. Após anos em solo catarinense, recebeu uma proposta para ser executiva de notícias do Terra. Movida a desafios e com o desejo de se tornar executiva de uma grande empresa, aceitou e voltou ao Rio Grande do Sul, mas, desta vez, à Capital. Em 2013, em uma conversa com o amigo de longa data Carlos Ferreira, resolveram abrir o próprio negócio juntos. Foi então que surgiu a Padrinho.

Apaixonada por gestão e pelo trabalho que exerce, demorou a entender que as horas dedicadas a ele estavam fora da curva e passavam do limite. "Toda a minha energia estava ali", diz, ao revelar que o hábito acabou acarretando, em 2016, em 22 dias de crise de pânico. "Não entendia o que estava acontecendo, até que tive um princípio de infarto. Passei um mês enfiada na cama, no escuro, e foi um marco muito forte na minha vida, pois acabei repensando ela", relata.

Como todo jornalista, a irmã mais nova de Silvia é uma boa contadora de histórias, visto que já passou por diversas situações - desde as mais desafiadoras até as mais engraçadas. Certa vez, estava no Terra, como executiva de notícias, quando saiu uma decisão de um acordo entre o jornalista Paulo Henrique Amorim e um colega de profissão. Contudo, o repórter do portal escreveu que o apresentador de televisão tinha perdido, e tinha que pagar indenização, e a matéria foi parar na capa. Amorim, então, ligou à redação com o intuito de reclamar o erro, e passaram o telefonema para ela. Acabou ficando três horas nesta ligação, na qual pediu desculpas e concordou com o erro. "Ele perguntou se tinha sido eu que escrevi e neguei, dizendo que foi um repórter. Então, me disse: mas a culpa é sua, pois foi você ou alguém que tava na sua vaga que o contratou", conta, divertindo-se. Resultado? O profissional gostou tanto dela que ofereceu até um emprego, mas Ale gentilmente declinou.

Além do Jornalismo

Multifacetada e curiosa, além de jornalista, também trabalha como cerimonialista e facilitadora de eventos, principalmente os que são ligados à tecnologia. Apaixonada por cultura e filmes, em 2018 foi júri do Festival de Cinema de Santa Maria, e um ano depois se tornou curadora. Obras cinematográficas sobre Arte integram o repertório da cinéfila, que ainda vê curtas e médias-metragens. De tanto acompanhar este mundo, em 2019 teve uma surpresa: passou a integrá-lo. Ale participou de um documentário sobre sua vida, intitulado Alexandra. "Já imaginei de tudo, mas este projeto nunca passou pela minha cabeça", garante.

O contraponto é ver muitas séries, especialmente as que são em língua espanhola. "São novelões, divirto-me muito", confessa. Acabou de assistir à 'Casa de las flores', mexicana, enquanto se encantou com a espanhola Merlí. Quando deseja se desligar da rotina e não pensar em nada, zapeia atrás de "tranqueira na televisão", como programas de reforma e culinária.

Inquieta e intensa

A pequena, com 1,64m de altura, tem uma grande alma, tanto que uma de suas qualidades é "colar pessoas". Está fazendo um experimento com gente que não tem nada a ver uns com os outros irem na sua casa, com o intuito de tornar as conversas mais plurais. Descobriu na terapia que gosta muito de fazer e criar para os outros. Também se define como uma mulher muito curiosa, alegre, que ama a vida, inquieta e que coloca intensidade em tudo, pois adora viver e fazer o coração pulsar.

Há mais de três décadas, carrega uma mania: agarrar um cobertor com borda de cetim que a amparava na infância quando a mãe saía de casa para estudar. Hoje, é seu companheiro fiel, considerado por ela como um calmante. Caseira, gosta de dormir tarde e tem sérias dificuldades para acordar cedo. Sempre tira um momento da noite para estudar algo. Quando não está na academia, realiza meditação ativa - técnica que associa atividade e expressão aliadas ao silêncio. Também tem andado de bicicleta, pois tem deixado os exercícios ao ar livre entrarem na rotina. Com o maior defeito sendo a ansiedade, aos finais de semana, está tentando se desconectar um pouco. Quer respeitar esses dias para a pessoa física, pois acabou passando muito tempo interessada somente na jurídica.

Divide o apartamento, localizado Centro Histórico da Capital, com o companheiro, o advogado, filósofo e escritor Sérgio Canarim. O casal, que está há oito anos juntos, optou por não ter filhos. Mas isso não quer dizer que não dividem a casa com mais alguém. Gateira, não tem um felino no momento, pois há pouco perdeu dois e está se recuperando, mas confessa que logo logo terá outros. A paixão é tanta que tem uma tatuagem dedicada aos gatos. Além desta, tem mais quatro desenhos na pele: uma âncora, um coração florido - ambas que ilustram o que ela deseja ser -, bem como uma flor no ombro e uma mulher madura no meio de um jardim. A próxima? O símbolo do feminismo, é claro. Afinal: na luta, sempre.

 

 

 

 

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