Alexandre Garcia: Necessidade de comunicação

Apresentador e colunista político deixou o interior do Rio Grande do Sul para se tornar um dos nomes de destaque do jornalismo nacional

Alexandre Garcia - Reprodução

Filho de pai radialista, aos sete anos de idade era natural que já encarasse os microfones. Das lembranças da infância, Alexandre Garcia conta com carinho sobre a fase em que subia no telhado de casa, em Cachoeira do Sul, para apresentar seu próprio noticiário aos vizinhos que o pudessem ouvir com o megafone improvisado. A prática precoce rendeu-lhe uma profissão sólida na Comunicação e, hoje, o jornalista, apresentador e colunista político é um dos nomes de destaque do Jornalismo nacional.

Formado pela Famecos há mais de 40 anos, conta que a necessidade de comunicação sempre lhe acompanhou, e a influência do pai, o uruguaio Oscar Chaves Garcia, já falecido, não deixou dúvidas de que seria comunicador, afinal, "tudo é genética". Embora convicto da profissão a seguir, chegou a ingressar no funcionalismo público, onde, por 10 anos, trabalhou no Banco do Brasil, concurso no qual passou em primeiro lugar. "Achava que tinha acabado essa história de trabalhar no fim de semana, mas não adiantou." E o então estudante de Jornalismo deixou a sólida carreira para integrar a equipe da sucursal do Jornal do Brasil, em Porto Alegre. "Penso que foi bom ter começado com 30 anos, porque já estava maduro para a profissão", analisa.

Carreira meteórica

Foi já na primeira missão internacional à qual foi designado que mostrou ao que vinha, quando sua reportagem sobre o fechamento do Congresso uruguaio em 1973 virou matéria de capa e, assim, carimbou seu passaporte para o futuro e deu início à sua carreira meteórica. Na imagem publicada, Alexandre entrevistava o então presidente do Uruguai, Juan Maria Bordaberry, e lembra com detalhes que a notícia havia sido veiculada em um domingo, ou seja, dia de maior tiragem. "Tinha duas fotos: uma de Elisabeth Taylor casando com Richard Burton e a segunda era eu conversando com Bordaberry. As imagens eram do mesmo tamanho. Ganhei o posto", recorda.

Mesmo empregado pelo JB, confessa que, na época de estudante, sonhava em trabalhar no Correio do Povo, desejo que nunca se realizou, pois foi "o maior jornal do País que me deu a primeira oportunidade". Ele destaca, ainda, que foi por esta empresa que teve as grandes chances no início da trajetória, ao mencionar que a cobertura no Uruguai foi um "golpe de sorte, pois só tinha voo de Porto Alegre para Montevidéu".

No começo, além do curso de Jornalismo, Alexandre carregava na bagagem as experiências da adolescência, quando, somado ao noticiário no telhado, interpretava papéis infantis em radionovelas e transmitia a missa na cidade natal, aos 15 anos. No Jornal do Brasil, ficou por três anos na área do Rio da Prata para, depois, embarcar para Brasília.

Missão dada é missão cumprida

Sobre o fato de atuar com Política e Economia, Alexandre demonstra humildade ao dizer que apenas "cumpre missões" e que foi por acaso que ingressou nas editorias. Ao chegar à capital federal, foi convidado pela diretoria do jornal a coordenar o noticiário econômico. "Era o auge da movimentação da Bolsa de Valores e ninguém sabia o que era aquilo. Dei-me conta de que precisava me tornar necessário. Vi que o caminho era esse."

Na Globo desde a década de 1980, o jornalista apresentou um quadro sobre Política no Fantástico, foi repórter especial do Jornal Nacional, do Jornal Hoje e do Jornal da Globo. Atuou como diretor de Jornalismo da TV Globo Brasília e, em 1993, estreou no Jornal da Globo como comentarista político. Participou das coberturas de eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010 e é autor do livro 'Nos Bastidores da Notícia', lançado pela Editora Globo, em 1990. Entre as atividades que exerce atualmente, assina artigos para 15 jornais do País e faz comentários políticos para mais de 260 emissoras de rádio.

"Não penso em parar, e sim, em diminuir a intensidade", revela ao dizer que já não ministra a mesma quantidade de palestras que fazia antes e conta que procura atender aos pedidos apenas de Brasília e do Rio Grande do Sul, quando aproveita para visitar a mãe, Talita Eggers, que, aos 98 anos, mora em Santa Cruz do Sul. "O que não pretendo eliminar tão cedo é a presença no rádio e nos jornais, que são coisas que consigo fazer de casa", avalia.

Desde 1993, é dono da empresa Mercury Comunicação Social Eireli, a qual é responsável por todas as atividades de Alexandre. Segundo ele, a organização e a Rede Globo assinaram um contrato de mais três anos. "Não sei depois, depende da disposição na época", analisa.

Polêmica ou oportunidade?

Os 18 meses em que trabalhou como secretário de imprensa e porta-voz do ex-presidente militar João Baptista Figueiredo são resumidos pelo jornalista como "uma bela experiência". Afirma que o que aprendeu sobre o Palácio do Planalto naquela época leva até hoje, afinal, o ambiente "funciona como funcionava". À prática profissional, acrescenta o que chamou de "sensação pessoal": "O Congresso e o Palácio do Planalto têm um baixo astral, não me sinto bem, é pesado", relata e compara: "Estar lá é ficar muito perto da árvore. É melhor estar longe para ver a floresta inteira".

Seu afastamento do cargo foi um tanto quanto polêmico: foi exonerado devido à repercussão da entrevista intitulada 'O Porta-Voz da Abertura', concedida à extinta revista masculina Ele & Ela. Em uma das fotos publicadas, o jornalista estava deitado em uma cama, sem camisa, coberto por um lençol. Sobre o assunto, Alexandre rebate dizendo que não considera a reportagem um problema. "Vestido de bermuda é estar seminu? A matéria foi sobre minha vida em casa. Tiraram fotos minhas no jardim, onde estava de short e sem camisa", explica, sem fazer caso.

Inclusive, diz que a história veio em boa hora, pois já pensava em deixar o cargo. Quando saiu, recorda que teve a possibilidade de voltar para o Jornal do Brasil, além de ter recebido convites para trabalhar no Estadão e na revista Manchete, que foi a escolhida por apresentar a melhor remuneração. "A tal 'polêmica' me ajudou. E, nos dias atuais, a entrevista seria considerada leve, perto do que se tem por aí."

O terno por um chinelo

Em casa, troca o tradicional traje de terno e gravata pela comodidade da bermuda e do chinelo. A vida que leva na área rural de Brasília permite que Alexandre e a esposa, Magda, aproveitem as paisagens do Cerrado durante as caminhadas diárias. Nas trilhas, ele e a companheira, com quem divide a vida há mais de 15 anos, têm costume de levar os cachorros para passear. Magda é a segunda esposa, com quem não tem filhos. Sobre a profissão dela, orgulha-se ao dizer que é médica e, aos risos, declara: "Não sou louco de casar com jornalista".

Da primeira relação amorosa, sobre a qual pouco fala, teve três filhos. A primogênita, Denise, trabalha com vendas. Julia, por sua vez, seguiu a carreira do pai e, hoje, é repórter na SporTV. "Entrou por conta própria, ninguém sabia que era minha filha", orgulha-se da conquista. O terceiro é Gustavo Nunes Garcia, que faleceu em 2014, aos 27 anos. Fala com carinho dos netos ao mencionar que, por enquanto, são dois por parte da mais velha: o cineasta João Paulo, que mora em Londres, e Leticia que, hoje, é cantora, "mas vai voltar a estudar Jornalismo", acredita o vô-coruja.

Como um comunicador que se preza, a leitura é um prazer e uma obrigação. Diz que lê cinco livros ao mesmo tempo e lista os locais preferidos para a prática: banheiro, sala e durante as viagens. E na cabeceira da cama? É assertivo ao dizer que não: "Ia falar que na cama não faço nada, mas seria mentira", brinca. Em geral, o que lhe atrai são narrativas de história e de política, assuntos que enxerga como instrumentos de qualquer jornalista. No momento, lê 'O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota', de Olavo de Carvalho, uma obra sobre a vida de Getúlio Vargas e outra que trata de Filosofia. Também aprecia obras como uma tentativa de ampliar o vocabulário. Destaca livros em espanhol e em inglês, além de italiano. "Alemão eu não arrisco", admite.

Não se aventura na cozinha e diz isso sem problemas. Recorda a época em que morou sozinho, quando "até fazia algumas coisas para durar a semana inteira". Por não ter opção, a única refeição que prepara é seu café da manhã, afina, acorda antes de todos na residência. Na mesa não faltam fruta, ovo quente, e aveia com leite e mel, pelo menos três vezes na semana. Nos demais momentos de desjejum, os pratos são aprontados pela cozinheira Evilene e, das preferências, destaca polvo. Metódico, nas quintas-feiras, ele e a esposa têm o hábito de jantar sushi com saquê.

No quesito bebida, chega a tomar cerca de 500 garrafas de vinho por ano com a companheira, sendo uma por noite e nos almoços de fim de semana. Tem, ainda, o costume de, diariamente, tomar chá às 17h30, a exemplo dos ingleses. A prática, conforme relata, honra a Ordem do Império Britânico - gratificação a contribuições para as artes e ciências, trabalho com organizações de caridade e de assistência social e serviço público fora do Serviço Civil - que lhe foi concedida pela rainha Elizabeth II, quando cobriu a Guerra das Malvinas, na década de 1980. "Foi muito difícil fazer essa cobertura porque o governo argentino queria que os jornalistas revelassem apenas a parte oficial", relembra e completa: "Fui ameaçado e perseguido, em compensação, fui agraciado pela rainha da Inglaterra".

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