Ana Luísa Baseggio: entre trabalho e aventuras

Para a coordenadora do curso de Relações Públicas da PUC, sua missão no mundo está diretamente ligada ao propósito da profissão

Ana Luisa Baseggio - Crédito: Arquivo Pessoal

Coordenadora e professora do curso de Relações Públicas da PUC, Ana Luísa Baseggio soube ainda na adolescência que a comunicação estava em seu caminho. A habilidade de lidar com diferentes situações, cenários e pessoas foi determinante para sua escolha. Apaixonada pela leitura, gostava de compartilhar com amigos e colegas tudo que aprendia. Talvez por isso, somado ao fato de ser filha de professora, optou em cursar magistério no Ensino Médio. "Naquela época era comum prestar concurso para atuar como professor do Estado. Fiz, passei, mas logo abri mão do cargo. Acompanhava a luta diária da minha mãe, e percebi que não queria trabalhar com as condições oferecidas. Tinha certeza que poderia contribuir para o mundo fazendo outra coisa", explica a filha de Gessi.

Defensora do seu ofício, acredita que, não somente agora, mas no pós-pandemia, os profissionais de Relações Públicas ganharão espaço no mercado de trabalho, exercendo papel importante junto a novas marcas e as que quiserem se reposicionar. "Nosso trabalho é de retaguarda, é pensar estrategicamente. O olhar dos consumidores sob as marcas está sendo valorizado. A gente quer comprar de quem tem um propósito, em quem a gente acredita", destaca.

Para que isso se consolide, o papel em sala de aula se mostra imprescindível. Como mestre afirma que já foi mais exigente. Associa o comportamento à mudança de perfil dos alunos: "Aprendi a enxergá-los em sua integralidade para entender as necessidades e dificuldades", completa. Essa busca pela melhoria também ressoa no trabalho em equipe. Falta de comprometimento a deixa "doente": "Tem que ter entrega. Se não for assim, comigo não funciona". Ana ressalta que sozinha não faria nada e que ao longo da carreira teve a sorte de fazer parte de bons times.

Lar doce Famecos

Ao prestar vestibular não imaginou que a PUC se tornaria a segunda casa dela. Formada pela Universidade, realizou especialização, mestrado e doutorado na instituição. Prestes a completar 30 anos como funcionária, iniciou a trajetória na Famecos compartilhando uma disciplina com outro professor. Durante 18 anos, dividiu-se entre a sala de aula e o trabalho na Fundação Aplub. 

Durante essa longa história conheceu muitas pessoas e viveu grandes momentos junto a professores e funcionários. Ana avalia o ingresso na faculdade como a abertura de um mundo de conhecimentos, possibilidades e oportunidades. É com carinho que exemplifica o sentimento nutrido pela instituição. "Tem coisas específicas da Famecos que me trazem lembranças únicas. O prédio que estudei ainda é o mesmo, o bar era um ponto central para nós, assim como o saguão e o jardim. São outras tribos, outros grupos, outros comportamentos, mas tudo isso se consolidou e continua. É muito bom ver que melhorias foram feitas sem se perder os alguns valores". 

Como estudante, destaca o convívio com professores que já faleceram e os que hoje ainda são seus colegas. Uma história em específica faz questão de contar. Um livro indicado pelo professor Ari Pedro Oro, modificou a sua visão sobre a população indígena. 'Quarup', romance escrito por Antônio Callado, conta a história de um jovem padre inserido em uma tribo no Xingu. "Pouco sabemos sobre a população indígena no Brasil. A mídia mostra um lado, de outro há interesses de empresários. A obra abriu a minha visão para o assunto e foi a mais linda que já li", enfatiza. Famoso pela sua excentricidade, o professor Antoninho Gonzalez também marcou sua passagem como aluna. "Além do conteúdo, a postura dele nos ensinava muito. Fumava desesperadamente em sala de aula, assoava o nariz, gritava, falava alto. Uma figura ímpar", comenta.

Com os alunos a relação também é de troca e aprendizado diário. Ana analisa que a pandemia ajudou a estreitar os laços. A professora é só elogio para os jovens, mas chama a atenção para um comportamento que a deixa apreensiva, a falta do hábito da leitura. Ela sinaliza para o uso das redes sociais como o único meio da busca por informação, acredita que é papel do professor mostrar a importância de outras ferramentas de conhecimento, mas que deve partir deles o interesse pela técnica e cultura geral. 

Mesmo sem planos de parar sabe que esse dia vai chegar e enxerga a aposentadoria pela universidade algo bem provável. "Para alguns profissionais esse assunto é bem complicado, mas na boa, tem tanta gente por aí mais nova e competente para ocupar esses espaços. Tenho certeza que me entreguei de corpo e alma e sou só gratidão", destaca. Desde 2016, atua como coordenadora do curso de Relações Públicas, antes ocupou o cargo de coordenadora de Comunicação da PUC e chefe de Gabinete da Reitoria. Também integrou o grupo de profissionais do Espaço Experiência, agência experimental da Famecos, no Núcleo de Assessoria e Comunicação Digital.

Viver é uma aventura

Barro, chuva, sol e até mesmo neve fazem parte das melhores lembranças da Ana e do marido, Ricardo. "Aprendi com ele a explorar o meu lado mais aventureiro", conta, animada. Para o casal toda e qualquer aventura é bem-vinda, seja uma trilha, seja uma viagem de jipe, ou de quadriciclo ou de moto. Entre os lugares já explorados estão Ushuaia, no extremo sul da Argentina, cidades do interior do Estado e do Brasil. Claro, histórias não faltam, Ana relata uma ocorrida no Chile. "Estávamos em um comboio de carros e um caminhão que servia de base para guardar os pertences de todos e produção das refeições. Quando a gente estava subindo uma montanha com neve quebrou uma peça da roda. Foi tenso, mas logo os guris deram um jeito", lembra.

Mesmo com tanta experiência, algumas situações como estradas estreitas e próximas a penhascos, ainda causam certo temor. "No final tudo vale a pena. A gente tem que se arriscar", completa. O contato com a natureza, a experiência de estar, conhecer e treinar o olhar para descobrir novos lugares é o que mais encanta a relações-públicas. Para além da América do Sul, já esteve em Washington, Paris, Itália, Nova Iorque e Londres, sendo os dois últimos suas paixões. "Londres é uma coisa de louco, já fui duas vezes e pretendo ir inúmeras mais". Para 2020, nenhuma viagem estava nos planos, mas "logo aparece", responde rapidamente.

De volta às origens 

Natural de Porto Alegre, atualmente mora na mesma rua onde residiu na infância. "Aqui eu brinquei, andei de bicicleta, fiz amigos. Só tenho boas lembranças", conta, saudosa. O apartamento deu lugar a uma casa com pátio e árvores de limão, pitanga, laranja e ameixa. "Estar em isolamento não está sendo fácil, então quando quero dar um tempo ou dar uma pausa no trabalho, saio para tomar um sol. Amo a minha casa". Não só de verde a Ana está rodeada, mas também dos filhos, Rocky, Sissi e Hartz, três cachorrinhos da raça Dachshund, comumente conhecidos como linguicinhas.   

Ana é a irmã mais velha de Arlete e Alberto, e nutre pelo seu pequeno núcleo familiar amor e respeito. Para ela família "são aquelas pessoas que te apoiam quando tu precisa". Tem na mãe um exemplo de mulher forte e dinâmica. Aos 85 anos, a matriarca pratica pilates, caminha na esteira e canta num coral. Atualmente os ensaios estão acontecendo de forma virtual. "O maestro conecta elas no Zoom. Tu não imagina o que é todas aquelas senhorinhas tentando se entender no aplicativo", ri, ao falar.

Não é de hoje que Ana despende um olhar diferenciado para os idosos. A exemplo do filme francês 'La Lectrice', na versão brasileira 'Uma Leitora Bem Particular', no qual a personagem principal tinha como profissão ler para as pessoas que já não podiam fazer sozinhas, tem isso como um dos planos após se aposentar. "Doar um pouco do meu tempo não custa nada. Além disso, vou fazer algo que amo. Acredito que o que ajuda toda e qualquer pessoa no mundo, é a leitura", justifica.

Para a relações-públicas, cuidar é a sua maior missão. "Acredito que estou aqui para mostrar para as pessoas que podem viver bem, se relacionar melhor e que, sinceramente, independente do que elas façam, estão no mundo para se ajudar", finaliza. 

 

 

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