Arthur Lencina: Um cidadão de Porto Alegre

Apaixonado pela capital gaúcha, o publicitário e CEO da Agência Euro acredita que sua missão é impactar pessoas

Nascido em Porto Alegre, Arthur Lencina não esconde a paixão pela capital gaúcha. Apesar da tenra idade, está convicto que a cidade será o seu único lar. O amor só não é maior que o nutrido pelos avós maternos, por quem foi criado. Aliás, a decisão de morar com a dona Helena e o seu Ivan aconteceu aos três anos, quando pediu para a mãe durante uma visita ao trabalho do casal. "Lembro exatamente da cena. Estava no meio das pernas da minha mãe e saí correndo até a minha vó e disse que queria morar com ela", conta. E assim foi até os 13 anos.

O fascínio pelo empreendedorismo herdou do seu Ivan, que sabia como ninguém erguer um negócio. O gosto pelo universo empresarial nasceu dentro da cozinha industrial do avô, que produzia marmitas para construtoras. A rotina começava cedo, mais precisamente às 4h da manhã, e contava, de alguma forma, com a sua ajuda. Aos quatro anos e sem saber calçar os tênis da maneira correta, já que trocava os pés, saía correndo na intenção de pegar no batente. Nada o impedia, nem mesmo a altura dos balcões e os sacos de arroz de cinco quilos que tentava segurar. Com a panela previamente posicionada pelo avô, despejava o pacote.

Seu Ivan faleceu há 20 anos após sofrer um AVC; já dona Helena há quatro, aos 92 anos. "É muito doido, porque ainda consigo sentir o cheiro da minha vó e, se fecho os olhos, escuto a voz do meu vô. Eles são a minha referência de família", destaca. Mesmo afirmando que a infância foi muito boa, acredita que o fato de ser filho de pais separados e não ter convivido com a mãe poderia ter lhe causado alguns traumas. Considera, ainda, que tinha tudo para dar errado. "Não tenho receio de afirmar isso, mas sei que muitas pessoas não teriam coragem. Provavelmente, por medo de algum julgamento", comenta.

A relação de carinho, respeito e admiração se estendeu igualmente aos tios maternos Sandro, Jorge Luís e Ivanor, com quem também aprendeu o que é amor familiar. Batalhadores, é neles que se espelha a dar duro e lutar pelo que quer. Durante a adolescência, escutava repetidas vezes uma célebre frase, a qual só foi compreender na fase adulta: "Tu não podes ser mais um CPF". Infelizmente, no início de agosto, tio Nonô (Ivanor) foi vítima de um acidente de trânsito. "Uma das melhores lembranças que tenho dele é quando ele me levou pela primeira vez no estádio Olímpico. Fico feliz de ter podido levar ele na Arena", recorda. Por parte de mãe, ainda tem um casal de irmãos mais novos: a educadora física Kelly Luísa, de 34 anos, e Luis Henrique, de 21, estudante de Administração.

Líder nato

Questionador, apresentou ainda na infância ter talento para liderar. Entre tantas lembranças, uma das mais marcantes aconteceu na 5ª série. Ao perceber que a turma estava fazendo muita bagunça, a diretora do colégio entrou na sala e, para chamar atenção, chutou a lixeira. Surpreso, bem como espantado com a atitude, deu risada. Ao ser perguntado o motivo do riso, respondeu que o lixo não tinha culpa, já que estava parado sem fazer nada. Como resultado, foi parar na diretoria. A história ainda lhe arranca boas risadas, mas também a sensação de que sempre andou do lado certo.

Esta, entre outras atitudes parecidas, o levou a se envolver com o Grêmio Estudantil. Entendia que essa era uma forma de representar aqueles que não tinham voz. Assim, acabou também ocupando importantes cargos em instituições ligadas ao movimento de estudantes. Atuou como secretário-geral da União Metropolitana dos Estudantes Secundários (Umespa), tesoureiro da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (UGES), vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes (UBE) e presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE).

Dessa caminhada, nasceu o interesse pela política. "Acredito que ela ensina a lidar e se relacionar com diferentes pessoas", salienta. Aos 15 anos, conseguiu uma vaga para trabalhar na campanha de um candidato a vereador de Porto Alegre. Certo dia, durante uma conversa com a equipe que produzia as artes dos materiais gráficos, perguntou como era a profissão de publicitário. Acabou ali a dúvida entre escolher o Jornalismo e a Publicidade. Foi assim que decidiu o que faria da vida.

A experiência como militante o levou, ainda na faculdade, a ser convidado pelo então prefeito José Fortunati a ocupar o cargo de secretário-adjunto da Juventude. A oportunidade lhe ajudou a implementar um projeto ligado à educação. Em 2012, o POP - Pré-vestibular e Enem Popular, saiu do papel. O programa tinha como propósito tornar possível o acesso de alunos de baixa renda ao ensino superior. A iniciativa contou também com o apoio da União Estadual dos Estudantes (UEE), bem como do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia (CEUE). É com muito carinho que costuma lembrar dessa época. Aliás, até hoje recebe mensagens de alunos que participaram do projeto. "Outro dia ainda recebi um áudio de um menino dizendo que estava se formando em História graças à oportunidade de participar do cursinho", revela.

Foco para qualquer meta

Mirando o futuro, mas com foco no presente, traçou na faculdade que veio ao mundo para vencer. Com o empreendedorismo correndo nas veias, criou a agência Europa, atualmente Euro, juntamente com o colega e amigo Leonardo Ribeiro. Contudo, devido à falta de experiência em administrar, foram obrigados a fechar a empresa. O retorno ao mercado aconteceu em 2016, ao reencontrar Leo em sala de aula, quando faziam pós-graduação. Após algumas conversas, decidiram que era o momento de retomar a parceria. Contudo, resolveram que, em um primeiro momento, não seria necessário ter uma unidade física do negócio. Mas logo isso mudou. Uma sala na Cidade Baixa foi motivo de encantamento da dupla, que, diante do valor do aluguel, a elegeram como o novo ponto de partida. "Mesmo animados, combinamos que, se em 15 dias não tivéssemos conquistado um cliente, iríamos desistir e ainda rasgaríamos o diploma. Mas como eu sempre digo: as palavras têm poder", garante.

Durante uma reunião de prospecção, conheceu o Mágico Kronnus, que na ocasião estava precisando de uma agência, pois havia fechado um show na Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) para o Porto Verão Alegre. A meta era vender 700 ingressos. O publicitário confessa que viveu momentos de tensão no dia do espetáculo. Ao chegar na Amrigs, verificou que não havia ninguém. O nervosismo só aumentou ao ver que o horário do início da sessão estava próximo. Mas, ao sair do teatro, o alívio tomou conta ao ver as imensas filas. O segundo cliente, que também faz questão de destacar, foi a OdontoAlegre. "É importante dar valor a cada um que acreditou na gente lá trás. Somos muito gratos", reconhece.  

O caminho da agência começou a mudar em meados de 2018, após a esposa do sócio receber uma proposta de trabalho em Florianópolis. A notícia veio acompanhada de um misto de sentimentos. Por um lado, a alegria de saber que era uma oportunidade imperdível e que melhoraria a vida do casal, mas, do outro, o medo de ver tudo que haviam conquistado acabar. Então, em um impulso, soltou a ideia de abrirem uma unidade da agência na capital catarinense. E não é que deu muito certo?

Hora de planejar o futuro

Com o passar dos dias, desanimou-se e teve a mesma sensação de solidão que viveu na adolescência. Sabia que não podia desistir e novamente pediu um sinal sobre o caminho que devia seguir. "Foi aí que aconteceu a coisa mais louca da minha vida como empresário", afirma. Já fazia alguns meses que havia feito um trabalho com Vicente Muguerza, sócio da extinta agência PublivarOn, porém, ao receber um telefonema do mesmo, ficou surpreso. Durante o encontro, que contou com a participação do publicitário Samir Salimen, surgiu a proposta de ambos trabalharem como seus mentores na Euro.

Apesar de entusiasmado, preferiu pensar e falar com o sócio. Procurou também o jornalista e amigo Gilberto Jasper, com quem costuma se aconselhar. Ao saber que a ideia havia partido, entre eles do Samir, Jasper começou a lançar elogios. Além disso, chegou a pedir que desse um 'Google' para ter a noção da importância do publicitário para a história da Comunicação aqui no Estado. "E, para finalizar, lembrou das nossas conversas em que me dizia que eu precisava de alguém com experiência para alavancar meu negócio e que, por isso, não podia perder essa oportunidade. Então, foi o que eu fiz", destaca. A parceria, de fato, foi concretizada em 2019. O publicitário não esconde a admiração, o respeito e o carinho que sente pela dupla. Acredita que a sinergia que há entre eles os levará muito longe. Mesmo com a chegada da pandemia, os negócios continuaram, mas considera que o mercado passou a enxergá-lo a partir de 2021. "Digo que antes eu era um desconhecido, agora eu sou um ilustre desconhecido", brinca.

Porto seguro

Com o intuito de se encontrar, há oito anos decidiu seguir os conselhos do professor Gustavo Meneghetti de Carvalho, que, ainda na faculdade, o convidou para fazer parte da Igreja Batista. O encontro com a espiritualidade, como ele mesmo diz, foi a forma de entrar no eixo. Mais do que isso, declara que "é uma forma de lapidar quem sou e entender as minhas angústias". Noivo há sete anos da advogada Caroline Johann, é nela que também encontra a segurança para seguir em frente com determinação.

Caseiros, eles amam estar em casa e curtir o apartamento que conquistaram com muito trabalho. Quem também ama a companhia dos dois é a dupla Mingau e Ragnar. O primogênito chegou na virada de 2016 para 2017. Após achar uma caixa com quatro filhotes de gatos, o primo Lucas Lencina enviou uma foto, e o escolhido foi o branquinho, "por isso a Carol deu o nome de Mingau". Já o caçula tem uma boa história para contar. Ao chegarem em casa, começaram a escutar um miado que vinha do carro do vizinho. Assim, descobriram que o danado estava dentro do motor, e no que foi aberto, saltou no colo do casal, de onde não saiu mais. Sobre filhos, afirma com convicção que terá três: dois meninos e uma menina.

Aos 36 anos, Arthur declara ser imensamente grato por cada pessoa que o ajudou a chegar até aqui. Afirma que, acima de tudo, sabe que veio ao mundo para impactar vidas. "Num primeiro momento, achava que seria na política, mas hoje tenho a convicção que é como empresário que farei a diferença", encerra.

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