Caio Klein: aonde ele quer chegar?
Engenheiro, que trilhou carreira na Comunicação, conta a sua trajetória

Cinco minutos. Esse é o tempo necessário na presença de Caio Klein para perceber que ele possui não só uma carreira sólida, mas também um coração aberto e generoso. E que, sobretudo, seu coração é movido por um combustível levemente peculiar: paixão. Pelo que faz, pelo que vive, pela família, pelas marcas que deixa no mundo.
Diretor do Departamento de Radiodifusão e Audiovisual da Secretaria de Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul (Secom), o que equivale a lhe outorgar o cargo de presidente da TVE RS, Caio, para longe do que o posto poderia lhe herdar em termos de extravagâncias, demonstra uma simplicidade que torna desde o chimarrão que oferece - e do qual se orgulha - até o vasto conhecimento em gestão que apresenta como integrantes de uma mesma interface singular.
É preciso suavidade para as boas decisões, mesmo as mais duras, e para o atravessamento dos tempos e de suas diferentes articulações, e ele sabe disso como ninguém.
Desde jovem, um aventureiro
As peripécias de Caio Augusto Klein já o acompanhavam na época em que era um jovem estudante do então 1º grau, que hoje equivale ao ensino fundamental. Nascido em Venâncio Aires, mas crescido em Lajeado, para onde a família se mudou quando ele tinha dois anos, teve sua primeira viagem internacional ainda adolescente. Em 1977, com 15 anos, foi aos Estados Unidos, onde fez intercâmbio na Pensilvânia durante um ano.
Ao voltar ao Brasil, conseguiu aproveitar as disciplinas cursadas e, assim, já estava com o colegial concluído e devidamente habilitado a cursar o ensino superior. Engenharia Elétrica foi o curso escolhido e, em 1979, veio a aprovação no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A partir daí, a mudança para Porto Alegre seria inevitável, onde ainda reside e construiu uma carreira que o projetou para o mundo.
Foi nessa área que Caio encontrou sua identificação profissional. O que é curioso, porém, é que seus rumos poderiam ter tomado uma direção radicalmente distinta: "Joguei futebol no amador, lá de Lajeado. Passei na peneira do Grêmio, em 1979.
Eu podia ter tido um caminho profissional diferente, estava vindo para Porto Alegre naquela época, e tudo começou a mudar um pouco", comenta, revelando que cogitou se tornar jogador profissional, mas que, pela força do surgimento da Engenharia em sua vida e da dedicação aos estudos, preferiu optar pela carreira que o consagrou na área técnica das emissoras de rádio e televisão. Ainda um jovem graduando, assim, logo retornou ao exterior, realizando um estágio na Suécia, em uma empresa de equipamentos elétricos e eletrônicos.
Seu tio, Lauro Muller, era o dono da Rádio Independente, de Lajeado, o que o colocou em contato com o meio da Comunicação. Mas foi o convite para uma Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, em 1984, que o posicionou em uma trajetória de constante ascensão e na qual aplicaria sua visão de futuro e competência.
Cotado para cobrir o festival tradicionalista, Caio logo foi convidado para assumir a coordenação técnica da RBS TV da cidade do oeste gaúcho. O chamado o alçou para uma caminhada de aproximadamente 40 anos de dedicação à Engenharia, à gestão e ao propósito de tornar concretos os sonhos que os imaginários comunicacionais traçam, mas que necessitam de apoio e estrutura materiais para que possam ser realizados.
As aventuras de sua vida passam pelo prezar pela qualidade e pelas constantes buscas sobre o que se pode entregar e agregar. Pós-graduado em Programação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e em liderança de pessoas e negócios pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), ele consolida as imersões nos processos educativos com a experiência profissional e a vontade de aprender, sem jamais deixar de, ressalta-se, conter a essência de quem Caio Klein é e no que acredita.
"Aonde é que a gente quer chegar?"
Definitivamente, Caio Klein é uma pessoa que faz do movimento a sua alma e que busca caminhos para oferecer o que melhor é possível em termos de qualidade. Sem cair no marasmo, logo foi designado para coordenar as áreas técnicas de diferentes filiais da RBS TV do interior do Rio Grande do Sul, circulando pelo Estado e colocando em prática os operativos e a gestão.
Esteve à frente de grandes iniciativas, como a implantação da RBS TV Santa Cruz do Sul e a RBS Vídeo São Paulo, no estado paulista, o que também lhe rendeu oportunidades de galgar novos espaços. Não demoraria muito e Caio estaria em nova casa: a hoje extinta Fundação Piratini, de onde se orgulha de ter participado da implantação do sistema TVE SAT.
É um gestor inquieto e atento às tendências de mercado. E a indagação que ele se faz é: "Aonde é que a gente quer chegar?". A janela que abre se volta para uma paisagem de um caminho não exatamente fácil, mas repleto de desafios, que o movem e que o capacitaram enquanto administrador, técnico e profissional de referência na produção.
Seu foco entra em simbiose com a suavidade que aparenta, conferindo fluidez aos propósitos que quer alcançar. Aonde Caio quer chegar? Essa é a pergunta-chave que ele leva para entregar o resultado que deseja com dedicação e alguns toques de curiosidade.
Seus parâmetros de gestão, muito alicerçados na qualidade e na justiça, os quais considera como preocupações pessoais, contaram com a contribuição de duas figuras que cita como algumas de suas referências na caminhada que trilhou: José Antonio Vieira da Cunha, na TVE, e Claúdio Toigo, na RBS, a quem destaca como modelos de integridade, transparência, correção e de boas administrações.
Caio também faz um agradecimento especial à Tânia Moreira, ex-secretária de Comunicação do Rio Grande do Sul, que o conduziu ao posto que ocupa hoje na TVE. Ele reconhece que a Comunicação é um trabalho coletivo e no qual deve haver investimento qualificado.
Coletivo, inclusive, que o projetou para trabalhos que considera inesquecíveis. Já de volta ao Grupo RBS, na década de 2000, participou da organização logística e da produção técnica das Copas do Mundo de 2006, 2010 e 2014 - nesta última, por ter sido sediada no Brasil, em parceria com a TV Globo, na transmissão dos jogos ocorridos em Porto Alegre.
Em 2008, foi o gestor principal na migração da Rádio Gaúcha do sistema de Amplitude Modulada (AM) para Frequência Modulada (FM). No mesmo ano, cobriu a Olimpíada de Pequim, rendendo participações, também, no Mundial de Clubes da FIFA de 2010 e nos Jogos Olímpicos de 2012. Ele conta que uma de suas maiores realizações foi ter ocupado o posto de gerente executivo operacional do Grupo RBS.
Caio orgulha-se de ter participado desses momentos singulares para o mundo e sua trajetória profissional a serviço da Comunicação, porém rejeita as vaidades e critica possíveis soberbas de serem encontradas pelo meio do caminho. "As pessoas querem ganhar a discussão. Mas aonde você chegou com isso? A gente procura focar: não é ganhar as discussões, é resolver os problemas", afirma. Aonde ele não quer chegar, definitivamente, é onde não possa exercer a simplicidade e tranquilidade com que conduz a vida.
Justiça como pilar e desafios
O engenheiro tem como um de seus alicerces condutores o senso de justiça. E acredita que ela dialoga diretamente com as possíveis respostas para "aonde se quer chegar" sobre o tipo de sociedade em que acreditar. "Eu acho que punição não é o caminho. É claro que as coisas ilegais têm que punir, obviamente. Mas cada um tem um entendimento. A verdade não é absoluta, né? Então, tem que ser justo, tomar decisões baseadas na justiça e não só na tua [verdade]. Onde é que eu quero chegar?", reflete, mais uma vez.
Ele toma esse valor muito como referência de família, e, especialmente, pelo pai, médico na cidade de Lajeado. Para ele, não só no trabalho, mas na sociedade como um todo, há uma questão ética a ser observada no Brasil contemporâneo. Caio acredita que exista uma cultura enraizada que não prioriza a ética nas relações. "A gente, como sociedade, teria que discutir um pouco mais, questionar. Faltam reflexões e questionamentos", observa.
O gestor pondera que é necessário demonstrar a inquietação nos meios em que se convive para que as mudanças possam ocorrer e, assim, os problemas serem resolvidos com o aspecto balizador da ética. E, nisso, visualiza como um de seus desafios como administrador na área comunicacional zelar pela veracidade das informações e pela preocupação com este legado frente ao público.
"A TV aberta, os meios tradicionais têm uma grande força de credibilidade, e isso a gente tem de usar. Mas tem de ser algo percebido pela população, não imposto. Temos de ter a capacidade de informar o povo corretamente", afirma.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista operacional, descreve que tem realizado parcerias, especialmente após a extinção da Fundação Piratini, para manter a TVE operando plenamente diante de um quadro reduzido de pessoal. Ressalta, ainda, a atenção com a entrega de produtos voltados a um jornalismo que presta serviço à sociedade, em detrimento de algo mais direcionado à esfera factual, evocando o espírito público que uma emissora governamental carrega consigo.
Ele menciona que outro aspecto que considera desafiador, na posição que ocupa, é estar inserido em um contexto de fortes mudanças tecnológicas, de maneira que consiga desempenhar uma gestão com a qual possa conferir contribuição à altura do que o mercado exige.
Acredita, no entanto, na habilidade de suas qualificações e, sobretudo, na capacidade que a sociedade tem de ofertar à TVE recursos e conteúdos que possam ser analisados e explorados pela emissora. Exemplo disso é a pretensão de retomar em 2025, na TVE, as transmissões de jogos do campeonato estadual de futsal.
O esporte é ser feliz
Do centro do tampo de vidro da mesa de reuniões, presente em seu gabinete na TVE, um singelo troféu azul indicando o arquipélago de Fernando de Noronha aponta um de seus feitos: garantiu o primeiro lugar na meia maratona de 2023 das ilhas, na categoria Masculino de 60 a 69 anos.
Para além das coberturas esportivas que já fez em eventos de impacto mundial, como Copas do Mundo e Olimpíadas, não é difícil perceber que, para Caio Klein, o esporte é um aspecto fundamental em seu cotidiano e em sua vida como um todo. Aos 63 anos, demonstra ser adepto a um estilo de vida saudável e de um espírito que provam que não há tempo e, sim, motivação.
No momento, conta que as corridas são sua principal atividade física, comentando que está na expectativa para a Maratona Internacional de Nova York, da qual participará em 2 de novembro de 2025. Em sua rotina de treinos, três ocasiões na semana são dedicadas à preparação para essa que é uma das mais prestigiadas maratonas. Saudoso, relembra dos tempos em que entrava em campo para um futebol com os amigos, apesar de não realizar mais, costumeiramente, essa atividade.
Para além do engenheiro e gestor de sucesso, Caio é um apaixonado pela família que construiu. Casado com a educadora física Simone e pai da internacionalista Natascha e da estudante de Engenharia Mecânica Ágatha, ele acompanha com afinco a trajetória de todas e, sempre que possível, realiza uma viagem em família ou momentos singelos reunidos.
Um desses momentos pode ser traduzido no almoço de domingo, sobre o qual ele diz ser o comandante das panelas, revelando seu gosto pela cozinha e por experimentar bons pratos. Ele é um apreciador de cortes diferenciados de carne, em particular, os argentinos. Já para as cervejas, destaca uma do tipo paulaner, que conheceu quando visitou a Alemanha.
Com diferentes viagens e países no currículo, o engenheiro demonstra ser um cosmopolita de culturas, tendo percorrido desde a América do Norte até a Ásia em diferentes ocasiões. O destaque? A vizinha Argentina, país pelo qual demonstra um apreço diferenciado, especialmente quando o assunto é o chouriço.
Apesar de ser um homem que já percorreu o mundo em diversas ocasiões, há um lugar especial onde Caio consegue se reconectar com suas lembranças de menino, sua trajetória e consigo mesmo: um sítio que possui no interior do município de Putinga, à beira do rio, na região intermediária de Santa Cruz do Sul-Lajeado. Segundo ele, lá, o período é realmente de descanso, pois nem energia elétrica há na propriedade.
Para expandir ainda mais as perspectivas como gestor, até com o Carnaval seus talentos administrativos já flertaram: presidiu a escola de samba Explode Coração, de Lajeado, no início da década de 1980. O espírito de liderança, aliado aos seus princípios éticos, sempre seguiu firme com ele.
Caio é o engenheiro que é gestor, que é esportista, que é viajante, que é cozinheiro, que é líder, que tem história. Que da sua vida se orgulha de ter construído uma sólida trajetória na produção e na administração das ações que lhe couberam. Porém, com muita simplicidade e leveza na forma de agir e conduzir. Aonde Caio Klein quer chegar? Para além e avante.