Carolina Jardine: A jornalista do campo

A sede pelo conhecimento e a paixão pela profissão movimentam a trajetória da jornalista Caroline Jardine

Por Gabriele Afonso
Motivada pela inquietude que o Jornalismo proporciona, Carolina Jardine vai trilhando o seu caminho na profissão e, apesar de jovem, já coleciona grandes conquistas. Com atitude e segurança, decidiu aos 12 anos que seria jornalista, surpreendendo a família ao pedir de aniversário uma máquina de escrever Remington. Todos ajudaram com uma quantia para a compra do aparelho, e assim Carol, como gosta de ser chamada, passou a brincar de produzir textos e livrinhos.
Apaixonada pelo conhecimento, procurou na Economia o seu diferencial, pois já fazia a faculdade de Jornalismo. Prestou vestibular na Ufrgs e, durante dois anos, conciliou os dois cursos. "Decidi que iria traduzir para o leitor esse tal de economês", recorda. Determinada, iniciou sua carreira no Jornal do Comércio, passou pela experiência de trabalhar com assessoria de imprensa, escreveu para várias revistas, produziu e dirigiu um programa de TV a cabo, no canal 20 da NET, e há sete anos atua como editora de Rural no Correio do Povo.
Natural de Rio Grande, aos sete anos veio morar em Porto Alegre com a família: o pai, Ricardo, falecido há dois anos; a mãe, Maria da Graça, professora aposentada; e as irmãs Fernanda, fisioterapeuta, e Cora, publicitária. Hoje, aos 33 anos, Carol está em licença-maternidade curtindo a segunda filha, Rafaela, fruto do seu casamento com o advogado André Bergamaschi, com quem tem também Marina, de cinco anos.
Um início ousado
A timidez que a jornalista diz ter não a impediu de ir até o Jornal do Comércio para pedir um estágio. "Cheguei lá na cara e na coragem, sem conhecer ninguém, e disse que era estudante de Economia e Jornalismo e que queria emprego", lembra. O atual editor-chefe do jornal, Pedro Maciel, aprovou a ousadia da jovem, que passou a fazer reportagens para a editoria de Economia. Durante dois anos, produziu matérias sobre mercado financeiro, informática e agronegócios, assunto que viria a se tornar uma grande paixão.
Quando recebeu a proposta para ficar na editoria de Rural, pensou que poderia encarar o desafio, já que o assunto lhe era familiar. Aos 14 anos, havia trabalhado como secretária no escritório do pai, que era representante de uma empresa de cereais. "Grudei na editora Luciana Radicione, era uma época que deixavam os estagiários fazer muita coisa." Faltando um mês para a formatura, negociou sua efetivação no veículo. Entretanto, devido a um problema interno, todos os estagiários foram dispensados.
Após uma semana como formada, foi chamada para retomar o trabalho no jornal. Logo, a Economia retornaria à sua rotina. Foi quando lhe pediram para ficar como subeditora por uma semana - acabou que durante dois anos esse foi seu cargo. Cansada de fazer a mesma coisa, Carol resolveu arriscar: "Algo começou a me incomodar, sou uma pessoa que trabalho com a mudança". Pediu demissão e passou a trabalhar como freelancer em assessoria de imprensa.
É assim: trabalho é o seu sobrenome, pois, mesmo durante a sua atuação no veículo, contribuía para algumas revistas como Expressão, Granja, e Amanhã. "Teve uma época que fazia matérias para seis revistas diferentes. Passava o tempo todo trabalhando. Adoro o que faço." Foi durante esse período que conheceu o assessor de imprensa Beto Bottega, a quem atribui muito do seu aprendizado sobre a profissão.
O campo e o Correio do Povo
A editoria de Rural viria a coroar o trabalho a partir de 2005, quando foi convidada para trabalhar ali por Telmo Flor, diretor de Redação do Correio do Povo. "Foi um achado esse convite, sempre quis responder por um trabalho só meu", reflete hoje. A estreia numa empresa onde a competição entre os colaboradores era visível foi um baque, já que estava acostumada ao clima familiar que reinava no Jornal do Comércio.
A imaginação e a ousadia tomaram conta da jornalista, que passou a criar projetos dentro da editoria, onde possuía uma coluna diária. Chegou a apresentar uma ideia para trazer de volta o caderno semanal Correio do Povo Rural, que há 20 anos não circulava mais; entretanto, só pôde realizar o seu desejo quando o Grupo Record assumiu as empresas da Companhia Jornalística Caldas Júnior.
A forma como era feita a cobertura da Expointer passou a lhe causar certo incômodo, pois os repórteres ficavam na feira e retornavam para a redação para editar as matérias. Acreditava que muitos detalhes se perdiam durante esse processo, e o resultado é que vingou a ideia de se criar a redação remota. Depoius, juntamente com Telmo Flor, implementou também o projeto Carazinho, onde é produzido um jornal de quatro páginas com notícias do município. Além dessas conquistas, foi a primeira mulher a produzir a capa do jornal, revezando-se nesta atividade com Eugênio Bortolon e Telmo Flor.
Aprender sempre
Sedenta por conhecimento e apaixonada pelos assuntos do campo, Carol sabe que a editoria de Rural não está entre as preferidas dos estudantes de Jornalismo. Mas acredita que, pelo fato de a economia do Estado estar baseada no agronegócio, muitos profissionais acabam indo para São Paulo. Essa paixão lhe proporcionou viajar por diversas regiões do País, entre elas o Pantanal. "Sabe aquelas expedições no meio do rio, à noite, apresentadas no Globo Repórter? Pois é, fiz e adorei", conta, feliz e descontraída.
Assim como o Brasil, Carol também teve a oportunidade de conhecer o exterior. A primeira viagem foi em 2008, para os Estados Unidos, onde realizou uma imersão em uma produtora de transgênicos. No entanto, considera a ida para a Alemanha a mais importante de sua carreira. Nesta, permaneceu por 28 dias na casa de uma família para cobrir as eleições locais e os 20 anos da queda do Muro de Berlim.
Um novo caminho na comunicação surgiu em 2010, quando foi a São Paulo fazer um curso de Master em Gestão da Comunicação. Descobriu que a administração de redações e o planejamento também faziam parte do seu perfil profissional. "Somos treinados na faculdade para trabalhar com hard news, com o feijão com arroz, mas vi que administrar também combinava comigo", ressalta. Sua posição hoje no veículo também lhe permite opinar sobre novas diretrizes para o jornal.
Juntamente com o trabalho no Correio do Povo, mantém uma consultoria de comunicação, com a qual presta serviços na área de marketing e assessoria de imprensa. Os trabalhos de freelancers continuam, agora com menos intensidade, já que a família sempre foi uma de suas prioridades.
Suas paixões
O marido, André, acompanhou suas conquistas desde o início. Há nove anos juntos, se conheceram quando faziam cursinho pré-vestibular e ele se diz acostumado com a rotina de trabalho da esposa. "Não posso dizer que ele gosta que eu trabalhe feriados e finais de semana, mas administramos bem a criação da Marina e da Rafaela." Mãe zelosa, Carol afirma que é do tipo à antiga: senta no chão para brincar, faz comida, dá banho, leva para a escola, acredita que o tempo que está com elas deve ter qualidade.
Apesar do sorriso largo e da alegria de viver que a jornalista apresenta, algumas perdas ainda lhe trazem lembranças tristes. Há dois anos, num período de 30 dias, perdeu o pai, vítima de um câncer, a avó e o avô. Passou também por dois abortos antes de engravidar da segunda filha.
Carol tem fascínio por festas, geralmente sua casa está repleta de amigos. E é nesses eventos que ela também mostra os seus dotes culinários. Adora fazer pães, pizzas e massas. Marina, a filha mais velha, ao invés de brincar com as bonecas, gosta de organizar festas. "Até convites ela produz, é uma forma de me imitar", brinca. Dançar também é um hobby. Quando criança, chegou a frequentar aulas de balé - atividade em que, reconhece, era péssima.
Agitada e inquieta, Carol não descansa mesmo. Enquanto conta a sua vida, atende a Rafaela, que parece faminta. "Estou fazendo isso agora, mas já estou pensando no que tenho que fazer depois", admite. A vida para ela é decidida pelo destino e o que a motiva é o inusitado, o diferente. Trilha sua trajetória sem caminhos definidos e garante: "Preciso sentir que estou aprendendo sempre".
Imagem

Comentários