Cris Silva: Jornalista sem vergonha

Dos palcos para a tela e da tela para o rádio, Cris Silva se realiza enquanto comunicadora e atriz e assegura que está em casamento consigo mesma


Por Gabriela Boesel
A estudante de Psicologia precisou de uma força extra para perceber que o seu destino não eram os consultórios, e sim, os estúdios de rádio e TV. Com a ajuda de uma psicoterapeuta e várias sessões de terapia, a hoje jornalista formada pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) Cris Silva encontrou na Comunicação um novo caminho profissional. Dividida entre os microfones e os palcos, a comunicadora se sente realizada e gratificada pelo resultado de suas escolhas e diz que está em casamento consigo mesma.
As apresentações de Jazz, de teatro, a participação no Grêmio Estudantil do colégio e a facilidade de se comunicar lhe renderam o apelido de "sem vergonha" entre os amigos e colegas. "Na época, criança, tive que perguntar para a minha mãe se eu era sem vergonha mesmo. Ela me disse que não no sentido generalizado da palavra", recorda. E a guria despojada que veio do bairro Arial, de Pelotas, foi conquistando seu espaço por meio do Grupo RBS, onde atuou por 10 anos.
Animada e tagarela, Cris Silva se mostra a mesma pessoa ao vivo e na frente das câmeras e microfones, e a voz aguda aumenta alguns decibéis quando se empolga e faz brincadeira. Em casa não é diferente. É o que diz o marido, o músico e radialista Paulo Inchauspe. "Ela é uma pessoa leve e verdadeira. Exatamente como se viu na TV. Vivemos em equilíbrio. O bom humor dela compensa meu jeito mais fechado", declara-se à amada.
Quando o corpo fala
Jornalista por vocação, Cris abdicou da presença na TV para se dedicar à paixão pelo rádio e pelo teatro após uma crise de pânico que a acometeu no Réveillon de 2016. Foi no dia 31 de dezembro de 2015 que Cris Silva percebeu que o ritmo acelerado da profissão não estava lhe fazendo bem: apresentação da previsão do tempo no Bom Dia Rio Grande, no Jornal do Almoço e no RBS Notícias; assumir a bancada dos jornalísticos durante as férias das colegas e ainda conciliar a participação no programa "Bafão", da Rádio Farroupilha. Sem falar na vida pessoal.
Passar a virada de ano sobre uma cama de hospital e ainda fazer a família perder as festividades foi o suficiente para ela refletir e decidir deixar a RBS TV. "Aprendi da pior maneira possível que, quando tu não paras e tua mente pede, o corpo faz tu parar", reflete.
Durante os 10 anos de RBS passou, também, pela Rádio Atlântida, em Rio Grande e Pelotas, no início da carreira; pela extinta TVCom, quando veio a Porto Alegre em 2010; e, por último, integrou o time do programa "Mistura com Rodaika". "Essa última fase muito legal porque foi ali que aprendi a fazer entretenimento."
Mesmo com o esgotamento profissional diagnosticado, considera incríveis os anos que passou no grupo de mídia, onde construiu uma família. "A gente acordava às 4h e, às 4h30, todo mundo já estava a mil na TV, conversando, dando risada, um clima maravilhoso", recorda com carinho ao mencionar os colegas da época como Carla Facchin, Daniela Ungaretti e Maíra Gatto.
Com o desligamento da TV, Cris Silva conseguiu realizar o sonho de comandar o próprio programa de rádio e, em 2016, estreou à frente do "Farroupilha Mais Mulher". No mesmo ano, teve uma breve experiência no setor de Mídia do time do coração, o Sport Club Internacional, onde ficou por seis meses. "No Inter consegui unir a comunicação, a paixão pelo time e estar na rádio e nos palcos", simplifica. No clube, reencontrou aquele que a havia convidado para a primeira experiência na TVCom, o também jornalista Gerson Cruz, que comanda o setor de Mídia.
Nos palcos da vida
Cris Silva cantou, dançou e interpretou a vida inteira. Desde o colégio já subia nos palcos e até encarou os microfones sagrados ao cantar Ave Maria. "Imagina eu, do jeito que sou, cantando enquanto a noiva entrava na igreja", diverte-se ao lembrar da banda Prata da Casa que montou com uma amiga da UCpel e o pai Ronaldo Silva, que, na época, já era professor aposentado da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Assim como foi na época da banda, o talento no teatro, hoje, também é dividido com uma pessoa importante na sua vida. Lado a lado, Cris e Paulo sobem ao palco desde março de 2015 para interpretar o espetáculo "Fossa Nossa", que surgiu de uma brincadeira em casa. "Nós costumávamos cantar e tocar piano juntos em casa, sem compromisso, até que resolvemos levar isso para o público", explica o marido. O show, em formato de Stand Up, trata de situações que envolvem a vida de um casal.
Junto há seis anos, o casal fala apaixonadamente da relação. Para ela, o companheiro é uma pessoa incrível e que acrescenta na sua vida. "Eu amo ele", derrete-se e diz que vai longe com os elogios. Ele, que é mais tímido, resume: "Tive sorte".
Eclética quanto aos gostos musicais, Cris cita estilos como MPB, Samba, Rock e Bossa Nova entre os preferidos. Também pudera, cantora e esposa de músico, não seria diferente. E ela brinca: "Me fez ter um tremelique, já digo que gosto da música".
No lugar do outro
Esse é o lema de vida da Cris. Espelhada na mãe, a procuradora Federal Maria das Graças Silva, e no pai Ronaldo, a jornalista busca nesses dois exemplos a melhor forma de encarar a vida. "Meu pai é um brincalhão, um debochado. Minha mãe é uma querida, justa, não julga, e sempre vê o outro lado."
E foram essas características que a levaram a se tornar embaixadora do Instituto do Câncer Infantil no Rio Grande do Sul. Voluntária desde jovem, a irmã do meio de Marcos, 31, e Rafael, 38, descobriu a instituição por meio da RBS TV, quando fez uma reportagem de uma ação de Natal. "Desde essa matéria, nunca mais abandonei a instituição", lembra. Começou na recreação do centro de apoio com as crianças e depois migrou para a Oncopediatria no Hospital de Clínicas. "Vou lá brincar, pintar, desenhar e fazer com que eles esqueçam a radio, a quimio e os remédios por algumas horas", conta.
Entre tantas histórias, gosta de lembrar uma em especial. Era Carnaval quando foi visitar as crianças e percebeu que a ala das crianças estava muito quieta. Com a ajuda do Alexandro, de cinco anos, lembra que pegou umas panelas e os dois saíram pelos corredores fazendo barulho. "Tem gente que diz que não consegue encarar essa realidade, que é muito pesada. Eu também acho pesado, mas eu procuro pensar nas crianças. Se eu estivesse no lugar deles, eu gostaria que alguém viesse brincar comigo. Essa sou eu, me doo, me preocupo com os outros", expõe.
A atuação na instituição também revela um pouco de suas crenças. Batizada na igreja católica e com todas as práticas religiosas realizadas e concluídas - exceto casamento -, hoje, se identifica mais com o espiritismo. "Gosto um pouco de cada, mas o espiritismo eu sinto que explica mais, conforta, dá esperança", elucida, e acredita que a fé ajuda as pessoas a acreditarem mais em si. "Me ajudou muito na crise de 2015", lembra.
Planos, sonhos e realizações
Não fez tudo o que gostaria ainda, mas se diz realizada e a única coisa que sempre pede é para ter saúde para continuar tendo planos e para concretizá-los. Ser mãe é um deles. O desejo que foi protelado por anos começa a surgir com força e, agora, sem impedimentos. "Sempre tinha alguma coisa no caminho, pois priorizei muito meu trabalho. Agora, quero priorizar minha vida pessoal", enfatiza. Por enquanto, o amor de mãe é direcionado a Arthur, 8 anos, e João, 13. Os filhos biológicos de Paulo são os seus de coração.
Também divide a casa e o amor com seus dois cachorros. Com o Yorkshire Fito é toda-amores. Carrega fotos no celular, publica vídeos nas redes sociais e mostra publicamente a paixão pelo peludo. Tem, ainda, a Buldogue Francês Pepa, que também ganha atenção da jornalista.
Bem-humorada e brincalhona, Cris é assim, simples. Gosta mesmo de tomar chimarrão em casa quando está de folga e é apreciadora da Havaiana, da calça de abrigo e do tênis, e quando fala de si é clara e objetiva: "Sou feliz. Consegui criar um nome no Estado, fiz e faço o que eu gosto, tive ajuda de pessoas e conquistei muito mais amigos do que inimigos. Tendo saúde para realizar, bota na conta e vambora."

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