Domício Torres: Perguntar é uma ciência

O 'Domício do Ibope', gerente Regional do Instituto, revela-se uma pessoa extremamente calma, mas dinâmica: "Eu não consigo ficar parado".

Domício Torres - Divulgação

Aos 56 anos de idade, o pesquisador Domício Torres confessa que a pesquisa o fascinou desde o início. Depois de 33 anos na área, 30 na mesma empresa, ele considera-se uma pessoa privilegiada: "Você fica sabendo exatamente como é o comportamento da população", explica. Mais de 30 anos também é seu relacionamento com a fotógrafa Ivanete: "São 36 anos de casamento", comemora. Os filhos Elenise, 25 anos, e Rafael, de 20, completam a família, reunida no retrato em frente à sua mesa de trabalho.

Da cobrança à pesquisa

Catarinense de origem (nasceu na cidade de Salto Veloso, Oeste do Estado), até a adolescência ele viveu em diversos lugares. Quando tinha apenas três meses de idade, sua família se deslocou para a cidade gaúcha de Vacaria.  Aos oito anos, mudaram novamente, dessa vez para o norte do Paraná. Depois voltaram para Vacaria e, dos 10 aos 18 anos, viveu na cidade de Lauro Müller, novamente em Santa Catarina, dessa vez ao Sul. A partir de 1969, a família instalou-se definitivamente em Porto Alegre. Foi quando o jovem Domício começou a trabalhar nas Lojas Masson, na época uma famosa joalheria, no setor de cobrança: "A Masson tinha como filosofia que todo o iniciante trabalhasse primeiramente na cobrança", relata. Ali permaneceu três anos e meio. Da cobrança foi promovido ao cadastro: "O cadastro da loja era extraordinário", admira-se, após ter constatado a quantidade de clientes de seu antigo local de trabalho.

Em 1972, teve seu primeiro contato com pesquisa. Ele respondeu a um anúncio do jornal, no qual o Ministério dos Transportes recrutava pessoal para formar uma equipe de pesquisadores. O resultado seria a reformulação de todo o sistema de linhas urbanas e interurbanas de ônibus da Grande Porto Alegre. Ao ser selecionado, foi contratado para supervisionar as pesquisas realizadas por universitários do Projeto Rondon. Neste momento abriu-se a porta para Domício: "Eu achei uma coisa fascinante: o contato com o público, investigar o que as pessoas faziam, seus hábitos e suas preferências", comenta. Na época, ele circulava pela Grande Porto Alegre, fazendo pesquisas sobre o destino das pessoas: "Abordávamos as pessoas que embarcavam nos ônibus. E ali obtive uma boa formação de como ser um pesquisador, um bom pesquisador", lembra.

Envolvimento total

A sede de seu trabalho ficava no edifício Coliseu, mesmo prédio em que estava instalado o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). Freqüentava a lancheria do prédio. Foi a partir de contatos dali que começou a fazer trabalhos "free lancer" para a empresa.  Após ter terminado a pesquisa do MT, em 1977, continuou fazendo os "free" para o Ibope. Depois, surgiu uma vaga e ele entrou como subgerente do Instituto: "Eu aceitei a vaga administrativa que me ofereceram, mas com a condição de que pudesse me inteirar de todos assuntos da empresa", esclarece. Diferentemente de hoje, seu trabalho abrangia todas as faces da pesquisa: "Agora tem várias unidades de negócios, mas durante um bom tempo, atendi a todas as áreas. E pra mim era ótimo, porque, afinal de contas, podia ter conhecimento e idéias sobre diversos temas", define.

Em seu início no Ibope, a tabulação da pesquisa era manual, os relatórios eram todos datilografados. Depois, veio o surgimento das novas tecnologias, como a máquina de escrever elétrica, a máquina perfuradora para usar em computação, em que a digitação era feita com cartões perfurados, "Uma loucura! Mas para nós, já era um grande avanço", diverte-se. Ele conta as experiências na pesquisa de audiência em TV e rádio: "A gente buscava informação através de sistema de flagrante nas residências, depois vieram os tevêmetros, seguidos dos Tvetrons, até os atuais peaplemeters. Mas, no princípio, tudo era na audiência face a face", relembra.

Domício é consagrado no Sul do país, dentro da sua área, tanto que recebeu o título de Cidadão Porto-alegrense: "Não me considero nenhum especialista, mas pelo entendimento, pelo que observo, pelos eventos que participo, e nos quais palestro, posso dizer que sou um autodidata", confessa. Ele não possui formação superior. Diz que até pensou em fazer, mas não precisou e não teve oportunidade. Mesmo assim, as pessoas o reconhecem como unanimidade: "Aonde vou as pessoas me chamam de doutor, digo que não sou doutor", declara."Eu tenho um conhecimento em todas as áreas, mas pelo envolvimento que eu sempre tive", explica.

As paixões de Domício

Outra de suas antigas paixões é a música. Ele canta desde 1970 num grupo vocal. O "Celebração" apresenta músicas em estilo Gospel. A partir dos ensaios realizados às sextas-feiras à noite e aos sábados à tarde, ele convive com um grupo de mais 10 vozes, entre as quais se incluem as de seus filhos. A agenda para apresentações é sempre lotada.

Torcedor colorado, não dispensa o futebol toda semana. Tem preferência pelo futsal ao de campo.  Além disso, assume ser uma "cinemaníaco". Essas atividades, segundo ele, amenizam o impacto de seu trabalho: "Também ouço muito rádio, leio muitos jornais, assisto TV. E gosto do que faço", define.

"Me sinto privilegiado também porque sempre envolvi minha vida profissional, em termos de Ibope, com os campos mais palpitantes que existem, que são a área de política, a de publicidade e a de comunicação. São as mais conflitantes, não têm rotina", comenta. "Sou uma pessoa extremamente calma, mas sou muito dinâmico, eu não consigo ficar parado. Gosto do trabalho que não tem rotina, onde cada dia é diferente, uma nova circunstancia", conclui. E garante que o trabalho está intrínseco à sua vida: "No meu caso é uma coisa indissolúvel", determina.

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