Elson Sempé Pedroso: Um fotógrafo em um instante

Jornalista, repórter fotográfico e professor universitário, Elson Sempé Pedroso revela paixão em tudo o que faz

Manhã quente de terça-feira. O cenário é o Bar da Famecos, na PUC. Entre um café e uma água mineral, o jornalista, repórter fotográfico e professor universitário Elson Sempé Pedroso conta a sua trajetória profissional em pouco mais de uma hora. É época de recuperação de notas na Faculdade de Comunicação e o movimento de alunos e professores é considerável. As paradas para cumprimentar as pessoas que se aproximam não chegam a atrapalhar a entrevista. Ao contrário, é um sinal de que a história vai ser boa. "Não sou exatamente uma pessoa interessante", confessa em um momento de humildade. Elson vai, aos poucos, mostrando sua paixão pelo ensino e pela subjetividade da fotografia e das relações humanas.
Ele nasceu em 2 de dezembro de 1968, em São Borja. Da infância no interior, lembra da casa do avô. "Morávamos em uma chácara dentro da cidade. Tinha a casa do meu avô, a casa do meu pai e um açudezinho. Era um lugar bucólico, um lugar legal para viver", recorda. Quando tinha sete anos, os pais, Elisabeth Sempé Pedroso e Edson Pacheco Pedroso, colocaram os dois filhos dentro do carro e foram embora. O pai, professor de desenho, foi em busca de um sonho. A família instalou-se em São Leopoldo e o pai foi estudar arquitetura na Unisinos.
Do linotipo à Yashica
O avô, Moarci Matheus Sempé, foi uma influência importante. Militar, historiador e maçom, era um estudioso da história dos Sete Povos das Missões. Durante muitos anos, escreveu artigos para a Folha de São Borja e costumava levar o neto para a gráfica do jornal. Elson ficava encantado com as linotipos e as chapas de chumbo. "Aquilo era mágico", lembra. "Gostava de ver meu avô fazer as coisas e certamente ele me influenciou na minha escolha pelo jornalismo", conta.
E a opção pelo fotojornalismo também tem a mesma origem. O avô tinha uma Yashica TL-Super, uma câmera que começou a ser fabricada na década de 1960. Elson mais uma vez estava lá, observando o avô. "Gostava de ver e de mexer na câmera e nas lentes. Era apaixonado por aquilo." Mas confessa que não sabia nada da arte de fotografar: "Meu primeiro contato com a fotografia foi frustrante. Esperava que a câmera resolvesse o problema. Apertei o botão, mas nada daquilo que eu pensava, acontecia".
Na cidade grande, a família de Elson enfrentou dificuldades, o que significou ter enfrentado uma infância e uma adolescência pobres. Sempre estudou em escola pública, Irmão Weibert, Visconde de São Leopoldo e Professor Pedro Schneider, e sempre foi bom aluno. Gostava de estudar língua portuguesa e acreditava que escrevia bem. O avô possuía uma biblioteca imensa e Elson mais uma vez foi influenciado pelo gosto pelos livros. "No final do primeiro grau, ganhei um concurso de frases na escola. Pensei: esse é o meu caminho", já apontando para o jornalismo, seguindo os passos do avô.
Culpa do cálculo
Aos 17 anos, no entanto, Elson passou no vestibular para Tecnólogo em Processamento de Dados, na Unisinos. "Meus colegas eram fissurados em programação e eu não tinha dinheiro nem para ter computador. Não tinha nada a ver comigo", ri. Só desistiu do curso quando rodou, pela primeira vez na vida, ressalta, em Cálculo. "Foi uma catástrofe."
Então, aos 21 anos, ingressou em Jornalismo, também na Unisinos. "Gostava de escrever e acreditava que tinha certo talento para o texto", recorda. Mas, foi nas aulas de Fotografia que Elson acabou reencontrando a magia que um dia ele percebeu na Yashica TL-Super do avô, câmera que acabou herdando.
Nas aulas de Fotojornalismo, o professor Rogério Soares foi o responsável por apresentar a teoria que faltava na hora de "apertar o botão": "Me reencontrei com a fotografia e aprendi o que faltava para juntar a intenção com o resultado". Ele trabalhou como monitor do Laboratório de Fotografia, o que ajudava a pagar a faculdade e proporcionava um contato mais próximo com a fotografia. Depois da formatura, em 1995, tentou engatar uma carreira no rádio. Para isso, pediu ajuda ao professor e amigo Paulo Torino. Ele foi dispensado. "Cara, o rádio não é teu lugar. Vai para a fotografia", aconselhou o professor.
Sem portfólio nem prática suficientes para ingressar em veículo como repórter fotográfico, Elson ouviu muitos negativas em sua busca por um trabalho em Fotografia. "Tentei diversas vezes. Hoje, agradeço a todas as pessoas que me negaram essa possibilidade", brinca. Ainda em 1995, soube de um concurso na Câmara Municipal de Porto Alegre. Havia vaga para repórter fotográfico, achou que não tinha chance, mas a mãe pensou diferente. Ela se encarregou da inscrição - e o jovem acabou passando em primeiro lugar.
Subjetividade da política
Elson começou a trabalhar na Câmara em 1996. "Foi um salto de qualidade de vida. Deixei as tarefas burocráticas que fazia no outro trabalho e entrei no mundo que sempre quis, o fotojornalismo", conta. No entanto, a realidade era outra, pois continuava sem prática. Nessa época, teve a oportunidade de trabalhar com o repórter fotográfico Maurecy Souza dos Santos, o Santinho. "Ele me recebeu com desconfiança", recorda. "Me ensinou a prática do jornalismo, a lógica do fotojornalismo, da linguagem da fotografia, da subjetividade implícita. Ali eu aprendi o outro lado da fotografia, que estava além da técnica e da mecânica da câmera".
Hoje, já são 15 anos de assessoria de imprensa pública, como repórter fotográfico. O trabalho na Câmara Municipal é diferente do fotojornalismo de veículo: "O que muda no meu trabalho cotidiano é a circunstância na qual as coisas se dão. O mesmo aperto de mão um dia vale tudo e no outro não vale nada. Essa sutileza vai ao encontro da agilidade do jornalismo, da necessidade da percepção, de embutir o subjetivo na foto e de transmitir esse valor dentro de um determinado contexto. Isso nos aproxima da luta diária do jornalismo, só que acaba sendo uma situação repetitiva, que exige um esforço de abstração pessoal".
Essa sutileza acabou gerando uma situação que é simbólica para o fotógrafo. No final da década de 1990, a vereadora Ana Maria Negroni estava respondendo à denúncia de que exigia para si a devolução de parte dos salários dos funcionários de seu gabinete. O relator do processo que pedia sua cassação era o vereador Nereu D´Avila. No auge da crise, Elson viu, na garagem da Câmara Municipal, os dois vereadores conversando reservadamente. Ele fez a foto, pois era uma situação que interessava naquele momento. "Ela era uma pessoa muito afável e eu procurava me dar bem com todos na Casa. Quando fiz a foto, ela olhou para mim com lágrimas nos olhos e disse: 'Elson, até tu'. Aquilo me impactou de maneira impressionante. Era uma situação difícil, mas era a foto do momento", conta.
Também foi marcante na sua trajetória na Câmara Municipal a produção da exposição Subjetivas, que mostra o Plenário de uma forma diferente. "Tentei abstrair as identidades e trabalhar os gestuais da política", explica. Nesse ensaio, ele trabalha imagens de jogos de mãos, de expressões corporais e outras que induzem a certas interpretações. Em 2000, a exposição foi para a Casa de Cultura Mário Quintana. Este ano, participou de um festival nacional de fotografia do Uruguai, chamado Fotograma.
A arte de ensinar
O trabalho na Câmara Municipal ainda permitiu a realização de outro sonho: ensinar. Elson cursou especialização em Teoria e História do Jornalismo, na Famecos, com o objetivo de dar aula na PUC. "Sempre sonhei em dar aula", revela. Chegou a ensinar Fotografia no Senac e na Unisc. Depois de dois anos, acabou sendo chamado pela então coordenadora do curso de Jornalismo, Magda Cunha. "Na sala de aula me realizo profissional e pessoalmente. Ensinar, abrir portas para quem se interessa pela fotografia. Eu sei o quanto foi importante para mim. Hoje, eu consigo fazer o mesmo com os alunos".
Depois da especialização, Elson cursou mestrado na linha de Práticas Sociopolíticas nas Mídias e Comunicação nas Organizações. Sua dissertação foi dedicada a pesquisar a estruturação e do funcionamento da assessoria de comunicação da Câmara Municipal de Porto Alegre, especificamente da fotografia. "Até hoje, a fotografia não se configura como um setor. Estamos brigando para dar identidade para a atividade".
Angústia criativa
Depois de morar por 25 anos em São Leopoldo, Elson mudou-se para Porto Alegre quando casou com a publicitária e advogada Simone. Casado há 14 anos, têm dois filhos, Laura, 8 anos, e Francisco, sete. Trabalhando em três turnos, todos os dias, Elson está sentindo a necessidade de reformular algumas coisas em sua vida. Uma delas é a carga horária. "Estive ausente durante dois anos da vida dos meus filhos e agora preciso conviver mais com eles", considera. Outras decisões são voltar a estudar música (ele toca saxofone), voltar a correr e parar de fumar.
Nos planos, ainda está a ideia de fazer algo diferente relacionado à fotografia. Como o cenário e os atores da Câmara Municipal são repetitivos, "a gente acaba se acomodando e pensando o mundo segundo a própria fórmula", explica. "Tenho que descobrir algo nova para sair desse ciclo repetitivo. Como a minha prática profissional se volta sempre para a mesma situação, para o mesmo ambiente, eu me sinto um pouco angustiado."
Mas, como ele mesmo diz que gosta de finais felizes - e cita como a foto que gostaria de ter feito aquela que retrata o famoso beijo do marinheiro na jovem vestida de branco, na Time Square, captada por Alfred Eisenstaedt - a ideia para o novo projeto deve surgir em breve. "A fotografia é muito exigente com essa relação com a vida. Para fazer determinado tipo de fotografia, a gente precisa estar totalmente disponível. Para conseguir construir a fotografia, o profissional precisa estar absolutamente sintonizado. E isso se reflete na vida pessoal do fotógrafo de uma maneira geral também", conclui.
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