Eugênio Esber: Simplesmente um vencedor

Ele enfrentou as dificuldades, perseguiu o sonho de ser jornalista e construiu uma carreira com muito talento e dedicação.

Um homem simples, observador, de fala mansa e olhar tranqüilo. Assim é Eugênio Esber, que se revela mais um jornalista apaixonado pela profissão. Nascido Eugênio Carlos Borges Esber, há 44 anos em Cachoeira do Sul, é filho do comerciante Jamil e da dona-de-casa Irene, ambos já falecidos. Teve a infância marcada por dificuldades financeiras. Perdeu o pai aos oito anos de idade. Sem o  provedor, o eixo da família, Eugênio e os seis irmãos foram criados pela mãe e pela avó. "Fui um moleque que foi dormir com uma vida organizada e, quando acordou, com pai morto, teve sua vida completamente desestruturada", conta. A  mãe, que não entendia nada do armazém da família, teve que aprender e contava com a ajuda de Eugênio para fazer contas. "O bar ficava na zona do meretrício em Cachoeira, porque meu pai acreditava que lá estava o dinheiro. Foi muito difícil para  minha mãe, uma recatada dona-de-casa, tocar os negócios. Muitas vezes, ia com ela para ajudá-la nas contas e quando a polícia aparecia me escondia embaixo do balcão", relembra.


Mas não são apenas tristes recordações que habitam a memória do jornalista. Da infância, guarda a doce lembrança da liberdade nas brincadeiras de rua, dos jogos de bolita e botão, da pesca em sangas e das peladas de futebol. "Vivia na rua e quando estava em casa gostava muito de ler."


Sábia professora


Eugênio sempre teve facilidade em escrever, um talento que despertou a atenção da professora de Português Dóris Gressler. Quando terminou o segundo grau, ela perguntou se não gostaria de trabalhar em um jornal. "Fiquei surpreso, estava procurando trabalho em qualquer coisa, mas num jornal? Foi como se me perguntasse se não queria trabalhar no New York Times", revela Eugênio, que aos 17 anos foi indicado pela professora para uma vaga no Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul. "Fazia de tudo, reportagem, fotografia, escrevia editoriais, sugeria pautas", completa.


Com um emprego garantido, Eugênio preocupou-se em continuar os estudos. Iniciou, então, a faculdade de Letras. Cursou dois anos, mas não estava satisfeito. Queria fazer Jornalismo em Porto Alegre. "Na época, fui incentivado pelo diretor de Redação, que era o Zeca (José Antônio Vieira da Cunha), e vim para a capital, depois da experiência de três anos no Jornal do Povo. Chegar em uma cidade tão maior foi deslumbrante. Fiquei assustado e excitado ao mesmo tempo", revela. Em 1983, foi aprovado no vestibular de Jornalismo da PUC, paga com muito sacrifício: "Depois de alguns semestres, consegui crédito educativo, senão não teria me formado".


Durante a faculdade, editou jornais de bairro como o Tingão (da Restinga), Zona Sul e Vanguarda (de orientação católica). "Fazia de tudo para sobreviver." No último semestre do curso, foi convidado para fazer o boletim do Centro Acadêmico. O bom trabalho lhe rendeu a indicação para um emprego na produtora T Vídeo, em 1987, ano em que concluiu a faculdade. "Era uma produtora do grupo Joaquim Oliveira, que administrava os supermercados Real. A idéia era fazer um circuito de vídeo com uma programação leve para quem estivesse nas filas do supermercado (do pão, dos frios, do caixa?). "Foi maravilhoso! Ficava nos bastidores, mas tive a experiência de trabalhar com texto de TV, que acho dificílimo e, principalmente, porque lá conheci minha mulher, Maíra, que era repórter", comemora.  A produtora não foi adiante, mas a história que lá começou entre Eugênio e Maíra foi de sucesso. Estão casados há 21 anos e fizeram duas grandes produções: Conrado, 19, e Eduardo, 16. Com a esposa, mantém ainda uma parceira profissional, a Novo Texto, empresa que administra sua atividade paralela como palestrante.


De volta ao veículo diário


Ainda em 1987, Eugênio começou a trabalhar no Correio do Povo, como pauteiro e subchefe de reportagem. Três anos depois, embarcou no sonho de "construir um jornal". Era a Folha de Hoje, em Caxias do Sul. "Fiquei fascinado com a idéia de participar da fundação de um jornal, mas não deu certo. Seis meses depois, recebi o convite do Barrionuevo para voltar ao Correio do Povo como repórter especial. Sabia que o barco estava afundando, então aceitei", revela. De 1991 a 1993, trabalhou ainda nas funções de editor de Política, editor de Economia, e durante um ano ficou encarregado de analisar as edições do jornal. "Levantava os pontos altos e baixos e produzia uma crítica que circulava internamente entre os editores", conta. 


Durante um período, conciliou o trabalho no jornal com o trabalho de assessor na Assembléia Legislativa. Em 1993, entrou para a revista Amanhã. Deixou de lado a Assembléia e passou a conciliar o trabalho no jornal e na revista, mas pouco depois optou por um único foco profissional. "Já tinha tido experiência em veículo diário. Levei em consideração a qualidade de vida e saí do Correio", justifica.


Na revista Amanhã, lá se vão 13 anos de dedicação, onde desde 1997 é o diretor de Redação. E, na mesma editora Plural, é desde 1998 o diretor de Redação da revista Aplauso. Hoje, ele reflete que a linguagem de revista exige um olhar analítico, mais profundo, com matérias mais apuradas. "Fazer revista é como fazer uma safra limitada de vinhos. Tem que ser bom porque a expectativa é grande", compara. 


Bom de samba e de futebol


Uma das grandes paixões de Eugênio é o futebol. "Acho que se não fosse asmático, teria seguido no futebol profissionalmente", afirma. Há mais de 10 anos é o organizador da Sensacional Pelada de sábados, no Estádio dos Eucaliptos. Mais de 100 nomes integram a relação de possíveis jogadores das partidas. O grupo tem regras, normas e código de conduta que devem ser seguidos pelos "sensacionais atletas" que aderirem às partidas. "É uma diversão, tudo brincadeira", explica. "Acho importante colocar tua atenção em coisas diferentes da tua rotina", completa.


Além do futebol, Eugênio gosta de "batucar" um samba. "Quando sinto necessidade de expressão, pego um tamborzinho que ganhei da minha esposa e vou lá pro fundo de casa batucar e cantar. Só eu e a Brusca (cachorra da raça São Bernardo, xodó da família), ela é a única testemunha dos meus desatinos musicais", diverte-se. Para ouvir, destaca, além do samba, jazz, blues, bossa nova e música nativa. "Gosto da boa música. Quem ouve "Romance na Tafona", de Luís Carlos Borges, ou "Negro da Gaita", de César Passarinho, e não se emociona com a letra, só pode ser por preconceito."


Da Literatura destaca Erico Verissimo, pelo humanismo, além de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Saramago e Carlos Drummond de Andrade. No cinema, a preferência é por dramas. "As grandes questões do ser humano me mobilizam. Gosto de personagens complexos, que desafiam o intelecto, os sentidos", justifica a escolha.


Na cozinha, Eugênio se aventura no preparo de alguns pratos. "Faço o tradicional churrasco, paella, parrijada, risoto de mexilhões, mas gosto de comer coisas simples também. Já passei tantas na vida que vejo graça num bom feijão com arroz, não tenho direito de ter frescuras", afirma. 


Embora não aparente, Eugênio se diz extremamente tímido e considera isso um dos seus grandes defeitos. "Estou combatendo", garante. Também sente dificuldade de expressar os sentimentos. "Preciso pensar, elaborar e com isso perco a oportunidade de ser espontâneo", revela. E faz outra reflexão: "Só é capaz de fazer as grandes coisas quem souber fazer as pequenas coisas". Ele acredita que o sucesso é o resultado de um trabalho que persegue sempre o melhor, independentemente de reconhecimento. "Todo trabalho tem que ser bem feito, com carinho. O reconhecimento é uma conseqüência. Além disso, um jornalista precisa ler, reler, e ler; diversificar as leituras" defende.  


Ver o crescimento da revista Amanhã em outras regiões do Brasil e o da empresa Novo Texto é o que Eugênio almeja para o futuro. Mas para sentir-se completamente realizado, pretende, daqui a 20 anos, fundar um jornal , que já tem até nome - Senadinho -, feito por toda a velha guarda de jornalistas. "Através dele, quero mostrar que os velhos têm sempre muito o que contribuir com o jornalismo. Será um jornal semanal, com análise dos fatos", planeja. "Se isso acontecer, se minha família estiver feliz e o Brasil estiver melhor, estarei realizado." 

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