Fernanda Rosito: reinventando-se como a vida
Otimista, de bem com a vida e determinada - três ingredientes que tornaram a descendente de italianos um exemplo de profissional e mulher
Quem olha para ela, de cara já percebe que é uma fortaleza. Está no jeito de falar, calmo e, ao mesmo tempo, enfático; na expressão firme do olhar; na postura confiante. E quando começa a contar sua história, a impressão só se confirma. Fernanda Rosito é uma jornalista apaixonada pela profissão, que sempre correu atrás dos seus objetivos, ao fazer seu nome e conquistar um lugar no mercado da Comunicação. É uma apaixonada pela vida, que mesmo quando esta pregou peças, nunca deixou a "peteca cair". Pelo contrário, no momento em que teria motivos para desmoronar, levantou ainda mais a cabeça e confirmou a guerreira que era. Aos 39 anos, em maio de 2018, com um filho pequeno, descobriu o câncer de mama e, decidida, disse para si mesma: "Morrer não é uma opção". Profissional, mulher, esposa e mãe precisaram se reinventar. E assim o fizeram.
Nascida em seis de agosto de 1978, em Porto Alegre, mas que residia em Novo Hamburgo, desde o final de 2019 decidiu seguir a vida em Santa Catarina. Itapema foi a cidade escolhida para começar esta nova fase da sua caminhada. O motivo? Precisava deixar as lembranças dolorosas para trás. Na sua antiga casa, acabava revivendo os momentos de luta contra o câncer, assim como a presença de sua tia, que ela considerava uma mãe. Por um acaso infeliz do destino, justamente quando Fernanda estava se reerguendo profissionalmente após a cirurgia, em janeiro de 2019, descobriu que naquele momento era sua tia que estava com a doença. Antonieta Rosito, 75 anos, partiu em sete de julho, quatro meses após descobriu a enfermidade. Assim, após esse turbilhão de emoções, foi no feriado de 20 de setembro de 2019 que Fernanda decidiu não voltar mais para sua antiga vida. Conforme ela, o universo conspirou a seu favor, pois, na mesma semana em que encontraram o apartamento para morar, receberam a proposta de compra da casa onde moravam.
Maternidade: uma decisão muito bem planejada
Filha de Antônio Rosito, corretor de imóveis, e Margarete Rosito, dona de casa, Fernanda, apesar de se dar bem com os pais, sempre teve como referência familiar Antonieta. Foi com ela que, ainda menina, aos 17 anos, decidiu morar. E foi a tia quem esteve ao seu lado durante todo o período de luta contra o câncer. A filha caçula de três irmãos, Diego e Rafael, se reúne com a família sempre que dá. O pai mora em Porto Alegre, enquanto a mãe, em Florianópolis.
Falando em família, após nove anos de relacionamento com Luciano, sendo seis de casada, decidiu que era hora da família crescer. A mulher que até então não pensava em ter filhos, mas se dedicava com atenção e carinho ao enteado Samuel, um dia refletiu: "Assim como passo meus valores para o meu enteado, também quero passar para o meu filho e, de alguma forma, perpetuar aquilo em que acredito". Fernanda confirma que a maternidade nunca esteve nos seus planos, mas se lembra de falar em grupos de amigos que não querer tê-los e não pensar em tê-los eram situações diferentes. Ela não tinha refletido sobre o assunto ainda, pois estava no auge de sua carreira. Mas aí os anos foram passando, a idade avançando e ela constatou: "Se eu tiver, eu não vou me arrepender, mas se eu não tiver, eu posso me arrepender".
Fernanda conta que Enzo, nome de seu filho, hoje com três anos, foi muito planejado. "A decisão mais difícil foi quando fechei a estrutura física da minha empresa para permitir que meu filho viesse de uma forma que eu pudesse assumir meu papel como mãe", recorda. Com mais de 30 clientes, seis funcionários, trabalhando de segunda a segunda, em uma rotina que começava às 9h e terminava às 20h30, a jornalista sabia que naquele modelo de vida não teria como assumir a criação do herdeiro: "Eu precisava diminuir meu ritmo de trabalho, porque eu queria ser mãe 100%". Segundo ela, foi necessário adaptar a rotina profissional a fim de buscar a qualidade de vida da sua família. "Sempre coloquei meu trabalho em primeiro lugar e, pela primeira vez, eu estava deixando ele em segundo, e não ia me tornar menos mulher ou menos profissional por causa disso", reafirma.
Câncer: uma oportunidade para ressignificar sua existência
Quando o pequeno Enzo tinha um ano e oito meses, Fernanda precisou dar ao seu marido, família e amigos uma notícia que nenhuma jornalista gostaria de declarar sobre ninguém, menos ainda sobre si: estava com câncer de mama. Para piorar o baque, um mês antes, havia optado por cancelar seu plano de saúde. Mesmo diante do choque, com os pés no chão, a medida imediata adotada por ela foi vender o carro, pois a primeira quimioterapia foi particular: "Deus sempre esteve do meu lado. Eu vendi o carro em uma semana", lembra. Graças ao apoio de um amigo mastologista, conseguiu antecipar todos os diagnósticos e em 25 dias já estava fazendo a primeira sessão.
Fernanda lembra que voltou da primeira quimio se sentindo super autoconfiante. Mal sabia ela que as próximas a desafiariam tanto. O cansaço físico era imensurável. Precisava sentar no meio do banho, mal tinha forças para trocar as fraldas de seu filho, precisava dormir muito, comer a cada duas horas. A cada momento de sofrimento, se perguntava: "Quando isso vai sair de dentro de mim?".
Quinze dias depois da primeira sessão de quimioterapia, em junho de 2018, seu cabelo começou a cair. Vaidosa, de madeixas lisas e loiras, decidiu deixa-lo curto. Depois, foi novamente ao salão e pediu para raspar: "Isso foi muito difícil, porque era a doença me dando um soco na cara". Sua autoestima e amor pela vida começaram a ser questionados. "O problema é que eu estava doente e precisava assumir para mim isso. Eu estava com cor de doente, aspecto, olheira e, além de tudo, eu estava sem cabelo", descreve. Enquanto lidava com uma imagem que não reconhecia, buscava respostas: a quem magoou? A quem prejudicou? Pedia perdão porque achava que tinha feito algo errado e estava pagando por isso agora.
Apesar de todo sofrimento, sabia que não iria morrer. O apoio incondicional de seu marido, o amor e cuidado de sua tia, e a certeza de que precisava ficar boa para criar seu filho, lhe deram forças para seguir lutando e mostrando que era mais forte do que imaginava. Para Fernanda, depois do susto inicial, o câncer foi uma oportunidade de rever todos os seus conceitos e valores. "Eu voltei a ter brilho no olho, a ser a pessoa feliz, otimista, alegre que eu sempre fui", reflete. Passou a se identificar consigo mesma, não tinha mais vergonha de sair na rua, tinha voltado a se maquiar e retomar sua vaidade característica. "Eu comecei a perceber que eu precisava viver, que eu tinha um filho, um marido maravilhoso, que sempre me apoiou e esteve do meu lado, e que, literalmente, segurou a minha mão e me deu vida", conta, emocionada ao relembrar tudo que ele fez a partir do momento em que descobriram o câncer. Graças ao esposo, ela diz ter feito todos os exames, viajado para fazer a primeira quimio, ter asseguradas todas as despesas médicas até conseguir seguir o tratamento pelo SUS. Quando soube que cada aplicação custaria R$ 20 mil, Luciano dizia: "Se precisar a gente vende o carro, o apartamento, mas tu não vais ficar sem essas quimios". A ele, é eternamente grata.
Com o câncer, Fernanda afirma ter passado a valorizar situações que não dava atenção antes, mas hoje as aprecia e agradece. "Quando as pessoas diziam que era um divisor de águas, eu não entendia. Agora, sim". E já que havia decidido que 2018 seria o ano em que daria um tempo para se cuidar, olhar para dentro, se curar, decidiu aproveitar o tempo em que se sentia bem, sem sofrer com os efeitos da quimioterapia, e estudava. Aproveitou para se reciclar em Comunicação. Estudou Jornalismo, Marketing Digital e Assessoria de Imprensa.
Comunicação: dona da sua carreira
E falando em Comunicação, Fernanda que sempre planejou cada passo, após vencer esta etapa não-planejada da vida, decidiu retomar os projetos à frente de sua empresa: a FR Press. Produção de conteúdo, redes sociais, clipping, assessoria de imprensa, planejamento de comunicação e plano de marketing são os serviços prestados por ela. Fundada em 2011, a FR nasceu despretensiosa: "Depois das minhas experiências mais memoráveis na revista Amanhã e na Fiergs, surgiram vários freelas. Comecei pedindo nota para um colega, depois fiz o MEI, e então decidi que era hora de profissionalizar minha marca. Criei um site e montei um home office no meu quarto", explica.
A jornalista brinca que só decidiu ter uma sala quando começou a conversar com o seu cachorro e ele começou a responde-la. A partir deste momento, foi para um coworking, onde permutou o espaço pelo serviço que prestava. Então, quando pegou uma campanha política e precisou ter mais gente trabalhando com ela, alugou a primeira sala. "O negócio foi crescendo fisicamente, tanto em estrutura como em equipe, à medida que alguns episódios foram acontecendo. Fui planejando e executando, dando um passo de cada vez", frisa.
Formada em Jornalismo pela Ulbra/RS, com MBA em Marketing pelo IBGEN e pós-graduação em Comunicação Empresarial pela Uniritter, Fernanda salienta que tem muito orgulho da carreira que construiu. "Eu não tive um pai que comprasse um carro e me pagasse a faculdade. Trabalhei para isso. Claro que eles me apoiaram como podiam, mas eu não era quem as pessoas achavam que eu era: uma patricinha de salto alto, unhas feitas, carro e que não sabe o que é pagar contas", relata. Dona de si, ignorou os comentários pejorativos a seu respeito e seguiu firme, empreendendo, liderando equipe, coordenando processos, cuidando do financeiro, atendendo e prospectando clientes e desenvolvendo trabalhos. Já são quase 20 anos de carreira, nove anos de empresa e mais de 200 clientes no histórico da carteira.
Também idealizadora e editora do portal 'Negócio Feminino', recorda-o com carinho e saudade: "Foi um momento de muita gratificação. Eu tive muito reconhecimento e conheci muitas pessoas que talvez eu não teria sem ele". Um momento marcante foi quando uma colaboradora se demitiu chorando agradecendo a oportunidade, porque foi com a empresa que a menina conseguiu uma vaga em um grande veículo de Comunicação. Lamentando não ter braço para tocá-lo, hoje o portal está parado, "quietinho", como ela define. "O que vai ser dele eu não sei. Eu fico triste, não frustrada, porque eu não tenho como dar o carinho que ele precisa. Me orgulho dele ter sido o primeiro e único portal sobre empreendedorismo e carreira feminino", exalta.
Sobre o futuro, Fernanda dá um spoiler: lançará em breve um projeto de assessoria digital e novas mídias direcionado, principalmente, para mães empreendedoras. "Espero daqui a alguns anos estar fazendo exatamente o que estou começando neste momento e, futuramente, poder olhar uma mulher à frente de negócios de sucesso e que começou com a minha ajuda", vislumbra.
Mulher: ela é o arco-íris depois da tempestade
Com uma gargalhada contagiante, quando questionada sobre o que faz quando não está trabalhando, Fernanda responde: "Nada, ué, dia de folga é dia de folga!". Ela não aproveita para ler, ver filmes, ou qualquer tarefa que tenha ficado pendente. Quer mesmo é esvaziar a mente, viver e abrir uma espumante. Aprendeu a relaxar e curtir o dia como ele se apresentar. A mais nova praticante de beach tennis, também desenvolveu um novo gosto: o de cozinhar. "Adoro comer. Com as quimios eu perdi o paladar, e fiquei muito tempo sem sentir o gosto de nada, então percebi como é bom. Além disso, a comida reúne e aproxima as pessoas. Não abro mão mais de sentar e tomar café da manhã. Eu me criei com família de italiano. Amo massa, pizza, pastel, pão, batatas fritas", delicia-se, imaginando.
Quando não está de folga, mas tem um tempo livre das obrigações de profissional e mãe, gosta de ler. As leituras variam entres obras técnicas de Comunicação, biografias, espíritas, policiais e suspenses. "Sempre tenho dois ou três livros de cabeceira, intercalando os tipos. No momento, estou lendo a biografia de Michele Obama", informa. Para assistir, gosta de séries. As mais recentes foram 'La Casa de Papel' e 'Vis a Vis'. Entretanto, rindo sem jeito, faz uma confissão: adora novelas. E tem mais: o marido é o maior parceiro, um "noveleiro de carteirinha". Fã de Shakira, também gosta de ouvir pop e funk para dar uma animada. Diversão, por sinal, é o que não falta na vida de Fernanda. Sempre de bem com a vida, se define como uma eterna otimista: "Sou a parte do copo meio cheio".
Para encerrar, cita uma frase que gosta muito: "O arco-íris só aparece depois da tempestade". A citação da qual desconhece o autor foi lida no consultório de um oncologista e virou seu lema. "Às vezes, a gente está passando por um momento de turbulência e temos que ter serenidade para ultrapassá-lo, porque para o arco-íris aparecer tem que ter tempestade". Essa positividade sempre foi característica dela, mas a batalha contra o câncer veio para reafirmar seu jeito de ver a vida e mostrar que ela era mais forte do que imaginava ser. E assim continuará sendo, porque a vida foi feita para ser vivida, e reinventada.