Fernanda Rotta: Das câmeras aos cavalos

Publicitária, a diretora de Cena da Zepp Filmes fica entre a Capital e a fazenda, enquanto se divide entre os sets de filmagem e a criação de Angus

Uma porto-alegrense um pouco pelotense: assim se define a publicitária e diretora de Cena da Zepp Filmes, Fernanda Rotta. Isso porque a mãe Rosaura, moradora de Pelotas, veio apenas dar à luz a filha mais velha em Porto Alegre, onde morava a avó da comunicadora. Além da capital gaúcha e da terra dos doces, outro lugar que ocupa um espaço importante na vida dela é Santa Vitória do Palmar, cidade da família do pai, seu Rubens. 

Foi assim, entre as três regiões, completamente diferentes uma da outra, que se moldou como pessoa. O que chama de "junção maluca, de uma galera que é moderna, como o meu avô, que vendia seguro, mas era bem descolado, e minha avó, que era uma mulher muito cabeça aberta, com a família do meu pai, pecuaristas do Interior". 

Inclusive, quando os trabalhos no audiovisual cessaram, devido à pandemia e às restrições impostas por ela, foi a cerca de 500 quilômetros de Porto Alegre que encontrou a solução para escapar do caos: regressar a Santa Vitória do Palmar, nas terras da família. Foi lá, no município tido como o mais ao sul do Brasil, que se reconectou com a fazenda e redescobriu seu lado B: cuidar da criação de touros e matrizes Angus, ao lado das irmãs, Camila e Elena, bem como do cunhado.

Ovelha publicitária da família 

Vinda de uma família bem feminina, visto que perdeu o pai cedo, aos oito anos, Fernanda é filha e irmã de médicos. Logo, é a única que não optou pela área da saúde no vestibular, mas algo completamente diferente. O motivo? A tia Cláudia. Formada em Publicidade e Propaganda, a irmã da sua mãe era sinônimo de modernidade e "a fonte das informações de tudo o que era mais cool". Como achava tudo aquilo o máximo, pensou que seria muito legal ser a tia Cláudia. E pronto. Virou publicitária.

Quando chegou a hora de ingressar na faculdade, saiu de Pelotas para morar na cidade natal e, desta vez, permaneceu em Porto Alegre por bem mais tempo do que quando nasceu. Morando com a avó materna, estagiou na extinta DCS, em uma espécie de clipagem dos clientes da agência e, após, tornou-se assistente de Atendimento. Depois de realizar um curso de inglês na Califórnia, nos Estados Unidos, quando retornou ao Brasil, teve passagens por duas produtoras de áudio, Plug e Deff Reclame, respectivamente. 

Logo após, foi para outra produtora, mas desta vez, de vídeo, a TGD. Ainda atuando como Atendimento, relata que naquela época percebia que só se viam homens como diretores de cena. "Comecei  a pensar: poxa, por que não pode ser uma mina?" Foi assim que entendeu: sua cachaça seria o audiovisual e, mais ainda, queria estar à frente da direção de filmes publicitários. A obstinação deu resultado: tornou-se assistente de Direção de Mocita Fagundes e, quando começou a dirigir pequenos projetos, recomeçou a carreira como segunda assistente na Zeppelin. O fato de conhecer a agora diretora da  Mythago a impactou de tal maneira que relata: se não tivesse a encontrado pelo caminho profissional, talvez não virasse diretora, visto que foi muito importante ter uma referência feminina na área.

Paixão pelo vídeo

Na carreira, ainda acumula passagens pela Escala, como produtora de RTVC, e a direção de um seriado para o FX, 'A Vida de Rafinha Bastos', quando passou um ano na capital paulista. Além disso, saiu novamente do País para trabalhar, atualizar-se e se especializar em Direção de Cena, mas desta vez em Sydney, na Austrália. Ao retornar para a Zepp Filmes, ajudou a montar o Núcleo Z, setor de TV e conteúdo da empresa. E foi assim, depois de muita determinação e foco, que conquistou o cargo de diretora de Cena de Publicidade.

Desde lá, dirigiu mais de 60 filmes publicitários para clientes como Banrisul, Claro, Pepsi, Renault, Renner, Trivago e Zaffari. Em 2015, a campanha em que esteve à frente da Santa Casa, 'Luis Fernando Verissimo', foi reconhecida no Prêmio Profissionais do Ano da Rede Globo, no Festival El Ojo de Iberoamérica, além de ser finalista no Clio. Com tamanha trajetória vitoriosa, enxerga como o principal desafio da carreira tentar imprimir um pouco dela e do que ela acredita em trabalhos que são encomendados. 

Entretanto, toda a trajetória vitoriosa de Fernanda na Zepp passa longe de um processo comum de seleção para a vaga. Muito pelo contrário. Ao sair para jogar futebol com Paula Jobim, que atuava como primeira assistente de Direção na produtora, começou a insistir para a amiga a levar para trabalhar com ela. Depois de muita persistência, conseguiu o que desejava desde quando era estudante. "Apesar de ter feito várias entrevistas com as pessoas que realmente as realizavam, consegui entrar pelo futebol, pela parceria da Paula e como segunda assistente dela", recorda.

Rotina sem rotina

De acordo com Fernanda, atuar como diretora de Cena é ter uma rotina que não existe. "Trabalho por projetos e, quando estou em um, é cem por cento de dedicação", diz. Por isso, a mãe de Theo, de seis anos, deixa o filho com o pai e passa o dia inteiro em função do trabalho na produtora. Por outro lado, quando não está à frente de algo, fica com o pequeno pela manhã, enquanto participa de reuniões e realiza outras demandas possíveis e, pela tarde, quando o deixa na escola, vai para a Zepp.

Contudo, isso não é algo negativo para ela. Pelo contrário: "A falta de rotina é algo que gosto mais do que da função da direção de Cena de Publicidade", revela, ao abordar que é justamente o contraponto positivo do trabalho em agência, onde tentou, mas não se encaixou naquele dia a dia mais igual. "Eu não conseguia fazer a 'hora bunda', não conseguia ficar lá de tal a tal hora, porque isso não funcionava para mim. E essa rotina sem rotina é o que eu mais gosto."

No dia a dia, entre os sets de filmagens e os passeios a cavalo na fazenda, ainda arranja tempo para praticar natação e caminhar, uma vez que o esporte favorito, futebol, não pode mais fazer, devido a um problema no joelho. Colorada e xavante, mas desencantada como torcedora, ainda acumula como hobbies pintar e fazer algumas colagens. Sedenta por cultura, tem o hábito de passar pelos museus para ver o que está acontecendo. Além disso, gosta bastante de ir ao cinema, apesar de se atrapalhar com os horários das sessões - e acredita que está devendo ao teatro e deveria frequentar mais.

Habituada a ler, cita a autora Agatha Christie como responsável por apresentá-la ao mundo da leitura. Atualmente, está lendo  'O corpo dela e outras farras', de Carmen Maria Machado. Em relação à música, conta que escuta de tudo um pouco e não tem um estilo preferido. "Mas ando em uma fase meio Black Music, como Funk norte-americano e Groove. Eu gosto muito de dançar, então, acaba que é o que ponho para fazer tudo", menciona.

Conquistar o mundo

Ela, que se considera uma pessoa muito flexível, acredita que conseguiria trabalhar em qualquer área. "Acho que a direção de Cena e a Publicidade proporcionam mergulhar em universos tão diferentes de uma semana para outra. Então, estou educada e treinada a me adaptar. Penso que essa adaptação é a grande sacada de quem dirige e faz isso", opina, ao manifestar que gostaria de ter feito Arquitetura quando era mais nova, algo que a encanta muito, apesar de não ter paciência para fazer cálculos.

Com o lema de vida "fod*-se" e se definindo como uma pessoa que busca aventura e novidade, é curiosa e deseja o que é diferente. Além disso, considera-se alguém que é "pau para toda obra", pois "pode contar comigo, que eu vou até o final". Em compensação, enxerga-se como uma pessoa egocêntrica, mas se diverte alegando que "faz parte do show".

Em uma fase em que se refere como "bem boa de mãe de criança pequena", aponta que, para os próximos anos, deseja ficar em Porto Alegre por um tempo, porque é a cidade que escolheu para ver o filho crescer. "Mas depois que ele ficar mais independente, eu fico mais solta no mundo, né?", brinca, ao abordar que gosta muito de viajar, aprender e fazer cursos. Por isso, no futuro, tem muita vontade de se atualizar fora do Brasil. E, como diz no desenho infantil 'Pink e Cérebro': conquistar o mundo!

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