Fernando Albrecht

Das madrugadas do plantão policial de Zero Hora, no final dos anos 60, para a página 3, do Jornal do Comércio, o gaúcho de …

Das madrugadas do plantão policial de Zero Hora, no final dos anos 60, para a página 3, do Jornal do Comércio, o gaúcho de São Vendelino Fernando Albrecht tem dedicado mais de 30 dos seus 58 anos de vida ao jornalismo. Nesse período, intercalou uma sequência de trabalhos na área de comunicação, que inclui passagens por agências de publicidade (Inter Propaganda, Mercur, SGB e Publivar), assessorias de imprensa e consultorias nesse segmento. "Também participei do primeiro programa sobre bolsa de valores na televisão brasileira, que foi o 'Pregão', na antiga TV Gaúcha", relembra ao contar um pouco de sua história à Coletiva.Net, em um café do Centro de Porto Alegre.

Para Albrecht, uma boa história no jornalismo passa pela recuperação de uma imagem que vem se perdendo nos tempos modernos: a reportagem. "Há uma crise na pauta, e reconheço que não estamos dando ao público leitor o que ele realmente quer, mas sim o que imaginamos que sejam seus desejos", afirma. Entre as causas desse distanciamento, o colunista aponta problemas técnicos como o fim dos setoristas nas redações e a denominada 'ditadura do comercial'. Para ele, quando um repórter se esmera, produz uma boa matéria e ganha um prêmio, a pior recompensa que ele pode receber da empresa é transformá-lo em um editor, o deixando dentro da redação. No entanto, o jornalista reitera sua expectativa na quebra do "engessamento atual do jornalismo, já que estamos preparados para receber uma experiência nova, como foi o Pasquim, durante o período da ditadura militar", sustenta.

Os fundamentos de um bom jornalismo foram sendo absorvidos em diferentes momentos da carreira. Casado e pai de dois filhos, Albrecht ressalta as qualidades que são inseridas quando do trabalho na reportagem, principalmente, na área policial. "É uma prioridade para quem deseja ser um bom repórter", diz. Ao mesmo tempo, mostra que a pluralidade de ações pode garantir mais espaço no mundo da comunicação. "Já participei de diversas experiências, com idas e vindas em Zero Hora e na própria RBS TV, durante o período do Maurício Sirotsky, na TV Difusora, na Folha da Manhã e no próprio Jornal do Comércio, para onde fui aceitando um convite muito especial do Hélio Gama para fazer a página Começo de Conversa, antes com o Adão Oliveira", destaca. Recentemente, Albrecht passou um período como comentarista de rádio e TV, na Rede Pampa.

Amizades e polêmica

Caseiro por opção, Cascatinha (como é mais conhecido pelos pares do jornalismo) diz ter no bate-papo com amigos uma opção para os finais de semana. "Já fui da noite, mas hoje prefiro dormir mais cedo, ver televisão e ler em casa", salienta. Não muito afeito à navegação na Internet, Albrecht faz questão de enobrecer a ferramenta como um produto a mais para abrir o mercado na área de jornalismo. "Não fui contaminado pelo vírus da Internet, e depois de passar ligado na redação, prefiro desligar do computador."

Para tirá-lo de casa, o melhor é um convite para um bom jantar. "Não cozinho nem ovo, mas gosto de comer bem, em restaurantes em que a especialidade não seja aquela comida 'sofisticada', do tipo preço de boate e qualidade de orfanato", revela. A companhia musical é outra que agrada a Fernando Albrecht. O jazz é o seu chão, principalmente os compositores do período compreendido entre os anos 30 e o final dos 50. "Também gosto muito do blues do delta do Mississipi e alguns blueseiros da atualidade, sem esquecer o ídolo Louis Amstrong", enfatiza. Entre os clássicos, prefere o que considera o Trio de Ouro: Bach, Beethoven e Mozart. Para quem gosta de cinema, Cascatinha é seletivo. "Prefiro sempre histórias leves como os policiais, longe do estilo papo-cabeça", sustenta.

Colunista sem papas na língua, considera-se uma pessoa que mais observa do que torce quando o assunto é política e economia. Para ele, o mundo passa pelo período do pêndulo: depois de ter ficado muito tempo para a direita, agora se volta para a esquerda. "A questão mais importante é saber que tipo de esquerda é que está surgindo como opção", argumenta. Considerando confuso o quadro político no Rio Grande do Sul, não perde a oportunidade de polemizar. Para ele, o fenômeno eleitoral da história contemporânea foi a eleição de Antônio Britto "que trazia um projeto modernizante para um Estado retrancado, castilhista e do contra", sentencia. No campo econômico, o jornalista do JC acredita que a concentração dos principais setores nas mãos de um pequeno número de grandes conglomerados multinacionais está levando a uma situação indesejável, em que manda quem pode e obedece quem precisa. "Nós estamos olhando muito as árvores, sem ver a floresta", metaforiza. Nesse momento, reforça sua tese da necessidade de se aprofundar as questões, como nas grandes reportagens.

Nesse ponto, ele faz questão de relembrar um episódio que enumera como um dos mais reveladores sobre a importância de se enxergar a floresta. O repórter William Waack, quando no Estadão, foi à Rússia e mexendo nos arquivos do antigo governo soviético, descobriu as ligações com o Partido Comunista Brasileiro. "Moscou teria recebido parcela de uma partida de ouro que o então presidente Getúlio Vargas havia 'adiantado' para o Luís Carlos Prestes, presidente do Partidão", relembrou, enfatizando a necessidade de se aguçar a curiosidade das pessoas, e não só de repórteres.

TV E CONFLITOS

Depois de percorrer uma história junto aos principais veículos de comunicação do Estado, Fernando Albrecht diz que o seu atual projeto, caso arriscasse chamá-lo assim, é a realização de um programa de TV, diário, em um canal da NET. "Queria fazer algo como um Porto Alegre Connection, mostrando que a lógica da Escolinha do Professor Raimundo se presta muito ao veículo TV, em que não é o artista que conta, mas o grupo", avalia. Cascatinha confirma que sua participação recente na TV foi um trabalho interessante, e que pode incentivá-lo a novas investidas. Para isso, considera necessário manter sempre em mente o que pode definir como filosofia de vida. "Com a experiência, ou idade, como queiram, entendi que o melhor é evitar os conflitos, até mesmo para a saúde", diz.

Ele entende que se não tiver 30% de chance de mudar o ponto de vista do outro, é puro estresse, o que é preciso deixar de lado. Para um colunista, a curiosidade além de ser inerente, juntamente com as boas fontes, é algo que tem de ser instigado. "Isso, mais uma dose salutar de cinismo, ajuda a construir uma coluna de sucesso; sempre lembrando que não existe coisa mais velha do que jornal de ontem", reforça.

Comentários