Fernando Tornaim : Jovem multimídia

Executivo conta como idealizou e criou, sozinho e com apenas 19 anos, o Kzuka

Desde cedo ele soube que queria trabalhar com Comunicação, mas o que faria exatamente é que não estava claro em sua mente. Após uma temporada em Nova York, a ideia estava formatada. Iria produzir Comunicação para o segmento jovem. Assim, Fernando Tornaim, 29, dava início, há exatos 10 anos, ao Kzuka. "Queria criar algo que conversasse diretamente com os jovens", diz. E conseguiu.

De volta ao Brasil e com a intenção de fazer uma publicação voltada aos jovens estudantes de Porto Alegre, foi atrás da viabilização de seu plano. Em oito meses, colocava nas ruas a primeira edição da revista que virou sucesso de público. Com a ideia de só lançar seu projeto quando os custos estivessem pagos, saiu batendo de porta em porta. Sem noção de tamanho de anúncios, pegou uma régua e mediu no jornal para criar suas planilhas e saiu a vender. "Quando tu estás começando, tem muito mais que fazer as pessoas acreditarem num sonho, do que num produto. Foi o que eu fiz", destaca Fernando.

Antes de viajar ao exterior, porém, uma premissa já estava definida na vida de Fernando. Ele cursaria Administração e não Jornalismo. "Tinha convicção de que queria ter um negócio de Comunicação e não atuar como comunicador. Assim, cursou vestibular e passou para Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Mesmo com o foco nas questões administrativas do negócio, no começo ele fez um pouco de tudo. De reunião de pauta a redação de textos, venda de anúncios e criação do nome que, aliás, surgiu totalmente por acaso. A origem da marca é baseada no gosto de Fernando pelas letras K e Z e sua certeza de que queria algo que falasse "pros guris e pras gurias". "Fui juntando as letras daqui e dali e surgiu o nome", recorda.
Com planejamento

A revista deu seu start com três anunciantes: Unificado, STB - Student Travel Bureau e Lojas Tok Feminino. O terceiro, na verdade, representou uma forcinha de seus pais Mauro e Lenita, donos da rede de lojas. "Obviamente, o exemplo de dentro de casa me inspirou muito", confessa Fernando. Segundo ele, a vida em família sempre foi muito boa, mas não faltaram limites e disciplina. "Ou a gente aprende isso no momento certo ou passaremos uma vida inteira tentando acertar", ressalta, evidenciando sua satisfação com a forma como os pais o criaram. 

Pouco tempo depois de seu lançamento, a revista Kzuka já tinha versão para rádio e internet. "Desde o início, a minha ideia era criar uma plataforma multimídia", recorda Fernando, que, por muito tempo, agiu por instinto. "Conforme fui estudando e aprendendo, percebi que fazia muita coisa no amadorismo", diz, reconhecendo a importância de se fazer um bom planejamento.

Após um primeiro ano difícil, ele questionava a real possibilidade de seguir em frente com os negócios. Foi quando surgiu a possibilidade de fazer um programa para a TV. O convite partiu de César Freitas, à época gerente de jornalismo da TVCom. "Ele me chamou para perguntar se eu tinha estrutura para fazer um programa de cinco minutos. Respondi com a maior tranquilidade que sim e saí de lá me perguntando como se faz um programa de TV". Dali em diante o Kzuka também passou a ser transmitido na rádio Atlântida e iniciou sua fase de eventos. Hoje, a estrutura da empresa se divide em três pilares: Comunicação, Inteligência e Relacionamento e Ativações no media .

Mas Fernando ainda mantinha o sonho de entrar na Zero Hora, algo que ele vinha tentando desde antes de criar o Kzuka. Acontece que antes de viajar para Nova York, lá em 1999, ele foi até a redação de Zero Hora, informou sobre sua ida para o exterior e se ofereceu para ser correspondente do jornal. Ao ouvir um "Muito obrigada, mas não vai dar", saiu de lá "enlouquecido" e certo de que ainda escreveria para aquele jornal. A chance tão esperada chegou, mas, desta vez, era melhor. Era uma oportunidade para que o Kzuka passasse a ser encartado em ZH.
Casamento

Após cinco anos de Kzuka, a empresa passou por novas mudanças. Fernando, que iniciou o empreendimento totalmente sozinho, o viu crescendo e expandindo ao ponto de chamar a atenção de um grupo de comunicação como a RBS. Após a incorporação da marca Kzuka pelo Grupo RBS, Fernando é sócio-diretor da empresa, que conta hoje com 130 funcionários e sedes em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, tem como planejamento estratégico entrar em mais quatro estados até o final de 2011. "Aprendi muito com a estrutura que a RBS trouxe para o meu negócio. Foi uma experiência muito interessante, eu tinha 24 anos e estava negociando a venda do meu negócio para um grande grupo."

Se criar o Kzuka lhe trouxe inúmeras possibilidades na vida profissional, na pessoal não foi diferente. De casamento marcado com a jornalista Carolina Ceolin, conta que a paquera com a noiva começou durante uma conversa sobre possibilidades de trabalho. "Nós tínhamos amigos em comum e um dia me disseram que ela estava procurando emprego. Aproveitei para conhecê-la melhor", conta. Juntos há cinco anos, o casal celebra união em 2011.

Reservado, Fernando é resistente em abrir seus gostos e preferências na vida pessoal. Com um pouquinho de insistência ele revela que é colorado "fanático", que adora fazer churrasco com os amigos, curtir um cinema, uma praia, e sair para viajar com a família. Inclusive, atualmente passa férias em Nova York com o pai. Também gosta de praticar esportes, entre seus favoritos estão tênis, futebol e corrida. Outra prática de que não abre mão é da análise. Em terapia há 10 anos, diz que o processo de autoconhecimento fez toda a diferença em sua trajetória. "Sem dúvida, a análise auxiliou muito durante esses 10 anos de Kzuka", acredita.
Equilíbrio

Com negócios em São Paulo desde outubro de 2009, passa uma semana na capital paulista e outra em Porto Alegre. Sobre a possibilidade de mudar-se para a terra da garoa, descarta mudanças a curto e médio prazo. "Meu lugar é aqui, enquanto eu puder continuarei em solo gaúcho". De família judaica, procura manter-se sempre perto do clã. Irmão de Renata, dois anos mais nova, diz que sempre foi parceiro da irmã e que os primos eram seus grandes companheiros nas brincadeiras de infância. 

Perguntado se vê em Nelson Sirotsky, presidente do Grupo RBS, um ídolo, já que são duas trajetórias semelhantes, afirma que sim. "Sem dúvidas, o Nelson é uma pessoa diferenciada", reconhece. Outra inspiração para sua carreira é o perfil do cineasta Steven Spielberg. "Sempre admirei o Spielberg por sua capacidade de inovação e fazer sucesso com tudo o que produz", destaca.

Apaixonado pelo trabalho, Fernando tem hora para começar suas atividades, mas não tem hora para sair da empresa. Sua prioridade atualmente é o casamento e o núcleo familiar que está começando. "Quero formar uma família com tudo o que eu tenho direito." Na vida profissional, trabalha intensamente para colocar em prática o plano de expansão traçado para a empresa até 2014. Mas, acima de tudo, destaca que sua busca é pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional . "Valorizo demais as duas. Se eu conseguir essa harmonia ficarei feliz da vida".  

Para quem está começando, a dica é gostar do que faz. "Se não gostar não vai ter fôlego para seguir em frente", ressalta. Além disso, ele recomenda uma boa análise do mercado. O terceiro item de sua lista é ter muita persistência. "É preciso ter 10 ideias por dia para resolver os problemas que vão surgindo pelo caminho."
Imagem

Comentários