João Müller: Comunicação sem timidez

Formado em Administração, João Müller, diretor Comercial do Correio do Povo, revela que o caminho para a Comunicação não foi planejado.

Por Juliana Freitas, em 17/10/2014
Quando começou a faculdade de Administração na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), João Müller não imaginava que seu caminho estava traçado para o lado contrário das exatas. Depois de uma breve trajetória como bancário, tomou o rumo da Comunicação e hoje soma 26 anos de Grupo Record. É diretor comercial do jornal Correio do Povo e orgulha-se de ter tido a oportunidade de auxiliar na reestruturação da empresa logo no início de sua carreira nesta área.
De Santo Ângelo, Müller veio ainda criança para Porto Alegre. Sem influências familiares, a Comunicação entrou em sua vida graças a um professor da Faculdade de Ciências Econômicas Sociais da PUC, que o convidou para cursar pós-graduação na Ufrgs. "O professor Luíz Antônio Slongo notou meu interesse na disciplina de Marketing e fez o convite", conta. Imaginando trabalhar em uma indústria, Müller afirma que Comunicação nunca tinha passado pela sua cabeça.
Como a maioria de seus colegas de administração da época, seus primeiros empregos foram em agências bancárias. Mas como o destino é uma surpresa, em 1988 entrava para integrar a equipe do Departamento Comercial da Caldas Júnior, hoje Grupo Record. "Tudo se encaixou naturalmente", diz, tranquilo, como se tivesse sido uma mudança simples?
Décadas de evolução
Müller acredita que o aperfeiçoamento das capacidades vem da união das formações e experiências que o indivíduo acumula ao longo da jornada. Em 1997, com 33 anos, já era diretor Comercial da Caldas Júnior, sendo o mais jovem a atingir o cargo na empresa. O início desta carreira conta com um nome em especial: quando ingressou no Departamento Comercial do grupo, tinha Paulo Sérgio Pinto como chefe, profissional que considera seu 'mentor'. "Ele foi meu 'criador' e sou sua 'criatura'", brinca.
Havia quatro anos que a empresa tinha sido adquirida pelo empresário Renato Bastos Ribeiro, e Müller teve a oportunidade de acompanhar o crescimento e evolução da empresa. Para ele, esse período foi um dos mais desafiadores na carreira. "Os desafios se dividem em duas partes: antes e depois da Record", diz ele, ao lembrar que estava lidando com a reconstrução de grandes marcas como as da Rádio Guaíba e do jornal Correio do Povo. Já o desafio que também destaca foi quando a Caldas Júnior se tornou Grupo Record, em 2007. A adequação aos novos modelos de gestão foi difícil, mas nada que prejudicasse os projetos em andamento.
Esta dificuldade evidencia uma característica que Müller classifica como um de seus defeitos. "Demoro a me adaptar com mudanças bruscas", conta. Apesar disso, conseguiu entrar no ritmo da empresa e a prova foi a responsabilidade dada a ele em 2011, quando passou a acumular a direção Comercial do Correio do Povo e da Rádio Guaíba. Após dois anos no cargo, voltou novamente a se focar no jornal, "concluindo um ciclo", como ele mesmo ressalta.
Recordar é viver
O executivo faz questão de exaltar a admiração e orgulho que sente por fazer parte da empresa que considera sua grande escola. "Se uma pessoa pudesse escolher para começar, escolheria isso: uma empresa em reformulação, com um cara sem limites para conquistar as coisas, com uma energia ilimitada e ideias malucas", afirma. O "cara sem limites" é Paulo Sérgio, com quem passou momentos curiosos e inesquecíveis.
Dentre as histórias que traz em sua memória, uma, em especial, chama a atenção. Lá na retomada do Correio, com o espaços limitados, foi necessário ligar para agências e clientes para avisar que as publicidades não entrariam nas páginas de determinadas edições, tendo que deslocar as datas ou até devolver anúncios. "Isso hoje é impensável", declara. Assim como esta, tem muitas histórias e fatos pitorescos a narrar - tanto que, acredita, dariam um bom livro. "Quando houver tempo, no futuro, vou ter muita coisa para contar."
Recordando seu início, Müller faz uma reflexão sobre o mercado atual e afirma que nunca foi tão difícil atuar em Comunicação. "Se fôssemos fazer uma análise da história da Comunicação, diria que esse é o momento mais desafiador", diz, ressaltando que há muitas plataformas e possibilidades, além de infinitos fornecedores, anunciantes, clientes, leitores e consumidores que estão extremamente informados. "Os profissionais têm que ter, mais do que nunca, criatividade e capacidade de se moldar a modelos que mudam sempre."
Interesses diversos
Surpreendentemente tímido em alguns momentos e avesso a autopromoção, como faz questão de deixar claro, a característica desaparece quando o assunto principal é seu trabalho. "Eu sou tímido com a exposição da minha pessoa, mas na promoção da minha empresa perco totalmente a timidez", diz. Durante 11 anos apresentou um programa na Rádio Guaíba, intitulado Empreender, prova de que a timidez some quando seu foco é profissional.
Com o projeto retomado, Müller conta que foi graças a este programa que o interesse pelo neuromarketing apareceu em sua vida. Após entrevistar o neurologista Martin Portner, começou a estudar e ler muito sobre o assunto. Acabou de devorar o livro Subliminar, de Leonard Mlodinow, porque gosta de literatura técnica, que possa agregar conhecimento ao trabalho.
Nascido em 11 de agosto de 1964, considera-se um bom leonino, que preza pela honestidade e enfatiza que sua dependência "pelas coisas corretas" já lhe rendeu críticas, assim como sua teimosia. "Mas acho que isso é um elogio também", diz. Aparenta ser uma pessoa tranquila e segura, e assume que se diverte e se torna um grande aventureiro quando está com o filho Gabriel, de 13 anos, que teve com Luciana Ribeiro do Amarante.
Quando não está trabalhando, o que toma a maior parte de seu tempo, impedindo-o de frequentar cinemas como gostaria, faz questão de conviver com o filho. "Ele é extremamente ativo, joga futebol, anda de skate e bicicleta, não para nunca. Atualmente, estamos na fase das trilhas", conta. E sempre que pode, Müller adora se dedicar a viagens, e alinha como suas preferidas as cidades de Amsterdã, Munique e Paris.
Quando reflete no que poderia estar fazendo se não estivesse na comunicação, João Müller afirma que não acredita ter capacidade para fazer outra atividade que não essa. "Eu não faço a menor ideia do que o dinamismo da Comunicação me levará a fazer daqui para frente. Mas acredito que estarei fazendo algo embaixo do grande guarda-chuva que ela oportuniza", diz, convicto.
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