José Alberto Andrade: O competidor

Apaixonado pelas ondas sonoras e pela arte do futebol, o comunicador coleciona grandes conquistas em sua carreira

José Alberto Andrade | Crédito: Arquivo pessoal
Trabalhar com o que gosta não é para qualquer um. O jornalista e radialista José Alberto Andrade é um desses privilegiados que a vida levou para o caminho desejado ainda na infância. A paixão pelo rádio vem do pai, engenheiro de São Francisco de Paula, que logo após o casamento se mudou para Porto Alegre. "Costumo dizer que puxei ao meu pai, aí me questionam se ele trabalhava em rádio. Respondo que não, mas desde cedo sou alucinado por esse mundo", conta.
Mais do que "alucinado", Zé, como é conhecido pelos colegas e ouvintes, é um apaixonado pelas ondas que o encantavam desde muito cedo, ao ponto de dormir com o rádio debaixo do travesseiro. "Era um tempo em que não havia programação na madrugada, então chegava um certo momento que ficava em silêncio e ia acordar quando a rádio abria", lembra. Além do rádio, a fascinação pelo futebol também chegou na tenra idade, ao ponto de o jornalista praticamente profetizar o que lhe aconteceria no futuro. "Aos 10 anos, durante uma brincadeira em família, disse que gostaria de ser jornalista de futebol, de esporte, porque dessa forma poderia entrar de graça nos estádios", destaca.
Já no segundo grau foi à procura do que seria necessário para ser jornalista. Recebeu total apoio da família, mas o maior incentivo viria de alguém muito especial. "Lembro que meus colegas criticavam minha escolha, foi quando meu professor de Literatura, o escritor Luís Augusto Fischer, me elogiou pela escolha e disse que eu seria um ótimo profissional", relembra. Formado pela Ufrgs em 1985, Zé está na Rádio Gaúcha desde então. Três meses antes de se formar, recebeu a proposta de trabalhar como freelance na produção da rádio. Convidado pelo colega de aula Alexandre Posselt, o jornalista fazia rádio-escuta durante os finais de semana ou quando havia jogos de futebol.
Começa o jogo
Em agosto de 1986, chega a primeira grande chance. Com a saída de Alexandre, o radialista assumiu como produtor. Agora os grandes nomes que embalaram seus programas prediletos estavam ao seu lado. "Quando criança, moramos um tempo em Lages, Santa Catarina, e sempre que retornávamos para Porto Alegre e a rádio parava de pegar, começava a narrar o jogo imitando os narradores e comentaristas. Começar minha carreira diretamente com eles foi algo fantástico", ressalta.
Zé costuma dizer que, para aqueles que acreditam em destino, sua história pode ser dada como exemplo. Na época, a equipe era formada por Armindo Antônio Ranzolin, chefe de redação; Flávio Alcaraz Gomes, diretor-geral da rádio; e os comentaristas Lauro Quadros e Ruy Carlos Ostermann, entre outros, todos nomes respeitados na história da comunicação do Rio Grande do Sul. Foram três anos atuando na retaguarda, acompanhando coberturas, estudando e aprendendo. "A magia disso tudo era ver que alguém como eu, que era "invisível" naquela época, era ouvido por profissionais experientes e reconhecidos", salienta.
A timidez e a insegurança eram elementos que ainda barravam parte de suas aspirações. Porém, havia chegado a hora de explorar uma nova etapa e, após muita resistência, seguida de um empurrão dos colegas, acontece a primeira entrada ao vivo, em 1988, no jogo Grêmio e River Plate, pela Super Copa da América. Zé tinha a missão de entrevistar o adversário do tricolor que estava para chegar no aeroporto de Porto Alegre. "Me lembro de estar muito nervoso e o único jogador que conhecia era Claudio Caniggia, porque sabia que ele tinha cabelo comprido. Entrei no ar sem me identificar, mas no que me despedi alguém fez o favor de dizer para o narrador quem era o repórter trapalhão ", relata.
A Olimpíada de Seul aconteceu no mesmo ano e o jornalista logo se juntou à equipe para cobrir o evento. Como os jogos eram de madrugada, todos ficavam a postos na redação. Na época, os narradores responsáveis eram Roberto Brauner e Pedro Ernesto Denardin. Apesar de ser um grande evento, relembra que tudo era mais tranquilo. Ainda no final do ano iniciou sua jornada dentro de campo no jogo Grêmio e Coritiba pelo Campeonato Brasileiro.
Fim do primeiro tempo
A experiência como produtor se encerrou em meados de 1990, quando deixou o posto para atuar apenas como repórter. O fascínio pelos esportes em geral foi um dos ingredientes que auxiliaram Zé a progredir no rádio. "Sempre fui apaixonado por esportes exóticos. Lembro, na década de 1970, de assistir a um campeonato de esqui num programa americano chamado O Mundo Maravilhoso dos Esportes na TV. Não tem nada mais exótico do que um campeonato de esqui. Isso acabou me ajudando muito na rádio. Apesar de termos praticamente a monocultura do futebol, não tinha muita gente que se dedicasse aos outros esportes ou mesmo quem sabia alguma coisa não se animava a falar", menciona. Esse fascínio lhe rendeu a oportunidade de realizar alguns comentários na Gaúcha e, posteriormente, a emissora passou a dar maior valor à cobertura de outros esportes.
A sede por informação e conhecimento ia além dos esportes. Zé colecionava magazines, revistas em quadrinhos e principalmente almanaques, instrumentos que lhe auxiliavam toda vez que precisava saber algo como: "tal jogador é de tal cidade, onde fica essa cidade mesmo?". Atualmente, o comunicador mantém em sua casa registros destas lembranças, mas hoje tem no Google sua primeira fonte de informação.
Os Jogos Pan-Americanos de 1995, na Argentina, foram seu primeiro grande desafio ao estar presente diretamente do local. No ano seguinte, estava em Atlanta, nos Estados Unidos, para acompanhar a Olimpíada, e desde lá teve a oportunidade de cobrir todas, inclusive, já está escalado para a de 2016, no Rio de Janeiro. "Te ver naquilo que tu só via na televisão é espetacular. O que chama a atenção também é a questão da segurança, na Argentina foi tranquilo, mas em Atlanta realmente fiquei nervoso. Devido às paranoias dos americanos com terrorismo, todos acabam sofrendo as consequências", retrata.
A paixão
Se o programa de domingo durante a infância era escutar futebol no radinho, é claro que esse encanto só poderia aumentar com a proximidade com o esporte. Por uma questão de experiência e hierarquia da rádio, Zé foi galgando seu espaço como repórter dos jogos. "Até mesmo a posição do profissional dentro do campo vai evoluindo. Por exemplo, atrás das goleiras é considerado um local nobre", comenta.
A escolha por um time do coração foi substituída pela busca pela audiência. Durante um Grenal, em 1992, no Estádio Beira-Rio, o radialista era responsável por cobrir o time tricolor, que acabou perdendo. Era um dia chuvoso e, ao se preparar para entrar no ar, uma chapa de aço caiu e cortou o cabo de seu microfone. "Pedi que o técnico reparasse logo e, enquanto isso, fui me posicionando no vestiário do Grêmio. Quando tudo estava pronto veio uma contraordem dizendo que apenas o vestiário e a festa dos colorados seria transmitida. A partir daquele momento, decidi que não tinha mais time e quando me perguntam por quê, sempre conto essa história. Torço para mim e sei que se o time que estiver cobrindo perder, ninguém vai querer me escutar, assim como o futebol, a transmissão também é uma competição", explica.
Zé gosta de relembrar fatos marcantes de sua trajetória, como a cobertura da final da Copa do Brasil, em 1992. O jogo era entre Internacional e Fluminense e o repórter que estava escalado, Silvio Benfica, não pôde comparecer. Foi em seu lugar, e dali vem esta história: "Estava atrás da goleira e o gol do título do Inter foi do meu lado. Foi fruto de um pênalti irregular, que apontei na hora, e no final conversei com o zagueiro Pinga, que me confirmou que havia deixado o corpo para forçar a queda. Bom, quando cheguei na redação, me pediram para nunca mais contestar um resultado. O fato é que não me arrependo", diz, enfático.
Cobertura de primeira Copa do Mundo ninguém esquece - e com ele não foi diferente. O que não estava previsto aconteceu e Zé foi chamado para sair da retaguarda e cobrir a Seleção Brasileira no Japão. Os quatro últimos dias de uma jornada de 40 foram cruciais e marcantes para o apaixonado por futebol.. "Não tenho outra descrição a não ser "sensacional". Felipão, Ronaldinho, todos lá reunidos? Faço uma autocrítica, atuei com empolgação de torcedor, mas fiz um bom trabalho." Aliás, autoavaliar seu trabalho sempre fez parte da personalidade do jornalista, que admite que algumas coberturas poderiam ter sido executadas com mais qualidade.
O jornalismo e o futuro
As grandes coberturas que marcaram sua juventude extrapolaram o esporte. Como em 1986, quando participou da produção do acompanhamento que a emissora faria das eleições. Ou as festas de Carnaval, que acompanha há 21 anos, desde que seus conhecimentos sobre o tema encantaram o responsável por isso na rádio, o comunicador Cláudio Brito, responsável por integrá-lo à  equipe que vai ao Rio de Janeiro cobrir os desfiles. Para o jornalista, esse tipo de cobertura é ótimo porque permite estar próximo de pessoas que no dia a dia seriam praticamente intocáveis. É o caso do cantor Paulinho da Viola, da modelo Gisele Bündchen ou do ator Rodrigo Santoro, entre tantas estrelas que já entrevistou ao vivo.
Os longos anos dedicados à profissão não diminuíram a empolgação de Zé, embora reconheça que o casamento alterou sua vida pessoal e hábitos. Reduziu, por exemplo, o número de viagens para cobrir jogos de futebol, fato que o deixa saudosista. "O trabalho junto à dupla Grenal me dá saudades. Antigamente, a relação com os times era mais próxima. Vejo a nova geração ser prejudicada por causa disso, mas os times estão certos, aconteceu a profissionalização", ressalta.
Aos 50 anos, com cinco Olimpíadas, quatro Copas do Mundo, três Copas das Confederações, entre outras coberturas, Zé sente-se satisfeito e se diz privilegiado com o rumo da sua carreira. Futuramente, se vê fazendo a mesma coisa, porém com desafios diferenciados. "Quero dar espaço para essa gurizada nova participar e ajudá-los. Tem algumas coisas que já não me vejo fazendo, mas estou aberto ao novo", salienta.
Casado há 10 anos com Patrícia Andrade, vendedora no ramo da metalurgia, prefere usar os períodos de lazer com idas à fazenda da família, a Capão do Capim, em São Francisco de Paula. Mais do que ter participado de grandes coberturas e trabalhar com ídolos de infância, o jornalista acredita que o que sempre o moveu foi o fato de ser o instrumento que leva a informação e o conhecimento para os ouvintes. "O jornalista veio para o mundo para dar a notícia e não para ser ela. Nosso trabalho tem um grande valor para a história", sentencia, e arremata: "A vitória é muito melhor para a repercussão, mas as derrotas têm que ser encaradas com bons olhos, pois elas me deram a oportunidade de estar em algum lugar".

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