Juliana Petermann: "A criatividade só vem da diversidade"

Publicitária e professora universitária, ela acredita em uma publicidade mais inclusiva e comprometida com a representatividade

Keithy Oliveira / Reprodução Instagram/Juliana Petermann

Desde os oito anos de idade, Juliana Petermann já se sentia fascinada pelos comerciais de televisão. Foi por meio do jingle e das trilhas sonoras de marcas como Laka e Estrela que ela percebeu o poder da Comunicação. "Eu me senti convidada para o diálogo", relembra, ao descrever como esses momentos despertaram seu interesse pelo universo publicitário. Hoje, aos 43 anos, Juliana alia esse encantamento inicial a um propósito claro: tornar a publicidade mais inclusiva e diversa.

Entre o acadêmico e o profissional

A formação acadêmica de Juliana começou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cidade onde também teve suas primeiras experiências no mercado como redatora em agências locais. Em 2003, ingressou no mestrado em Linguística Aplicada e, logo depois, iniciou sua atuação como professora. Essa trajetória a levou a diferentes instituições, incluindo a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), até se tornar professora efetiva da UFSM, em 2008. Em paralelo, concluiu seu doutorado em Comunicação pela Unisinos, em 2011, e prepara-se para o pós-doutorado na Universidad de Sevilla, com um estudo sobre desigualdades de gênero na criação publicitária.

Na pesquisa, Juliana busca impactar tanto o mercado quanto a formação acadêmica. Durante o doutorado, por exemplo, entrevistou profissionais e acompanhou rotinas de criação publicitária, conectando a prática à teoria ensinada em sala de aula. As pesquisas que orienta no Nós Pesquisa Criativa refletem diretamente na prática publicitária e no ensino, explorando questões como processos criativos, sobrecarga no mercado de trabalho, inclusão social e reformulações éticas e críticas no discurso publicitário. 

Entre os projetos mais significativos estão o 50|50 - Abrindo portas para a equidade de gênero, que promove reflexões e ações a fim de mitigar as desigualdades em relação ao tema na Comunicação, e o 4C - Observatório e Laboratório de Marcas, que oferece serviços de criação de marcas para microempresas e agroindústrias familiares, ao mesmo tempo em que possibilita as primeiras experiências práticas profissionais para graduandos. Para ela, esses projetos materializam o potencial transformador da universidade, conectando-a ao mercado e à sociedade.

Além disso, Juliana está à frente de novas iniciativas, como o Manifesta - Observatório de Gênero e Desigualdades na Comunicação, em parceria com professoras como Milena Freire e Laura Wottrich, e o Plurais, que incentiva a criatividade por meio da promoção dos sentidos de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) na Comunicação. Ambos visam formar profissionais mais conscientes e comprometidos com a transformação social.

Apesar das conquistas, Juliana reconhece os desafios do mercado publicitário atual, como a precarização das relações de trabalho, a frequente confusão entre marketing digital e publicidade, e os impactos inevitáveis da inteligência artificial. Ainda assim, permanece otimista e comprometida com um futuro mais justo e inclusivo.

Para além da academia e da publicidade

Quando não está dedicada à academia ou aos seus projetos, Juliana busca equilíbrio em momentos simples e significativos. Mãe de Moreno, de quase cinco anos, ela define a maternidade como sua prioridade. "Cuidar do meu filho e ajudá-lo a ser alguém bom para o mundo é minha maior missão", afirma.

Seus gostos pessoais refletem uma pessoa multifacetada: pizza nas sextas-feiras marca o início do fim de semana lúdico, enquanto artistas como Jorge Drexler, Pink, Alanis Morissette, Emicida e Lady Gaga são presenças frequentes em suas playlists. Fã de cinema, destaca o filme 'Caindo na Real' como uma influência profissional e emocional. Entre suas leituras favoritas, 'O Brincar e a Realidade', de Donald Winnicott, destaca-se pela conexão com sua pesquisa sobre criatividade.

Juliana também compartilha seu apreço por momentos de introspecção e pelo cotidiano em sua casa no interior de Silveira Martins, um espaço onde encontra tranquilidade e inspiração. Apesar da agenda profissional intensa, dedica tempo para refletir sobre sua jornada e traçar novos sonhos. Integridade, responsabilidade e determinação são suas maiores qualidades, enquanto lida com a ansiedade e a dificuldade de relaxar.

Ela também possui uma análise crítica a respeito da situação atual do Brasil. Juliana vê o momento com preocupação, em que cita a polarização política e o crescimento da extrema direita como fatores alarmantes, assim como a imobilização da esquerda diante das desigualdades sociais. Ainda assim, acredita que a Educação e a redução das desigualdades são caminhos urgentes para transformar a sociedade.

Uma sonhadora em constante movimento

Para além da comunicadora, Juliana se define como uma sonhadora prática. "Eu sempre tenho um sonho e me movimento na busca por realizá-lo. Quando consigo, já vou logo fazendo outro sonho nascer", afirma. Filha de Sônia e Cláudio, irmã de Rafael, companheira de Rafael e mãe do Moreno, ela equilibra seus múltiplos papéis com paixão e comprometimento.

Sua trajetória é um exemplo inspirador de como criatividade, trabalho e propósito podem se unir para transformar não apenas o mercado, mas também a vida das pessoas que o compõem. Com a perspectiva de ampliar projetos e aprofundar pesquisas, Juliana reafirma sua crença no potencial transformador da comunicação e na importância de uma publicidade mais humana e inclusiva, pois, como ela mesma afirma ser o mantra profissional: "A criatividade só vem da diversidade".

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