Juliano Brenner Hennemann: Por conta própria

Com um destino previamente traçado, o publicitário preferiu arriscar e seguir um caminho diferente, em busca de "ousadia para ser memorável"


Gabriela Boesel
Filho de pai arquiteto e mãe decoradora, Juliano Brenner Hennemann achava que tinha tudo para seguir carreira na área das Artes. No entanto, o primogênito de Raúl e Ana Maria preferiu trilhar seu caminho e fazer algo que só dependeria do próprio mérito. E assim fez. Escolheu a área da Publicidade e Propaganda e, há 18 anos, está à frente da Agência SPR. "Mesmo sendo outro ramo, ainda estou, de certa forma, ligado ao mundo artístico", pontua o publicitário.
Antes de estruturar a agência, Juliano conta que as experiências profissionais durante a faculdade foram cruciais para que decidisse investir no próprio negócio. Acredita que o sucesso da SPR não existiria sem o conhecimento e a expertise adquiridos em outras empresas de propaganda, como nas extintas DCS, de Porto Alegre, e JB Publicidade, de Novo Hamburgo.
Nascido e criado em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, Juliano se graduou em 2000, pela Unisinos, mas sua entrada no mundo universitário começou na Famecos, da PUC, em 1993, quando tinha 17 anos. E diz que foi na primeira faculdade que desenvolveu seu lado criativo. "Eu sempre ia a todos os eventos que a Famecos oferecia", recorda, enumerando que assistiu a palestras com publicitários consagrados, como Celso Loduca, Nizan Guanaes e Washington Olivetto.
Os primeiros passos
Na faculdade, a área da Criação logo ganhou sua atenção, e atribui essa preferência à afinidade que criou ainda em seu período de formação, influenciado pelos pais. Investiu em cursos de Desenho Publicitário e Corel Draw que, naquela época, segundo conta, "era top de linha entre os programas, mas hoje já é até meio mal visto", ri. Conhecedor da teoria e cheio de vontade, foi na porta da DCS que bateu para pedir emprego pela primeira vez. "Comecei na Produção e conheci todo o processo, mas o que mais aprendi foi servir cafezinho e passar documentos via fax", relembra, também aos risos. Em meio às brincadeiras, diz que a experiência valeu, pois foi lá que vivenciou o ambiente de agência. Mais tarde, operou também na Criação e teve a certeza de que era o que queria.
Ao se afastar da DCS, saiu também de Porto Alegre, pois logo começou a trabalhar em Novo Hamburgo. Com a mudança profissional, trocou também de Universidade, transferindo o curso para a Unisinos, em São Leopoldo. Na agência JB Publicidade, assumiu como diretor de Arte, quando um dos sócios deixou a sociedade. "Foi uma experiência forçada, mas muito interessante e que me fez sofrer muito. Foi aí que eu aprendi", recorda.
A Nova Zelândia apareceu como um novo caminho na vida de Juliano. Com as experiências adquiridas no Brasil, queria ir além. Ao visitar a irmã caçula Bárbara, encontrou no país outras referências. Foi quando pensou em investir no próprio negócio. "Eu já tinha mandado currículo para um monte de agências, mas decidi que não aceitaria um emprego, caso fosse chamado, pois queria focar na minha própria empresa."
A Spread surgiu em 1997, com um nome que, conforme conta, "tinha tudo a ver com a difusão de conceitos e ideias, pois, se traduzida para o português, a palavra inglesa significa "espalhar"". Com a marca registrada e o apoio de alguns amigos, os primeiros trabalhos começaram a surgir e o mercado pôde, enfim, conhecer as ações desenvolvidas por Juliano. Ao sucesso da agência, o publicitário atribui a conquista de algumas contas, como a da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Novo Hamburgo e a da marca de calçados Kolosh, da Dakota, em nível nacional. "Essa foi a conta responsável pela estruturação da agência, que passou a contar com departamentos de Mídia, Produção, Arte, Atendimento e Criação. A partir daí, começamos a crescer. Nunca tivemos o instinto prospectivo, foi muito pelo mérito do trabalho", acredita.
O nome da agência em nada facilitou o trabalho do publicitário, que declara que precisou passar por algumas situações até perceber que era necessário alterá-lo. O primeiro aviso veio por fax. "Quando nos mandavam material pelo fax, nunca acertavam o nome da agência. Sempre vinha errado", recorda. A gota d"água foi quando, em uma apresentação de peças para uma empresa, foi apresentado apenas como "o Juliano da agência". "Questionei por que não haviam dito "Juliano da Spread" e me responderam que, como não sabiam pronunciar, não correriam o risco de falar errado na frente de toda a diretoria da empresa. Foi aí que resolvi mudar." Passou a chamar-se SPR, três letras que nada mais significam do que a abreviação de Spread. A eliminação das vogais e de uma das consoantes foi uma de suas melhores decisões, diz ele, pois de um dia para outro passou de "fulano da agência" para "Juliano da SPR".
Desafio diário
Desistir jamais passou pela cabeça de Juliano, que confessa, no entanto, já ter desanimado algumas vezes. "Quando se passa por crises, tu repensas muitas coisas", diz, ao mesmo tempo que afirma nunca ter pensado em seguir outra carreira. Satisfação, argumenta, não é um sentimento que se limita a apenas um ou dois momentos, e sim, a cada campanha e a cada conquista da SPR. Daí seu mantra: "Realização é meu desafio diário".
Admirador de diversos publicitários do mercado, prefere dizer que não tem nenhuma referência profissional e que sempre buscou seguir o próprio caminho e intuição. "A minha referência é quando a gente vê comunicação de forma ousada e corajosa, por isso admiro todos aqueles que seguem o caminho oposto", alega. Quando se trata do próprio negócio, reflete que se considera realizado por ter começado uma agência sozinho e que, hoje, é bem-sucedida. "Comecei uma experiência do zero, e ela deu certo", comemora, adicionando uma ressalva: sente-se realizado parcialmente, pois entende que a SPR pode muito mais do que já faz.
Com o lema "ousadia para ser memorável", Juliano busca sempre inovar e fazer diferente e defende que é preciso correr riscos. "Isso é o que me move". Unido a essa ideia, planeja muito mais para a SPR e projeta um futuro ainda mais ousado para a agência que comanda. "Vejo a SPR chegando a essa envergadura e relevância que ela merece. Entendo que meu trabalho e da minha equipe fará dessa empresa de publicidade uma referência, com atuação nacional e internacional", prevê.
Criativo até em casa
Mesmo longe da agência, confessa que é difícil se desligar do trabalho, mas sempre busca aproveitar ao máximo os momentos de folga para curtir com a família. Pai do João Vitor, de nove anos, e do Joaquim, de apenas 10 meses, se derrete ao falar dos pequenos, frutos da união com a estilista Bianca Rodrigues, que já dura 11 anos. Inclusive conta que passou a cuidar da saúde para poder acompanhar os filhos com a energia que eles merecem. Pilates foi a melhor opção que encontrou para fortalecer o corpo e preparar o fôlego para as diversas atividades que pratica com o mais velho. Os esportes ganham destaque em meio às brincadeiras infantis, e diz que adora jogar tênis com João Vitor.
Esportes aquáticos também ocupam boa parte do tempo livre de Juliano, que os pratica na Lagoa do Peixoto, em Osório, onde tem uma casa de férias. Velejar, fazer stand up paddle e esqui aquático também estão entre os passatempos preferidos. É amante de corrida e gosta de fazer musculação, "mas nada muito pesado, somente para manter a estrutura", explica. Atribui a paixão pelos esportes à educação que teve em casa. "Está no sangue", pontua, e acrescenta que, unido às atividades físicas, está uma alimentação saudável. "Quando criança, meus pais deixavam a gente comer de tudo, desde que terminássemos primeiro o prato de salada", lembra. É apreciador de churrasco e sushi, mas não tem afinidade com a cozinha. "Sei ferver uma água como poucos", diz, aos risos, quando o assunto é cozinhar.
Amante dos esportes, a paixão se revela, inclusive, nas preferências literárias. Entre as leituras prediletas, estão as biografias dos tenistas Guga Kuerten e André Agassi. Assuntos como marketing e tendências também figuram na lista, e o atual livro de cabeceira é "Incrivelmente Simples", de Ken Segall. No campo da religião, confessa que é católico pouco praticante, mas diz seguir as tradições e gosta, inclusive, de rezar com os filhos à noite a oração ao anjo da guarda.
Com exceção de sertanejo, funk e pagode, Juliano se diz um ouvinte eclético, mas se for para dar nome aos bois, não hesita em dizer que a banda irlandesa U2 está no topo da lista. Cinema e séries também ocupam o tempo livre, com destaque para produções como Game of Thrones, Marcopolo e Vikings. "Gosto dessas narrativas mais históricas, com fantasia medieval", conta.
Dividido entre ser uma pessoa otimista e crítica ao mesmo tempo, Juliano se considera um cara entusiasmado com o dia a dia e com as pequenas conquistas, que fazem do seu trabalho um motivo de orgulho para si próprio. Aliás, não é à toa que chegou tão longe, por sempre acreditar, e muito, que teria ousadia para se tornar memorável.

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