Leandro Staudt: Um operário da Comunicação

Com quase duas décadas dedicadas ao rádio, o comunicador prova que paciência foi a qualidade que lhe fez vencer os desafios

Leandro Staudt - Omar Freitas

Ele se define como um clínico geral, pois não é especialista em nenhuma área específica do Jornalismo. Seja sobre política, economia, esporte ou cultura, Leandro Staudt debate com propriedade e se sente aliviado por ter seguido na editoria de Geral. Formado em Jornalismo no começo dos anos 2000 pela Unisinos, lembra que ingressou no curso por gostar de esporte, embora tenha atuado brevemente na área quando trabalhou, por seis meses, na rádio Progresso, de Novo Hamburgo, sua cidade natal.

Aliviado por não ter continuado no jornalismo esportivo, diz que gosta mesmo é da emoção dos dias de jogo, no entanto, diz saber o quão desgastante é para o repórter que trabalha à noite e em finais de semana nesse tipo de cobertura. Outro benefício de atuar na editoria de Geral é poder revelar o time do coração sem se preocupar. Gremista de alma, assegura que não sofre pelo tricolor, "só nas grandes decisões". 

Tímido e retraído, revela que paciência é a característica que o fez vencer os desafios na carreira. "Não sou de pedir para entrar ou sair de algum programa. Fico onde me colocam e exerço a função que me é concedida", explica. Ciente de que a profissão escolhida é como qualquer outra, descreve-se como um operário da Comunicação. "Por mais que o jornalismo tenha uma importância, não vejo com glamour. É um trabalho igual ao de um padeiro, engenheiro ou pedreiro. Não deve ser tratado de forma diferente", analisa o profissional.

Ele é apenas um rapaz

Realizado com a trajetória cursada, recorda que teve dúvidas na hora do vestibular, e, dividido entre Ciência da Computação e Comunicação, escolheu a segunda opção por um mero acaso. "Não sei o que me fez ir para o Jornalismo, mas não me arrependo, pois a profissão meu deu uma visão de mundo que em outros trabalhos eu não teria", confessa. Repórter e apresentador da rádio Gaúcha desde 2000, ainda é lembrado pelos sete anos em que foi Correspondente Ipiranga. "Acho que fiquei muito tempo nessa função, mas como eu disse, faço o que me é confiado", afirma, enaltecendo, mais uma vez, que sempre foi paciente.

Os anos iniciais na emissora do Grupo RBS foram de muito esforço. Na hora de se deslocar do Vale do Rio dos Sinos para a Capital, de transporte coletivo, lembra até do pasteleiro com quem dividia a jornada. "Nunca me esqueço daquele cheiro de fritura", diverte-se ao evocar a lembrança. Admite que desistir lhe passou pela cabeça, afinal, a distância entre trabalho, casa e universidade complicava o processo. "Para começar no estágio aqui às 7h, acordava às 4h15 e ia a pé para a parada, onde pegava um ônibus pinga-pinga." Na volta, uma passada na universidade em São Leopoldo, para chegar em casa à meia-noite e acordar às 4h. E, no outro dia, tudo de novo.

Contudo, a insistência e, outra vez, a paciência reinaram e Staudt abraçou a oportunidade, mesmo tendo outra proposta que, confessa, era tentadora. A passagem rápida pela rádio Progresso fez com que o gestor da emissora o chamasse de volta, agora, com um salário quatro vezes mais alto do que o da primeira vez, e duas vezes maior do que o que recebia na RBS. "Quase fui, mas fiquei", conta. A decisão foi tomada após uma conversa com o ex-colega André Machado, a quem deve sua permanência na rádio.

Com formação técnica em Contabilidade, chegou a trabalhar como office-boy em um escritório da área, aos 17 anos. Também atuou na área administrativa de uma rede de lojas, mas resolveu largar a rotina e a conta bancária tranquilas, pois havia chegado um momento na faculdade que "precisava dar uns passos para trás para seguir na carreira de Jornalismo", pois sabia que não podia terminar o curso sem antes ter experiência na Comunicação.

De substituto a titular

Com quase duas décadas dedicadas ao radiojornalismo, passou por diversos programas e posições na emissora da RBS. Primeiro, como substituto de colegas em diversas oportunidades, desde folgas até férias, para, então, assumir como titular em algumas atrações. Inicialmente, foi repórter por cerca de quatro anos quando, em 2005, passou a intercalar o comando do Correspondente Ipiranga com André Machado e Daniel Scola. Também apresentou o Gaúcha Faixa Especial, nas noites de domingo, o primeiro programa que comandou na rádio. Desde 2013, com as saídas de Lasier Martins e de André, passou a ocupar a faixa da tarde, espaço do qual se encarrega até hoje, e, desde setembro, comanda o Gaúcha +, ao lado de Diogo Olivier e Kelly Matos.      

Além de experiência com os microfones, a RBS lhe deu uma família. Casado com Milena Schoeller há pouco mais de uma década, o relacionamento se iniciou em 2001, poucos meses depois de Staudt ingressar no grupo e três anos antes de mudar-se para Porto Alegre. Na época, ela trabalhava na Band RS e, mais tarde, passou a integrar o time da Gaúcha. Agora, ela é editora de hora na plataforma digital GaúchaZH.

Do matrimônio, nasceram Antônio, de oito anos, e Pedro, de três, com quem o casal de jornalistas adora passar as horas vagas entre uma escala e outra de trabalho. "Tem tão pouco tempo fora da redação que quando temos folga, ficamos com eles", explica, e acrescenta: "Em função da profissão, trabalhamos muito e em escalas diferentes, então, a maior parte do tempo que estou livre, estou com os guris. De manhã faço tudo com eles, como arrumar para escola e montar o café. Sou o dono de casa nessas horas".

Milena concorda com a declaração e afirma: "Ele é um baita pai, faz tudo para os guris". A jornalista conta que, no trabalho, o relacionamento entre os dois é estritamente profissional e que nunca tiveram problemas em atuar na mesma empresa. Em casa, por outro lado, o marido é completamente diferente. "É outra pessoa, superbrincalhão e carinhoso. Só tenho elogios."  

O mostro é menor do que parece

Com 37 anos de idade, Staudt não gosta de comemorar aniversário. O motivo, explica, é por ter nascido exatamente no Natal, em 25 de dezembro de 1979. "Eu adoro essa época e a data é muito mais importante que meu nascimento." Mesmo assim, orgulha-se ao contar que "da minha mãe sempre ganhei dois presentes".

O apreço pela festividade também pode ser explicada pela religião católica, da qual o filho mais velho de Cláudio e Maria Madalena é praticante. Devoto de Santo Antônio, vai à missa nos domingos de folga e diz gostar dos rituais e das celebrações. "Também tenho criticas à Igreja", alega e assume, por exemplo, que não se confessa. Como membro da Igreja Santo Antônio do Partenon, costumava fazer trabalho voluntário na instituição quando a escala na rádio Gaúcha era mais tranquila. Milena, por ter horários mais flexíveis, continua contribuindo.

Com passagem pelo escotismo, garante-se na cozinha, no entanto, não tem muito costume de colocar os conhecimentos em prática, função que deixa para a companheira. "Me viro bem, é só olhar as receitas. Mas não sou máster chef", pondera, humildemente. O motivo é a falta de necessidade: almoça no trabalho e, na janta, a família tem o hábito de tomar café com leite. Se tiver que destacar seus pratos preferidos, em um ranking de um a três, a lista tem, respectivamente, pizza, lasanha e churrasco.

Para equilibrar a dieta, gosta de correr na rua e, eventualmente, joga futebol com o time da rádio. Mas o que mais gosta, mesmo, é de ficar em casa, onde, além de ter a companhia dos pequenos, assiste TV. "Minha especialidade é mudar canal", brinca. Quando não está zapeando, assiste a debate esportivo, e séries medievais, com destaque para as que se passam na Europa, como Vikings e Frontier. Também aprecia programas sobre história, em especial quando se trata da Segunda Guerra Mundial.

Quando a vez é dos filmes, opta pelos que são baseados em fatos, pois não é fã de ficção. Na literatura, também pende para os livros que retratam acontecimentos antigos. Atualmente, está lendo 'O Segredo da Dinamarca', da jornalista britânica Hellen Russell, informação que buscou no Google enquanto conversávamos. "Tenho séria dificuldade para guardar nome de filmes, livros, atores e escritores. Sempre preciso anotar", explica o que, para ele, é um defeito.

Das qualidades, ressalta o fato de ser extremamente organizado e metódico. "Nunca consegui me divertir antes de fazer minhas obrigações", afirma, categórico. Na infância, fazia sempre primeiro o tema de casa para, depois, ir brincar na rua. Hoje, se chega à redação e o programa ainda não está pronto, "não me convidem para fazer outra coisa ou bater papo", alerta.

Das experiências memoráveis de repórter, recorda as visitas ao Palácio Piratini e à Assembleia Legislativa, além de ter tido a oportunidade de estar a bordo de um motoplanador Ximango, da Brigada Militar. "Só policial pode voar nele e eu pude como jornalista", explica, ao lembrar, também, de quando entrou em uma mina de carvão sem ser mineiro. Para ele, são coisas que outras profissões não teriam lhe oportunizado. "São experiências que ninguém me tira." Ao relembrar de toda a bagagem que conquistou ao longo das duas décadas de profissão, rememora com carinho da lição que ouviu no começo da carreira e que leva até hoje: o monstro é menor do que parece.

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