Luciana Bueno Santos: Original e empreendedora

Gerente de Comunicação e Marketing do Sebrae, Luciana Bueno Santos atuou em TV e jornal antes de descobrir-se empreendedora 

Luciana Bueno Santos | Crédito: Glauco Arnt
Geralmente atribuída àqueles que nascem sob o signo de Gêmeos, a versatilidade é uma das características que se sobressem na personalidade da jornalista Luciana Bueno Santos. Entre as memórias da trajetória pessoal e profissional, percalços e sorrisos, a gerente de Comunicação e Marketing do Sebrae-RS se mostra alguém aberta ao mundo, com determinação e coragem para mudar de rumo.
Na infância, menina de perfil mais introspectivo, acredita que o jornalismo veio, aos poucos, em sua direção. O gosto pela leitura, as lembranças do Jornal do Almoço apresentado por Maria do Carmo Bueno, as tentativas de representar a jornalista em frente ao espelho compõem algumas referências da relação com a profissão. Mesmo assim, Medicina, Fisioterapia e Turismo foram outras opções cogitadas e, enquanto os testes vocacionais indicavam a Comunicação e já trocava informações sobre a área com a orientadora educacional, ainda deparou-se com uma nova dúvida: "Quem sabe eu seria uma boa dentista?".
A informação de que não havia equipamentos próprios para canhotos, como ela, no entanto, logo fez com que abandonasse a ideia. Luciana encarou a Comunicação e traçou uma trajetória no Jornalismo que já soma cerca de 18 anos. Nesse tempo, foi apresentadora da previsão do tempo, ancorou telejornais, migrou da TV para o jornalismo impresso, criou e por cinco anos conduziu a própria assessoria de imprensa, e especializou-se em comunicação estratégica.
Uma meta, uma conquista
Deixou Cachoeira do Sul aos 17 anos para cursar a graduação em Porto Alegre, depois de aprovada no vestibular da PUC, já com a intenção de trabalhar em veículo eletrônico. Naquele período, o Grupo RBS promovia o programa de trainee Caras Novas, o que rapidamente se transformou em uma meta para a estudante. Com a convicção que alimentou durante a faculdade, foi aprovada na concorrida seleção e ficou entre os 12 candidatos selecionados. "É algo que trago até hoje comigo. Projeto e trabalho naquilo, até que a situação se materializa. Costumo dizer: cuidado com os teus pensamentos, porque eles se tornarão realidade. Acredito muito nisso", ratifica.
Durante o curso, estagiou na RBS TV Caxias e, após a conclusão, no fim de 1997, foi convidada a compor a equipe do Canal Rural, que no ano seguinte, com a saída da Globosat do negócio, passaria a ser controlado apenas pelo Grupo RBS e teria sede em Porto Alegre.  Embora não tivesse muita proximidade com o tema à época, agarrou a oportunidade e admite que até viu algumas situações pitorescas. "Minha vantagem é que sou uma guria do Interior. Tenho tio que tem fazenda e tinha produção no período em que eu morava em Cachoeira, e meu pai tinha uma chácara. Meu envolvimento (com o rural) era de fim de semana", conta.
Inicialmente, sua função era uma espécie de copy desk, com o objetivo de adequar a linguagem dos meteorologistas para a TV, no entanto, desempenhou a tarefa apenas por duas semanas. Com a saída de um meteorologista em licença, assumiu a apresentação da previsão do tempo. Em seguida, passou à reportagem e a ancorar noticiário, deixando a casa em novembro de 2002. "Gostava muito do que eu fazia, mas queria novidades, mais experiências", relata.
Da TV para o impresso
No ano seguinte, reservou algumas de suas melhores apresentações e partiu para a região Sudeste, onde visitou redações no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, em busca de oportunidades. O cenário encontrado não foi favorável, tanto pelos cortes de profissionais nos veículos quanto por contratempos, contudo, o período rendeu boas lembranças. "Não deu e voltei pra cá, mas sempre acreditei muito no meu taco. Uma das coisas que digo pra minha equipe: é a gente tem que acreditar na gente, tem que se doar", defende.
O dia 9 de abril de 2003 é considerado um divisor de águas na carreira. Foi quando entrou para o jornalismo impresso, como repórter no caderno rural do Correio do Povo. "Já dominava o tema, mas não a mídia impressa e foi muito significativo, porque foi ali que aprendi a ser jornalista", considera. Lembra que o convite para a vaga veio com um alerta do então editor Luís Eduardo Bona: "Não tem o glamour da TV, no jornal tu faz tudo. Tu vai comprar a farinha de trigo, sovar o pão, colocar nas forminhas e botar no forno".
Lá, conquistou fontes e relações, um trabalho que motivou o convite para assumir a assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Angus. Assim, em 2005, criou a própria empresa, a Sacada Comunicação - em referência à sacada do apartamento que virou home office - na razão social ou Luciana Bueno Escritório de Comunicação. Para desempenhar a nova atividade, levou as técnicas e práticas que costumava observar nos colegas assessores enquanto repórter; envolvia-se na estrutura organizacional do cliente, acompanhando reuniões externas, e também cursou sua primeira especialização, em Comunicação Estratégica.
Jornalista e gestora
Ainda conciliou os dois trabalhos por cerca de um ano e meio, o que reconhece como um período muito delicado. "Tinha combinado com minha editora que, enquanto repórter, eu não trabalharia em pautas que fossem do domínio do meu cliente. Outros colegas manipulavam meu release, por exemplo, mas não era fácil, porque outros assessores de imprensa do agronegócio não entendiam."
Aos poucos, ampliou a atuação como assessora de comunicação no ambiente rural e, quando já acumulava uma experiência de cinco anos, decidiu concretizar o sonho da adolescência de morar no exterior. O Canadá, com sua enorme diversidade cultural, foi o país escolhido para um semestre de imersão na língua inglesa, monitorando a empresa a distância, com a ajuda do Skype. Prestes a retornar, recebeu o convite para ser gestora de um projeto da Apex-Brasil com a Associação Brasileira de Hereford e Braford, visando à promoção comercial das raças na América Latina. "Foi uma etapa enriquecedora, um momento em que fui levada a outros desafios e comecei a migrar para a gestão", afirma.
Antes de receber o convite para assumir a gerência de Comunicação e Marketing do Sebrae-RS, ainda retornou ao Canadá para uma segunda temporada de estudos intensivos e também aproveitou para realizar cursos de negociação, na Universidade de Toronto. O retorno ao Brasil aconteceu em maio de 2013 e, poucos meses depois, abraçou o desafio de reestruturar a área de comunicação do Sebrae, hoje formada por sete núcleos e 15 profissionais.
Desde a infância em Cachoeira do Sul, o mundo das letras é parte do universo de Luciana. O jornal da cidade e as revistas já chamavam a atenção da menina de cinco anos, e ainda teve o pai como incentivador da leitura. Era com ele que, nos fins de tarde, costumava passear pela cidade, ir à pracinha e percorrer as livrarias locais, onde se sentia à vontade para buscar livros de história. Sem irmãos da mesma faixa etária e com os pais, Claudeti e Ari dos Santos trabalhando fora - ela como professora, ele como militar - , passava os dias na companhia da avó materna e encontrava nos livros de literatura infantil um apoio para criar as próprias histórias.
Filha do meio na família que se completa com os irmãos Cleverton, 45 anos, e Everton, 31, atualmente costuma visitar os pais na cidade natal sempre que possível, especialmente nas datas comemorativas. Torcedora do Grêmio, é adepta do Mat Pilates, do Gyrotonic - modalidade inspirada no balé, yôga, natação e tai chi chuan, que pratica duas vezes por semana - e das caminhadas ao ar livre para repor as energias.
Hoje solteira e sem filhos, no lazer valoriza o contato com a natureza em passeios a parques e piqueniques. A leitura segue como uma atividade para aproveitar o tempo livre. Luciana diz que está sempre comprando e "acumulando livros", além de revistas sobre moda e atualidades. As músicas clássicas e meditativas são as preferidas para começar e terminar o dia, mas o estilo musical também compreende bossa-nova, MPB e folk, entre outros. Filmes também a agradam, com exceção dos de terror.
Com equilíbrio
Apreciadora da arte de fotografar, planeja retomar a prática e conhecer mais sobre o tema e, da mesma forma, pretende recuperar o ritual de saborear um bom vinho. "Quero resgatar o contato com a foto e também com os vinhos, encaixar isso no meu dia a dia", diz. Retomar a reforma da casa e curtir o seu espaço são outros desejos, já que, como diz, "não se termina uma obra, a gente invade a obra".
A jornalista, que agora em 7 de junho completa 40 anos, se mostra animada com as experiências e aprendizados que a nova fase lhe reserva. "Busco muito a harmonia na vida e agora quero absorver as coisas que essa fase especial vai me proporcionar", afirma, revelando que já programa o presente que pretende dar a si mesma: uma viagem.
Luciana reconhece que tem na disciplina uma característica marcante. A cada missão recebida, esforça-se não só para concretizar a tarefa, mas para transcender as expectativas, com um toque de ousadia e criatividade. "Tudo que a gente vai fazendo é como uma cadeia. Hoje, colho, mesmo sem perceber, todos os movimentos que fiz na vida", reflete. Ao falar sobre si, é direta em definir-se: "Uma mulher de 40 (risos), original, empreendedora e muito feliz".

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