Luciano Leonardo: Um chef na publicidade

O publicitário trabalhou e viajou pelo mundo, fixou-se em Porto Alegre e agora sua história se mistura com a da SLM Ogilvy.

Luciano Leonardo é o nome completo do diretor de Criação da agência SLM Ogilvy. Ele revela que isso foi uma das coisas mais marcantes ao longo de sua trajetória, já que todos acham que se trata de um nome composto, o que já gerou até especulação sobre uma hipotética dupla sertaneja ?Luciano & Leonardo". O dueto em um homem só. Hoje, com 42 anos, já morou no Rio de Janeiro e alternou períodos entre São Paulo, Europa e Porto Alegre, onde acabou se fixando e vive desde 1994.


Nascido em São Paulo , Luciano mudou-se ainda criança para o Rio, devido à transferência de seu pai, que atuava como químico num laboratório. Aos nove anos, a família trocou novamente de cidade, dessa vez, o destino era Porto Alegre: "Foi onde passei minha adolescência", grifa. Nessa fase, começou a pensar no que queria fazer como profissão. "Meu negócio era desenhar, mas eu simplesmente não sabia o que fazer com isso. Aquela velha história: o dilema de qualquer adolescente. A criação é o que estava latente, querendo se manifestar, mas meu avô forçava os netos para serem médicos e ditava até as especialidades de cada um", conta.


Fugindo dos números


Medicina, Direito ou Engenharia eram as profissões "bacanas", a publicidade ainda não era valorizada. Luciano eliminou de cara as Ciências Exatas, com as quais já não tinha intimidade desde o colégio, e prestou seu primeiro vestibular para Administração de Empresas. Não passou, e após seis meses de cursinho prestou novo vestibular. Além de Administração, também tentou Publicidade e Propaganda na PUC. Passou e começou a cursar ambas, mas logo desistiu da carreira de administrador. Foi na Famecos (Faculdade de Comunicação Social da PUC) que ele teve o primeiro contato com a área, mesmo não fazendo ainda muita idéia do que se tratava.


Em função das transferências do pai, Luciano acabou voltando para a capital paulista, onde completou seus estudos, na Faculdade Metodista. "Quando estava aqui na PUC, minhas colegas perguntavam por que eu não ia atrás de estágios, como elas, pois diziam que eu tinha uma facilidade muito grande. Eu achava que ainda não estava na hora, mas quando fui para São Paulo comecei a pensar realmente em trabalhar em publicidade", conta. A carreira começou numa empresa de serigrafia e, depois, numa pequena agência, a J. E. Samargo, na qual pegou uma vaga de redator. Entrou como estagiário, foi contratado, o salário triplicou, e assim descobriu que era aquilo que queria fazer.


Chutando o balde


Após um ano e meio, decidiu sair. A gota d?água foi quando ele e mais três colegas fizeram um layout para uma revenda de automóveis e o diretor da agência não aprovou. "O cara chegou e falou assim: ?Não é nada disso, isso está um horror!?, e rasgou os layouts na nossa frente. Aquilo marcou muito e, de um dia pro outro, nós fizemos exatamente o que o dono da agência pediu, entregamos para ele, mas junto mandamos, a lápis, a idéia que tivemos antes. Ele voltou, com a cara no chão, pois o cliente tinha aprovado a nossa idéia, era aquilo que ele queria", ironiza.


Saindo da agência, Luciano e seus colegas se estruturaram para trabalhar, inclusive, para outras agências, montando assim a Criativittá, voltada mais para o design. A Criativittá durou cerca de dois anos, tinha alguns clientes diretos e outras pequenas agências que não primavam pela criação e os contratavam para isso. O grande cliente era a Brastemp. "Foi bastante legal. Ali, foi toda a minha escola de atendimento, marketing mesmo e até planejamento", acredita. A estrutura cresceu, mas Leonardo sentia falta de trabalhar em agência e essa busca ele veio fazer em Porto Alegre.


Sem ter nada definido, voltou para a Capital, no início de 1990, e pediu para uma amiga listar as principais agências da cidade. Essa relação tinha nomes como Standard, Nova Forma, SLM e Escala, entre outras. Na Nova Forma, recebeu um ?free? para fazer o logotipo de 15 anos de uma construtora. Agradou, mas diante da indecisão da agência, acabou seguindo o conselho da ex-colega de Famecos Tetê Pacheco, que trabalhava lá. Ela tinha acabado de sair da SLM e lhe indicou que havia a vaga. Ele foi, mostrou seu portifólio e foi contratado, mas ficou apenas um ano, pois um antigo plano não lhe saía da cabeça: queria viajar pela Europa.


Um cidadão europeu


"Meu primeiro objetivo era a Itália. Fiquei um mês em Milão, tenho passaporte italiano, mas antes queria passar uns dois meses em Londres, para afinar meu inglês. A ?afinadinha? de dois meses acabou virando um ano e dois meses", diverte-se. Só então o publicitário foi para a cidade italiana de Florença (que ele faz questão de chamar pelo nome original, "Firenze"), onde ficou mais oito meses. "Eu fugia de brasileiro, queria era contato com o povo. Tenho essa característica ?camaleônica?: discrição e adaptação ao meio. Me sentia constrangido em agir como turista, parar em uma esquina e abrir um mapa, queria era ser um deles, virar cidadão", revela. A pronúncia perfeita era outra de suas preocupações.


Na Europa, descobriu o que se tornaria uma de suas paixões: cozinhar. Durante sua estada em Londres, trabalhando em um restaurante de comida italiana, lavou pratos e, depois de um mês, foi para a cozinha, onde acabou virando chef. Quando saiu, já estava em treinamento para a gerência. Já na Itália, fazia pratos da culinária toscana. A viagem acabou quando seu avô, italiano, ficou doente, em São Paulo , e Luciano voltou para vê-lo, com o desejo de conversar com ele em sua língua materna.


De volta à vida real


O retorno a Porto Alegre foi em 1994 e, após um período para se readaptar à cidade, foi novamente trabalhar na SLM. Recomeçou na direção de Arte e acabou assumindo como diretor de Criação da agência. Somados os dois períodos na casa, já são 14 anos. "Sou um dos mais antigos da empresa", orgulha-se.


Luciano mora há três anos com a também publicitária Marcela, atendimento da Dez Propaganda, e tem um filho de seis anos de outro relacionamento. É Lorenzo, que mora com a mãe, mas está sempre perto do pai. Além de continuar cozinhando e mantendo o sonho de ter um restaurante ("de comida italiana, ou grega, que eu também gosto"), o profissional está ressuscitando hobbies antigos. Comprou tela, cavalete, tintas e pincéis e está pintando seus quadros. Além da pintura, gosta de histórias em quadrinhos, tem coleção delas desde a década de 1980, chegou a criar algumas e diz ter o projeto de retomar a criação na área.


Outro hobby resgatado é o esporte. Aos 14 anos de idade, já jogava basquete e, até os 18, chegou a disputar campeonatos pelo Internacional, pelo Grêmio e pela Sogipa, além de ter jogado muito em praças e no Parque Marinha do Brasil. Agora, retomou a prática: joga três vezes por semana na ACM, ao meio-dia. Nos outros dois dias, ainda consegue tempo para treinar boxe, no Clube Caixeiros Viajantes. Outra paixão são os motores. Está reformando uma lambreta amarela, ano 1975, comprada quando tinha 17 anos, e vendeu seu carro comum para comprar um Maverick vermelho, ano 1977, e uma moto. "A coisa mais divertida do mundo pra mim é vir trabalhar, voltar do trabalho, ir para qualquer lugar, porque eu tô sempre bem com meu carro e minha moto. É prazer absoluto", comenta.

Imagem

Comentários