Luciano Terres: Predestinado ao empreendedorismo

Sócio da Alright Ad Tech Company, é movido pela paixão pela tecnologia

Tudo começou quando o amigo e sócio da Alrigth Domingos Secco Junior, com quem já havia trabalhado, apresentou o projeto de um novo setor da empresa. Para colocar em prática precisava de alguém da área da tecnologia, mas tinha um pequeno detalhe: "ele não tinha dinheiro e não teria como me pagar", conta Luciano Terres. Empreendedor nato e movido a desafios, ele tinha uma carta na manga. "Quando migrei para o departamento comercial da empresa que eu trabalhava, acertei o pagamento de comissões vitalícias, então era o momento de usufruir", revela. Proposta aceita, nascia a Alright para publishers.

Passado um ano, Secco e os demais sócios - Cesar Paz e Fabiano Goldoni -, propuseram sociedade stock options - forma de remuneração variável, na qual o funcionário tem o direito de comprar ações da empresa, assim tem parte do salário atrelado aos resultados. "Mesmo eles já me considerando parte da sociedade, deram-me o ano de 2018 para decidir. A partir daí, passei a ter mais liberdade para pensar o negócio, contratar pessoas e traçar metas", comenta. Partiu de Terres a ideia de comercializar espaços publicitários de maneira automatizada e customizada, o que resultou no aporte do Fundo Criatec 3, gerido pela Inseed Investimentos, em 2019.

"Assim, iniciamos o trabalho de levar a marca da Alright para publishers do Brasil inteiro. E não pretendemos parar por aí, o mercado global também está no nosso horizonte", almeja. E é com essa perspectiva que ele e a família já trabalham a ideia de sair do País. O plano de morar no exterior é antigo e já foi deixado de lado algumas vezes, mas, com a possível expansão da empresa, isso passa a ser tratado como consequência.

Uma personalidade forte

O jeito calmo de falar não traduz quem é Luciano. Com o pai, o seu Vilnei, aprendeu na infância a importância de correr atrás do que se quer. Aos 10 anos, interessou-se pelo trabalho do genitor na área da eletrônica. Mergulhou nos livros e nas referências oferecidas e escutou do pai: "O caminho é esse. Se tu queres aprender, precisa demonstrar interesse; Se tens dúvida, vem e me pergunta". Com 12 anos, já tinha expertise suficiente e passou a ajudá-lo a montar placas e circuitos.

No início da adolescência, iniciou um curso técnico em Administração e logo foi em busca de um estágio. Com uma entrevista marcada para uma vaga, compareceu no local às 14 horas e aguardou o atendimento. Após 40 minutos de espera, foi perguntar por que ainda não o tinham chamado. "A recepcionista foi falar com o recrutador, que disse que em breve me atenderia. Frisei que só aguardaria mais 20 minutos. A pessoa não apareceu. Levantei, disse que estava indo embora e que, se tivessem interesse, que me ligassem. Imagina um guri falando assim? Olho para o meu filho de 14 anos e não imagino ele repetindo essa atitude", diverte-se ao contar.

Para sua surpresa, ligaram. Ao chegar, a pessoa já o esperava e disse que havia ficado muito curioso para conhecer quem era esse adolescente petulante. Luciano se desculpou, mas não perdeu a oportunidade e soltou: "Eu não tenho culpa se tu não respeitaste o horário combinado. Aí, ele me pediu desculpa", relata. Em seguida, perguntou o que um técnico em Administração queria com uma vaga na área de processamento de dados e microfilmagem, e mais uma vez foi surpreendido com a resposta. "Sério que tu estás me fazendo essa pergunta? A primeira coisa que eu aprendi no curso é que tenho que conhecer todos os setores da empresa. Depois disso, ele assinou o documento e disse que eu estava contratado", completa, orgulhoso.

A maior motivação de Luciano era a oportunidade de ter acesso aos computadores, já que não tinha em casa. Com a primeira bolsa-auxílio, comprou um para uso pessoal, no qual conectava um dispositivo na TV e, quando quisesse gravar dados, tinha que utilizar uma fita cassete. Após um ano, abandonou estágio e curso, pois descobriu um projeto de ensino experimental oferecido pelo governo do Estado. No modelo, não tinha aula presencial, havia um local físico com uma biblioteca e os professores ficavam para tirar dúvidas, mas era tudo com o aluno. "O conteúdo era entregue e, se nos sentíssemos preparados, era só marcar a prova. Para mim, era como um parque de diversão, pois estava acostumado a aprender dessa maneira", ressalta.

O despertar do empreendedor

Em 1993, prestou vestibular para Engenharia Elétrica na Ufrgs, mas não passou. Na época, o curso era mais concorrido que Medicina, eram 32 vagas e ele havia ficado como quarto suplente. Luciano considera essa a sua primeira grande frustração, já que sempre foi um aluno referência, ou um nerd, como ele mesmo denomina. Cogitando não seguir na área da Tecnologia, pensou em estudar matemática, que era outra paixão. Como morava na Zona Norte de Porto Alegre, perguntou aos amigos que estudavam na Fapa quais cursos a faculdade oferecia nesse campo. Era a própria Matemática e Ciências Contábeis, a segunda opção pareceu mais desafiadora. Então, lá foi ele. Cursou até o quinto semestre e, nesse meio tempo, fez vários estágios, entre eles no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Mas o destino era implacável, para onde ia, acabava trabalhando com tecnologia.

Percebendo que era esse o caminho, decidiu fazer um curso técnico em processamento de dados. "Assim que comecei, percebi o porque de tudo", recorda. Seguindo o ritmo, passou no vestibular para Ciências da Computação, na UniLaSalle. Luciano recebeu o convite para ser pesquisador-bolsista no projeto Metropoa, da PUC. O programa tinha como objetivo o desenvolvimento de novas tecnologias de redes de alta velocidade. Faziam parte os cursos de Engenharia Elétrica e Ciências da Computação, e era interligado com Ufrgs, Unisinos e UCPel. Com isso, pediu transferência para o curso de Sistemas da Informação. Em paralelo, começou a trabalhar no banco AJ Renner e embarcou em mais uma pesquisa no laboratório de química da Ufrgs, relacionada a projetos junto a Petrobras. Além de tudo isso, Terres ainda fazia parte de um grupo de dança tradicionalista... Ou seja, segundo ele, "era um ritmo alucinante".

A primeira faísca do empreendedorismo foi acesa com a proposta de um negócio: a produção de 12 softwares no prazo de seis meses. Deu tão certo, que logo estava instalado em uma sala comercial, com mais nove funcionários e com uma grande oportunidade nas mãos. Diante desse cenário, decidiu que tinha que abandonar uma de suas ocupações. Escolheu o banco, já que não havia mais a possibilidade de se desenvolver.

O projeto tinha relação com a Lei de Incentivo à Cultura (LIC) e oferecia valores muito acima do que estava acostumado a trabalhar. Porém, por se tratar de governo, o recebimento seria em longo prazo. Após tratativas com o então deputado estadual Eliseu Santos, iniciaram rodadas de conversas com grandes empresas do Estado, mas a alegria durou pouco. Quatro meses depois, descobriram que a empresa que o havia contratado tinha falido. Sem dinheiro para continuar com a empresa aberta, fez empréstimos para pagar os funcionários, colocou os computadores embaixo do braço e foi falar com o pai.

Seu Vilnei era proprietário de um prédio comercial na periferia de Porto Alegre, e Luciano precisava de uma sala para trabalhar. "Ele me disse: tenho duas para alugar. Bom, pelo menos ganhei um desconto", revela. Com a esposa Lilia grávida do primeiro filho e abandonado pelo sócio, Luciano precisava se reinventar e foi aí que teve uma ideia. Fazia pouco que havia lido um artigo sobre uma franquia japonesa de lan house chamada Monkey, que tinha se estabelecido em São Paulo. "Olhei para aqueles 12 computadores parados e pensei: tô na periferia, ninguém tem banda larga, acho que o caminho é esse", lembra.

Em uma conversa com o irmão caçula, falou sobre a ideia. "A empolgação dele foi tão grande que, depois disso, todos os dias tinha uma fila de meninos na porta perguntando se eu ia abrir naquele dia", destaca. O negócio estava fluindo muito bem, mas o fato de estar na periferia incomodava, já que almejava voos mais altos.

Novos rumos

Em um belo dia, uma empresa de recrutamento entrou em contato a respeito de uma vaga para trabalhar numa software house, no desenvolvimento de sistemas para a bolsa de valores. "Eles tinham achado meu currículo num banco de dados. Não estava procurando, mas fui fazer a entrevista", disse. Uma das etapas do processo seletivo era teste prático, que acreditava ser jogo rápido. Então, decidiu marcar no mesmo horário que a esposa tinha consulta com a obstetra, pois assim poderia busca-la ao terminar. Mas a tal avaliação consistia na criação de um software do zero. "Pensei, vou fazer o que der em uma hora e meia, que era o tempo que a Lilia ia se liberar. Até porque, eu nem estava contando com essa vaga", descreve.

Assim como aos 13 anos, Luciano se dirigiu a pessoa responsável e explicou a situação, repetindo que, caso tivessem interesse, entrassem em contato. O que aconteceu? Foi chamado e conversou com os donos, que ofereceram o emprego, mas havia uma ressalva: a empresa tinha uma política de cargos e salários que iniciava na contratação, porém, como ele não tinha terminado o teste, receberia somente a primeira faixa de remuneração. "Senti-me desrespeitado, mas extremamente desafiado. Minha resposta foi no mesmo nível da proposta dele. Topo, mas vou mostrar que vocês estão errados", conta. Em um ano e meio, havia subido cinco faixas e logo atingiu o teto máximo.

Com medo de perdê-lo, a empresa ofereceu um cargo na área comercial, no qual o pagamento era por comissão. Topou e, no primeiro projeto, se deu o encontro com a Comunicação. Mas foi com um projeto junto ao Grupo Pão de Açúcar, que conheceu o sócio Secco. "A pessoa que nos apresentou acabou fazendo uma profecia, pois disse que sabia que ainda faríamos muitos projetos juntos", comenta.

Família é tudo

Luciano tem no pai um exemplo de vida, de ser humano e, claro, de empreendedor. Natural de Cachoeira do Sul, seu Vilnei veio para Porto Alegre com a família aos seis anos. Como forma de ajudar em casa, passou a engraxar sapatos no centro da Capital. Foi com o tio, que morava em Canoas, que aprendeu a profissão que exerce até hoje, de técnico em eletrônica. Casado com Irene, dona de casa, tem, além do Luciano, que é o segundo filho, Cristiano, primogênito, o Fabiano e o caçula Adriano.

Durante a adolescência, praticamente não conversava com o irmão mais velho, mas o destino fez com que seus caminhos profissionais se cruzassem. "A Alrigth tinha interesse no mercado da Argentina e o Cristiano, como bom motoqueiro, conhece muito bem o país e é fera na área comercial. Contratamos ele para traçar o mercado de veículos de comunicação e a experiência foi tão incrível que ele está conosco até hoje. Pude conhecer um irmão que não imaginava ter", salienta.

Mas é com o mais novo que, desde criança, mantém uma relação mais forte. Adriano nasceu prematuro e passou 30 dias na UTI. Ao assistir a exaustão dos pais, pegou para si a responsabilidade de cuidar dele. Os 10 anos de diferença ajudam na hora de ensinar e também de puxar a orelha. Até pouco tempo atrás, também deixou sua marca na Alrigth.

Casado com a Lilia, desde 2001, é pai do Gabriel de 14 anos; do Samuel de oito; e da Ana de três. "Sou muito família, então, tenho regras em relação ao trabalho. Fora do horário comercial, dedico-me 100% a eles, só abro exceção quando muito necessário e, mesmo assim, combino previamente com eles", enfatiza. Ao se descrever, diz: "Um empreendedor visionário, movido a desafios", finaliza.

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