Luís Augusto Junges Lopes: um revisor metaleiro

Ao longo de mais de duas décadas, a gramática e os riffs de uma guitarra ajudam a escrever sua trajetória

Luís Augusto Junges Lopes - Crédito: Arquivo Pessoal

Parceiro do Coletiva.net desde 2001, Luís Augusto Junges Lopes, ou apenas Luís, como é conhecido entre a equipe, acumula na bagagem, só aqui para a seção Perfil, a revisão de mais de mil textos. A leitura deste, certamente, foi a mais inusitada e especial. Bacharel em Letras com ênfase em Tradução, na Ufrgs, é também fundador e diretor da Press Revisão Assessoria em Comunicação, desde 2006, com sede em Guaíba. 

Natural de Porto Alegre, o filho do gerente de vendas Luiz Alberto Lopes e da professora aposentada Enilda Augusta Junges Lopes cresceu feliz na Avenida Polônia, na Zona Norte da Capital. A infância foi marcada pelos Carnavais na casa dos tios em Rio Grande, pelos jogos de bolinha de gude, taco e partidas de futebol no meio da rua com os vizinhos da casa do lado. "Os dias mais felizes eram quando a gente inventava de jogar futebol andando de bicicleta com as goleiras sendo os portões das nossas casas", recorda. As boas lembranças também incluem a convivência com a irmã Rosa Alice, que faleceu aos 26 anos, em um acidente de ônibus na Avenida Farrapos. "Sinto muita saudade da sua alegria", lastima.

Em Guaíba, lar desde o nascimento da primeira filha, Marina, em 2002, divide com a esposa, Maribel, os cuidados com a mãe. Em março deste ano, a vó Enilda fez uma cirurgia, após quebrar a perna durante uma visita à clínica geriátrica na qual seu marido, que sofre de Mal de Alzheimer, reside. "Estou para conhecer uma nora que cuide melhor de sua sogra do que a Maribel", diz, orgulhoso.

É também com muito carinho que cita a esposa, ao contar a ocasião em que viu seu trabalho ser contestado. Em 2013, no dia da sessão de autógrafos na Feira do Livro da obra 'A dama da lagoa', do escritor e jornalista Rafael Guimaraens, pela editora Libretos, para a qual já revisou mais de 80 obras, Luís recebeu uma ligação da editora Clô Barcellos perguntando se já havia lido a Zero Hora daquele dia. Uma crítica ao livro continha elogios, mas apontava alguns 'tropeços da revisão'. Na parte da tarde, lá estava ele de plantão no estande do jornal. Após uma hora, conseguiu falar com o colunista. "Me apresentei e perguntei quais erros havia encontrado. Como ele estava com pressa, ficou de enviar um e-mail com seus apontamentos. Realmente, alguns eram imperdoáveis. Mas a sensação de errar é horrível e, justamente, na semana em que a Press comemoraria 500 publicações. Mas lá estava a Maribel para dar aquele apoio reconfortante", destaca.

Por dentro do universo da revisão

De cara, sua jornada profissional iniciou sob o olhar de dois grandes autores gaúchos: Tabajara Ruas e Carlos Urbim. Como estagiário na Secretaria de Estado da Cultura, revisava os jornais '30 Dias de Cultura' e o suplemento literário 'O Continente'. Durante a correção de um artigo, uma expressão chamou sua atenção, 'Fio de Ariadne'. Ao acreditar que havia algo de errado, perguntou aos editores: "O correto não seria 'O Fio de Adriane'? Urbim deu um leve sorriso e me explicou que se tratava de uma referência à mitologia grega", relembra essa pitoresca história. 

Logo que saiu da faculdade, montou com duas colegas uma empresa de tradução. Porém, após alguns trabalhos, resolveram se separar. No final de 1994, passou a revisar as notas da coluna do jornalista Paulo Gasparotto para a Zero Hora. A partir daí não parou mais. Pelas editoras Síntese visitou textos jurídicos e da área da saúde pela Artes Médicas. 

Durante três anos, fez parte da equipe da Plural Comunicação, um braço do Grupo Amanhã, tendo como colegas os jornalistas Fernanda Rocco, Flávio Ilha, Rosângela Florczak, Karen Santos, Carolina Fillmann e Ricardo Bueno. Dentre os clientes estava a Copesul, na qual a gerente de Comunicação era a jornalista Carmen Langaro, com quem posteriormente voltou a trabalhar. "Foi uma época muito mais a ver com o que eu realmente queria trabalhar, bem distante do mundo juridiquês da Síntese", compara.

Ainda na Plural, recebeu o convite dos então sócios José Antonio Vieira da Cunha, José Luiz Fuscaldo e Luiz Fernando Schreiner Moraes para revisar os textos do iniciante portal Coletiva.net. Toda quinta-feira à tarde ia de ônibus, da Avenida Ipiranga até a Carlos Gomes, para ler e corrigir as notas que seriam publicadas no dia seguinte, e que só eram atualizadas na outra sexta-feira. Desde então, acompanha todas as mudanças na dinâmica de trabalho advindas com o avanço da tecnologia. 

A independência 

Juntamente com a amiga jornalista e publicitária Ana Lúcia Oliveira da Silva, fundou a Press Revisão, em 2006. Com a saída da sócia pouco tempo depois da abertura, assumiu a responsabilidade na conquista de novos clientes. A oficialização do negócio vem a partir da indicação da ex-colega da Plural, Karen Santos, para revisar a 'Revista da Feira do Livro', para a agência KCS. "Uma das sócias era a Cristiane Ostermann, com quem trabalhei também em todos os livros 'Encontros com o Professor', projeto capitaneado por seu pai, Ruy Carlos Ostermann", conta.

Em setembro de 2017, recebeu um convite muito especial da head de Relacionamento e Negócios da Moove, Luana Rodrigues, para revisar todo material produzido pela agência. Feliz, lembra que em dezembro do mesmo ano a agência recebeu da ARP o prêmio de Agência do Ano. No ano seguinte, a Moove repetiu a dose e, na mesma noite da premiação, sua primogênita foi escolhida como Melhor Atriz do Festival de Cinema Estudantil de Guaíba. "Agora sim, pensa em um pai e revisor feliz", fala, orgulhoso.

Com muita dedicação e trabalho, conquistou ao longo dos anos a confiança e amizade de muitos clientes, alguns parceiros há mais de 10 anos. Dentre eles, Luís destaca as agências Imagine Design, Design de Maria, Ampliare Comunicação e Reverso Comunicação; as editoras Casa Verde, Diadorim e a Capítulo 1; e os Hospitais Moinhos de Vento e Ernesto Dornelles. "Como contabilizo todos os livros, revistas e informativos que chegam nas minhas mãos, hoje a Press Revisão está com quase 920 publicações em seu acervo", destaca.

Apesar de ser um gremista 'bem-humoradamente fanático', cita que dentre os trabalhos mais especiais está a revisão do livro 'Gigante para Sempre - Internacional', do escritor Altair Martins. "Eu era o único gremista na equipe. Foi uma missão difícil, suada, mas o livro ficou lindíssimo", diverte-se, ao recordar. Também acumula no currículo duas biografias de ídolos colorados 'No Último Minuto: A História de Escurinho: Futebol, Violão e Fantasia', de Jones Lopes da Silva, e do 'Sadi Schwerdt: Nosso Capitão', coescrito com Paulo César Teixeira.

Ressalta também a biografia 'Teixeirinha - Coração do Brasil', do jornalista Daniel Feix, pela editora Diadorim, que ganhou espaço além das fronteiras do Estado. "É uma pesquisa fabulosa iniciada antes mesmo do nascimento do maior ídolo da música gaúcha. A impressão que dá é que o autor viveu diversos momentos acompanhando o Teixeirinha", salienta.

Como amante de boa leitura, Luís se encanta com boas histórias. Em 2018, uma em especial lhe causou surpresa e satisfação. Um amigo o indicou para um advogado paulista, cuja filha queria lançar um livro. Após conversarem sobre o sistema de trabalho, recebeu parte para dar uma olhada. "Ela havia escrito mais de 190 páginas. Perguntei a idade dela e ele respondeu que tinha 13 anos. Caraca! Me espantou a qualidade da trama policial que ela havia criado, em um total domínio da narrativa, dos personagens, com pouquíssimos erros de português", enfatiza. Priscila Bisker lançou no ano passado, aos 14 anos, sua primeira obra intitulada 'Um tiro. Um caso', em São Paulo.

Nas ondas do metal e da literatura

A música, em especial o rock, mexe com o coração de Luís. Por coincidência, ou não, o bate-papo com ele aconteceu no Dia Mundial do Rock. No cenário nacional, Legião Urbana está no topo de suas preferências, mas nada ganha da adoração que tem pela britânica Led Zeppelin. Em suas memórias coleciona histórias dos shows que já curtiu.

Em 2002, acompanhado do primo Rogerio, assistiu a banda canadense Rush no Estádio Olímpico. "A Marina tinha meses e a Maribel me 'ameaçou', dizendo que nos próximos eu teria que pagar o equivalente a dois ingressos para ela e a pequena ficarem em casa. Converti o afilhado predileto dela, o Pedro, para me acompanhar nos shows. A partir daí, já fomos ver Deep Purple, Metallica, Black Sabbath, Cypress Hill, e o Iron Maiden", salienta. O apreço pela boa música se estende também às garotas. Com a esposa já assistiu Eric Clapton, na ocasião grávida da Marina, além de O Rappa, Nando Reis, Maria Rita e Zeca Baleiro. Em família, curtiu o show em tributo ao Legião Urbana, em 2018.

O vício pela leitura começou com leves crônicas de Fernando Sabino e Luis Fernando Verissimo. A partir daí encarou o que considera mais 'pesado', e que acabou compondo sua galeria de referências:Machado de Assis, Vladimir Nabokov, Dostoievski e José Saramago, "incluindo 'História do cerco de Lisboa', que conta a trajetória de um revisor", afirma. Tabajara Ruas, Dyonélio Machado, e Lygia Fagundes Telles também estão entre seus autores prediletos. "Essas leituras ajudam muito na hora de corrigir obras de ficção, pois a revisão se torna um meio de campo entre o que o autor quer expressar e o que o futuro leitor pode depreender", explica.

Parceria para vida toda

Luís é rodeado por grandes mulheres. Tudo começou em janeiro de 1999, durante as férias na casa da praia, em Magistério. Maribel estava hospedada na casa da vizinha, dona Selma, sogra da irmã dela. Um convite para tomar chimarrão foi o ponto de partida. "Ia jogar bola na beira do mar e na volta ela oferecia um mate, e até hoje está me oferecendo um chimarrão", brinca. É com muitos elogios que destaca as qualidades da professora que conquistou seu carinho e admiração: "É uma supercompanheira, parceira, sempre me apoiando em todas as horas. Adora viajar, passear e também cozinhar. Por isso, aqui estamos isolados na 'gordentena' ", diz com bom humor o fato de estarem em quarentena.

Da união nasceu Marina, hoje com 18 anos, e Luísa, de 15 anos. Apaixonada por teatro e balé, a primogênita deu início à sua jornada no mundo artístico ainda na infância. Com o grupo formado apenas por meninas, conquistou diversos prêmios em festivais pelo interior. Em 2018, participou do filme 'A Valquíria' realizado pela escola, sendo escolhida Melhor Atriz em dois Festivais de Cinema Estudantil. No momento, toda atenção está voltada para o vestibular da Ufrgs, que pretende prestar para Teatro. Como diz o pai :"ela está em um relacionamento sério" com o Gabriel, estudante de Química Medicinal. "Foi muito estranho quando conheci meu genro, mas logo nos tornamos amigos. Ele é muito parceiro nas viagens, passeios e na cozinha". Sobre as panelas, Luís confessa que só sabe fazer pipoca, mas que, mesmo assim, exerce papel importante: "Entro em cena somente para lavar a louça. Só de lavar todos os dias, da manhã à noite, já poderia pensar em me aposentar", brinca.

Divertida e carinhosa, a caçula também faz parte do grupo de teatro e, em 2014, recebeu o troféu de Atriz Revelação no Festival de Teatro Estudantil de Três Coroas. No ano passado, viajou para o lugar que mais ama, a França, juntamente com seus dindos e filhos. "Ela amou o interior francês, mas se decepcionou um pouco com Paris, devido à extrema agitação da Cidade-Luz", explica. O isolamento não a impediu de debutar. "Organizamos uma festa-surpresa caseira, com direito a uma megacarreata dos parentes, amigos e colegas da escola", conta. De presente ganhou um gatinho, o Romeu, em homenagem ao autor William Shakespeare. 

Outra grande paixão do revisor é a Praia da Pinheira, lugar que conheceu em 2017. "Linda, com pouquíssimo agito, cheia de lugares deslumbrantes e trilhas para descobrir. Cada vez que voltamos, mais nos encantamos. Quem sabe daqui a alguns anos, bem aposentados, Maribel e eu estaremos na orla da Pinheira esperando a visita das gurias com um chimarrão. Que tal?", almeja. 

 

 

Comentários