Tendo deixado sua marca em diversos veículos de comunicação do Estado - RBS TV, SBT, Record, Canal Rural e Band RS - Luiz Eduardo Rezende construiu sua carreira na televisão, meio onde atua há 30 anos. Aos 52 anos, é gerente de Jornalismo da Band RS, empresa onde já havia trabalhado até 2014, saiu para outros desafios, e retornou em 2022.
A mãe, Nilza Rezende (falecida), sonhava em vê-lo vestir jaleco branco e chamá-lo de médico. E ele até cogitou, mas chegou na hora do vestibular e se deu conta que "não combinava com ele". Antes de se formar jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), sempre acabava envolvido em experiências com comunicação, eventos, técnica de som, planejamento e, a partir disso, a escolha pela profissão se tornou mais clara.
"Minha primeira opção era o Jornalismo escrito, gostava muito, mas a vida tem seus próprios caminhos e acabei nunca fazendo isso profissionalmente", comenta. "Comecei em rádio, na Bandeirantes, fiz estágio na Secretaria de Educação, mas foi na magia da TV que me encontrei e sigo até hoje."
Raízes
A determinação no trabalho, assim como em tantos outros aspectos da vida, foi inspirada pelo pai, o bancário aposentado Luiz Fernando. Estudioso, o técnico em Contabilidade passou em um concurso no Banco do Brasil e, assim, cuidou com afinco da família, completa com a irmã mais nova de Luiz Eduardo, a bioquímica Maria Fernanda.
Nascido em Uruguaiana, o jornalista teve a oportunidade de chamar de casa diversos lugares no Rio Grande do Sul e também fora, como em Santa Catarina e no Maranhão, conforme o pai ia trocando de unidade em suas atividades no banco. Agora, com sua própria família - a esposa Letícia Pacini, educadora-física e também sócia da produtora de vídeos, a filha Julia, de 19 anos, que também escolheu seguir os passos do Jornalismo, e o filho Luiz Guilherme, mantendo a tradição do primeiro nome dos homens da linhagem, de 13 anos, objetiva viajar mais, especialmente no Brasil e para os países latino-americanos, pois considera fundamental conhecer as próprias raízes, origens e cultura.
"O esforço do meu pai e do meu tio, José Ernesto Rezende, mudaram nossas vidas. Eles batalharam muito, cresceram, sem nunca esquecer de onde vieram", conta, seguindo: "Toda vez que vou para Uruguaiana, gosto especialmente de passar o Carnaval lá, faço questão de ir onde nasci, fui criado, pois meu DNA está ali. Tenho amigos que ainda moram lá e sempre volto muito feliz e energizado".
Um dia de cada vez
Adepto da filosofia de que o caminho é melhor que o destino, Rezende busca viver todos os dias intensamente. Já foi muito planejador, preocupado em guardar dinheiro para depois, confessa. Quando perdeu a mãe de forma abrupta, o mundo mudou. Entendeu, então, que ninguém sabe quando será seu último dia de vida e, por isso, o hoje, por mais clichê que seja, é o dia mais importante que existe. "Não tenho mais ansiedade ou medo do futuro. Não deixo nada pra amanhã", enfatiza.
E, na trajetória pela televisão, coleciona memórias para encher um livro. Durante 13 anos, trabalhou no Entretenimento da RBS TV, em Porto Alegre. Participou de clássicos como Carnaval, Patrola e Garota Verão. Mas é do Galpão Crioulo que guarda uma história especial. Preparar o programa de final de ano era sempre um evento mágico. Em uma das ocasiões, montaram um palco inspirado na turnê 'Pulse', da já extinta banda de rock britânica Pink Floyd. A gravação ocorreu em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, na época em que o Galpão ainda era transmitido para os dois estados.
"Eram mais de 100 metros de boca de palco, num estádio. Veio Vídeo Show, helicóptero, uma semana de gravação e uma equipe gigantesca envolvida. Esses tempos a colega Paula Zanettini encontrou no YouTube o vídeo e me mandou. Me emocionei assistindo e fiquei orgulhoso de ter participado", ressalta.
De pautas tristes também é feita a vida do jornalista. Do período no SBT, onde foi editor-chefe, afirma que a cobertura mais intensa que o marcou foi a do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, 2013. E, mesmo com uma vasta bagagem e experiência, ainda sente o impacto e a responsabilidade de reportar com veracidade. De todos os blocos de notas que já rabiscou, o mais marcante foi registrado recentemente. As enchentes que atingiram o Estado em 2024, provocando destruição em 478 de 497 municípios gaúchos, foram as cenas mais chocantes que já precisou informar.
"Nunca tinha vivido nada parecido e tão perto. Era aqui, do nosso lado, com todo mundo prejudicado de alguma forma. A sensação de segurança deixou de existir. Eu fui atingido minimamente, fiquei sem água e luz, e não se compara com quem perdeu tudo, a vida, os bens, o trabalho", pondera. Vários colegas da Band ficaram ilhados em suas casas. Alguns estavam na redação quando receberam a notícia de que seus lares estavam alagando e precisaram sair correndo para tentar salvar qualquer coisa.
"Me orgulho muito da equipe, desde a diretoria geral até o nosso mais distante parceiro, todos pegaram muito junto, fizeram o que era necessário, ninguém tinha função, todo mundo estava focado em entregar a melhor programação diária nacional sobre o que estava acontecendo aqui", relata. A Band SP, representante nacional da emissora, também enviou profissionais para cobrir os acontecimentos da tragédia e abriu a grade, dando mais flexibilidade para a praça local. "Em dado momento, recebemos uma mensagem da comunidade surda agradecendo porque colocarmos tradução na Língua Brasileira de Sinais (Libras) ao vivo e isso foi um diferencial, queríamos que todas as pessoas tivessem acesso às notícias", destaca.
A união faz a força
Mentes inquietas produzem ótimas ideias, segundo defende Rezende. Tendo realizado diferentes tarefas na televisão, sabe bem que ninguém chega a lugar nenhum por acaso. Sente falta do dia a dia do jornalismo, do operacional, admite, mas reconhece que trabalhou muito para chegar à gestão. Para ele, existem dois ingredientes essenciais para um bom profissional: conhecimento e aptidão. Aprendeu com mestres e, em sua atual posição, podendo repassar conhecimento para os mais jovens jornalistas, busca ser um facilitador para que eles trabalhem bem, tenham espaço para aflorar sua criatividade e construir uma carreira de relevância.
E ele assegura que ninguém faz nada sozinho, por isso exalta colegas que passaram por sua jornada e deixaram boas lembranças e ensinamentos: Luiz Artur Ferraretto, na rádio Bandeirantes, foi seu primeiro chefe, não tem como esquecer. Corta para 2025, com a atual chefe, Lisiane Russo, diretora-geral da Band RS, e faz um passeio pelo meio, recordando nomes como: Edson Erdmann, Alice Urbim, Gilberto Perin, Roberto Appel, Ellen Appel, Renato Martins, Voltaire Porto (falecido) e Simone Santos. E, por falar em união, uma dedicatória para a esposa, com quem divide a vida há 21 anos: "A Leticia é minha companheira, quem me acalma, a pessoa que escolhi passar o resto da vida", declara.
De coração mole, como se autodenomina, diz que ninguém erra por fazer o bem. Ficou surpreso quando a filha decidiu cursar Jornalismo, mas assim como é para os colegas e outros estudantes da profissão a qual dedica a vida há tanto tempo, escolheu incentivá-la. "Ela sabe que não é fácil, mas tem meu apoio."
Fora do papel de chefe
Como um tradicional gaúcho, Rezende tem um time do coração na dupla GreNal. Não é segredo pra ninguém, o coração é torcedor fiel do Internacional. Da família, só a mãe era gremista. "Vou muito nos jogos, adoro acompanhar, sempre gostei de futebol", afirma. Quando veio para Porto Alegre estudar, a primeira coisa que fez foi ir no Beira-Rio vibrar de perto em um jogo.
Em 1980, quando morava em Pedreiras, no Maranhão, numa fileira de casas de funcionários do Banco do Brasil, mantinha a paixão acesa. No pátio, tentava a todo custo sintonizar uma rádio gaúcha em ondas curtas para não perder o jogo do Inter. A infância, aliás, foi riquíssima em memórias de brincadeiras com a irmã.
Nas telas, além do esporte, também curte muito o cinema. Crê que é uma grande referência para a televisão e, para os que trabalham na área e não gostam, limita a estética, pois os filmes ensinam sobre narrativas, início, meio e fim, contar histórias. E das tantas recordações de alegrias com o pai, tem a primeira ida a uma sala de cinema, aos cinco anos de idade, para ver 'Superman', em 1978. Cultiva até hoje uma ligação afetiva com o herói e foi na pré-estreia na nova versão do longa, lançado em julho deste ano. Na adolescência, um dos hobbies era ir à locadora e escolher 10 filmes para assistir no final de semana.
Além de médico e jornalista, também tinha outro desejo profissional: ser músico. Tentou tocar violão, guitarra, mas não aprendeu nada. "É uma grande frustração", brinca. Gosta do que chama de 'músicas nervosas para pessoas calmas'. A playlist é dominada por rock, metal, trash - Metallica, Iron Maiden, Slipknot. O amigo Fabio Pitanga, que realmente acabou estudando Medicina, era o parceiro para gastar horas e horas ouvindo o rock, da coleção de discos do pai de Pitanga, seu Antenor, que tinha clássicos como Beatles, Rolling Stones e Queen.
Uma felicidade foi poder proporcionar ao pai, que é muito fã, a realização do sonho de ir a um show do Paul McCartney. "Ele é meu melhor amigo desde sempre e pra sempre. Ele é quem sempre esteve do meu lado, quando errei, quando acertei, quando precisei, quando não precisei. Moramos no mesmo prédio e sou grato de poder criar meus filhos perto dele", emociona-se.
Bem recebido
Além dos projetos e pautas, carrega no currículo também outras iniciativas de sucesso no Jornalismo. Na Record, foi editor do Balanço Geral e integrou a implementação do Cidade Alerta RS. Na empresa, foi onde viu a carreira se dividir aos extremos do entretenimento e do factual. No SBT, como chefe de redação, fez parte da criação de programas e editou o SBT Rio Grande. Os protestos de 2013, Copas do Mundo, Eleições, até a primeira equipe técnica do VAR em jogos futebolísticos. Ele fez de tudo um pouco, aprendeu e ensinou. Mas quer mesmo é ser lembrado como uma pessoa querida pelos colegas, um jornalista que joga limpo. "É uma satisfação circular pelo mercado e perceber que sou sempre bem recebido."
Está contente na Band, comemorando o crescimento e modernização da empresa. Nos próximos anos, quer seguir auxiliando na formação de pessoas que façam o bom Jornalismo, tem isso como missão. Se fosse se aposentar agora, analisa que encerraria a trilha com alegria, mas ainda quer mais. "Eu também aprendo com a gurizada nova, que traz uma nova visão de mundo, da profissão. Essa troca entre gerações é muito bacana", pontua. E o amanhã? Ele só quer saúde para seguir vivendo, compartilhando a vida com quem ama, ver os filhos crescerem e deixar a vida se encarregar de seguir o surpreendendo positivamente.