Luiz Otávio Prates: Aproveitando cada oportunidade

A vida é feita de experiências, e ele sabe bem disso, pois nunca deixou passar nenhuma chance de aprender com cada uma delas

Luiz Otávio Prates, secretário de Comunicação de Porto Alegre - Giuliam Serafim/PMPA

Jogar futebol em ruas que não conheciam asfalto. Sair de casa sem hora para voltar, mas sem perigo de deixar os pais preocupados. Ter muitos amigos. Montar a cavalo e ser feliz com o simples. Cenários assim até parecem de novela, mas são lembranças reais e não muito antigas. O sotaque não deixa esconder: Luiz Otávio Prates é nascido "no Alegrete", criado em Santa Maria e porto-alegrense de coração desde 2016. Sujeito simples, de sorriso fácil e sem se importar com muitas formalidades, o jornalista de 34 anos é secretário de Comunicação da capital gaúcha.

O caçula do engenheiro florestal José Paulo Prates e da psicopedagoga Laura de Salles Prates é formado pela Universidade Franciscana de Santa Maria (Unifra), em 2011. Chegou a cogitar outras áreas, como Administração, Direito ou Psicologia, mas seguiu o exemplo do irmão mais velho, João Paulo, e cursou Comunicação. Pedro Henrique completa a prole, mas seguiu os passos do pai e é engenheiro ambiental. "Irmão mais velho é espelho, né? Chegamos a ser colegas, mas, sendo o mais novo, carreguei ele em muito trabalho acadêmico", lembra, rindo do tempo de universitário.

Ainda sobre essa época, conta que, apesar de ter a faculdade paga pelos pais, trabalhou desde sempre, pois nunca gostou de pedir nada a ninguém e queria mesmo era ter o próprio dinheiro. Ótimo aluno, estava sempre aproveitando as oportunidades. Por ter a tranquilidade de contar com o suporte de seu José Paulo e dona Laura, Luiz Otávio fazia questão de se voluntariar para todas as vagas que proporcionassem algum aprendizado.

Barrado no baile

Trabalhando desde sempre e fazendo certa reserva financeira, o jovem foi seduzido por dois amigos que moravam em Londres a passar um tempo no exterior, já que a moradia estava assegurada. No Brasil, fez todos os trâmites necessários, matriculou-se em curso de inglês lá fora e partiu para viver uma experiência única. Em 31 de dezembro de 2008, Luiz Otávio embarcou, passando a virada do ano nas alturas. "Vi os fogos de artifício de cima. Foi lindo, mas diríamos que foi também o ano novo mais caro da minha vida."

A conta matemática tem um motivo: "Fui num dia e voltei noutro". Fazia pouco tempo da execução, por engano, do brasileiro Jean Charles de Menezes, numa estação de trem londrina, pela polícia local. Então, quando chegou na Inglaterra, o interrogatório para entrar de fato no país foi pesadíssimo. Na época, arranhava no inglês e usou do seu direito de ter um tradutor, pois foram 10 horas no aeroporto, entre diversos interrogatórios. No final da história, ele só pedia para ser colocado num avião para poder voltar e falar com a família, que não tinha notícias dele desde a sua partida do Brasil. "Tenho até hoje o carimbo no meu antigo passaporte com a palavra 'negado'", recorda.

Hoje, vê a experiência de ter sido barrado em Londres com olhos de quem aprendeu muito. Afinal, se isso não tivesse acontecido, toda sua trajetória teria sido diferente, e ele não pensa em mudá-la, pois entende que está em seu melhor momento de vida. Com a decepção - e desempregado, voltou para casa desejando novos desafios. E eles vieram.

Uma relação paternal

Quando fazia estágio na Associação de Jovens Empreendedores de Santa Maria (Ajesm), foi realizada a Multifeira da cidade, a Feisma. Ainda estudante, foi desafiado a responder por todo conteúdo gerado de uma iniciativa lançada naquele ano, que era um pavilhão dedicado exclusivamente ao tema da Inovação. No Centro Desportivo da região, conhecido como ginásio Farrezão, Luiz Otávio se aventurou a fazer de tudo: criou um blog, postava no Twitter, fazia as fotos, escrevia matérias e tudo mais que fosse necessário para promover o novo espaço. 

Bem, a intenção não era essa, mas o jovem chamou atenção do então prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer. O político gostou tanto que, no encerramento da Feisma, chamou Luiz Otávio no palco para tecer elogios ao universitário. E não parou por aí. Recebeu o convite para trabalhar na equipe de comunicação do chefe do Executivo. Começava uma relação? Ainda não, pois negou o chamamento. No mesmo evento do ano seguinte, desta vez cobrindo a própria Multifeira em mais um de seus voluntariados profissionais, esbarrou no prefeito e ouviu a cobrança: "Tu não vais trabalhar comigo?". Chocado com a memória de Schirmer, dessa vez, aceitou.

Ali, sim, dava início a uma relação que vai além da profissional e passa por admiração e, principalmente, gratidão da parte de Luiz Otávio, que seguiu o político em sua campanha para reeleição, segundo mandato e ainda quando este veio para Porto Alegre assumir a Secretaria de Segurança Pública como chefe da pasta. Ainda não havia se formado, mas já estava empregado. "Ele apostou em mim. No último dia do governo Sartori, quando saímos da Secretaria de Segurança e fui levá-lo para casa, eu chorava como criança, pois era mais de 10 anos trabalhando juntos", revela.

Oportunidades inesquecíveis

E aos 27 dias da reeleição de Schirmer, eis que acontece a maior tragédia que o Rio Grande do Sul registrou, o incêndio na Boate Kiss. Como morador de Santa Maria, Luiz Otávio perdeu muitos amigos e conhecidos. Como profissional de Comunicação da prefeitura, ele diz que foi um desafio muito grande porque era o assessor especial do prefeito. Ao lembrar daquela época, até a voz muda, mantendo um tom mais sério e linear. "Por óbvio que isso mexeu, e mexe comigo até hoje."

O jornalista conta que foi muito doloroso viver aquela tragédia, que fez 242 vítimas fatais. Se, por um lado, tinham obrigação de compreender e respeitar as famílias, por outro, precisavam garantir a lisura do processo. Na sua visão, foi um passo profissional gigante, e até abrupto, dada a dimensão da tragédia, e conciliar isso com as perdas pessoais era duro. Reconhece, porém, que foi transformador e um amadurecimento necessário. "Hoje, entendo que nem o melhor gestor de crise do mundo estaria preparado para enfrentar uma tragédia daquela magnitude", resume.

Outro momento marcante na carreira foi quando veio para Porto Alegre, comandar a Comunicação da Secretaria de Segurança Pública. "Ali foi o meu crescimento profissional, tenho certeza disso", analisa, para fazer um novo registro de carinho ao ex-chefe. No fim de dois anos e meio, quando a missão havia sido encerrada, emocionado, agradeceu a Schirmer, ressaltando que lhe devia a própria carreira, pois foi o político quem acreditou em seu potencial, ainda quando estava nos bancos acadêmicos. Da conversa, lembra de uma das coisas mais bonitas que ouviu: "Só abri uma porta pra ti, o resto foste tu quem fizeste". E por conta disso, completa: "Tenho um carinho paternal por ele. Nem posso falar muito, porque me emociono".

Idas e vindas e voltas e recomeços...

A trajetória profissional foi, sim, forjada na área pública, incluindo ainda duas passagens pela Assembleia Legislativa, trabalhando com os deputados estaduais Ruy Irigaray e Tiago Simon. Mas é bom que se registre que, antes de tudo isso acontecer, Luiz Otávio teve experiências no setor privado, sendo uma na Rádio Santamariense AM 630, logo no início da faculdade, e na agência de uns primos, a 4SC.

Decidido a não voltar para a área pública, aceitou o convite de Cleber Benvegnú e ficou por um ano e meio na Critério - Resultado em Opinião Pública, onde conheceu o outro lado do balcão, atuando em cinco campanhas no Interior do Estado. E num recesso de fim de ano, Schirmer liga e o convida para voltar, dessa vez como chefe de gabinete, pois assumiria seu mandato de vereador em Porto Alegre. O acerto com a Critério, então, era de um "empréstimo", ou seja, a condição era que voltasse algum tempo depois.

O fato é que não retornou à empresa, mas também não permaneceu com o ex-chefe. Havia outra oportunidade no meio do caminho. Chamado para uma reunião com Flávio Dutra, então comandante do Gabinete de Comunicação Social da prefeitura, descobriu que este deixaria a pasta e pensava em seu nome para indicar ao prefeito. Lisonjeado pela lembrança e até com certa desconfiança de que era mesmo o nome ideal para o desafio, aceitou. "É muito gratificante estar aqui. É puxado, intenso, cansativo? Lógico. Não é fácil conciliar tudo, mas é uma oportunidade muito interessante", reflete.

Um novo ritmo

Considerando a responsabilidade do atual cargo, o qual ele faz questão de ressaltar que "está secretário", faz com que os momentos de folga sejam poucos. Além disso, aquele jovem baladeiro deixou de existir desde que Maria Luiza, de oito anos, nasceu. "Ela mudou radicalmente a minha vida. Passei a enxergar o mundo de outro jeito, apreciar as coisas mais simples. Ficar em casa, assistir a um filme ou qualquer outro programa com ela, tudo é mais interessante agora." Além disso, apesar do ritmo intenso, preza por algo desde que se conhece por gente, o equilíbrio. Trabalhar muito sempre fez parte do perfil profissional dele, mas nunca abrindo mão de ter vida social e frequentar os círculos de amizade e familiares.

Ele se diz um "ser muito social", que só é feliz assim, mesmo o lado profissional exigindo dedicação extrema. Explica que precisa ter seus momentos de lazer, oxigenar o cérebro, caso contrário, pode comprometer sua entrega - inclusive, quando deixa o Paço Municipal, evita ao máximo falar de política com quem quer que seja, pois é o assunto que vive diariamente, durante muitas horas. Ainda que o tempo esteja escasso, conta que os pais se mudaram para o Litoral Norte, em Xangri-Lá, então, é ainda mais rápido para curtir eles.

Ficar em casa é sempre uma boa opção, especialmente se for para assistir a séries. "Todas que tu podes imaginar. Definitivamente, é o meu lazer atual, ainda que ande sobrando pouco tempo para isso", conta. O título do momento é You, um suspense psicológico, além de ter começado This is Us, mas também gosta de estilos como Vikings e Games of Thrones. Eclético, para dizer o mínimo. A propósito, para poder assistir a tudo isso - além das produções infantis com Maria Luiza, as quais adora, ou maratonar os nove filmes de Star Wars - ele assina seis streamings.

Confessa que queria estar lendo mais, pois gosta e sabe da importância de dar bons exemplos para a pequena herdeira. "Se ela não me vê lendo, é mais difícil que tenha esse hábito também", admite. Nessa área gosta das biografias, como a última que leu, de Steve Jobs, assinada por Walter Isaacson. "Nunca fui fã dos clássicos. Prefiro a vida real", esclarece, lembrando em seguida que o último título de cabeceira foi 'Sapiens: Uma breve História da humanidade', de Yuval Harari.

Para além de um cargo

Apesar de "estar secretário, outras tantas características definem Luiz Otávio. Uma delas é o time do coração. Gremista por herança familiar, e mesmo sofrendo atualmente com o clube na série B do Campeonato Brasileiro, ele já foi fanático, daqueles que não perdiam um jogo sequer na Arena. Atualmente, quase não consegue acompanhar, é verdade, mas futebol sempre foi algo que gostou de consumir e de praticar. "Tenho assistido bastante ao basquete ultimamente. Tem sido mais interessante que muito jogo do meu time", brinca.

Quando diz que é um 'virginiano raiz' é para justificar o quanto gosta de ver sua casa arrumada. "Sou dono de casa real", afirma, explicando ainda que se importa com limpeza, sim, mas mais ainda com a organização do lar. Para sair de casa, por exemplo, somente com cama estendida e a louça lavada, pelo menos. Não pode ser considerado um cozinheiro de primeira linha, mas diz que faz o básico e não passa fome, além de alguns pratos especiais, como strogonoff ou risoto. Apesar do cardápio limitado, no comando de uma churrasqueira, ele se garante. "Modéstia à parte, sou um assador de mão cheia. Adoro o ritual: fazer o fogo, espetar, salgar, assar e limpar, claro! E não só carne, mas pimentão, cebola, batata, queijo, pão de alho, daí eu abro o leque."

Luiz Otávio é, definitivamente, um cara leve, conciliador, agregador, com bom relacionamento e que gosta de diálogos. Sua trajetória fala por si e mostra que é também alguém que se permite experimentar novos caminhos e aquele tipo de pessoa que se chama de "um bom guri". Como não é de se admirar, quando ouve a pergunta "quem é o Luiz Otávio?", responde: "Eita, que pergunta difícil". Sem perder o sorriso, respira fundo e não foge de se analisar. E conclui: "Honestamente, tento ser altamente paciente - poucas vezes na vida levantei o tom de voz -, e nada impulsivo. Enfim, sou alguém com virtudes e defeitos, que tenta aprender com os erros e somar aos outros. E com muita gratidão aos meus pais, posso dizer que sou um guri bem educado".

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