Marcelo Billes: um eterno criativo

O lema que o publicitário Marcelo Billes leva para a vida é também sua diretriz no mundo profissional: ele não veio ao mundo a passeio

Marcelo Billes | Arquivo pessoal
Por Gabriela Boesel
Testemunha e personagem da evolução da propaganda na Região Sul, ele não demonstra nenhuma dificuldade em falar de si mesmo. Descontraído e confiante de si, Marcelo Gonçalves Billes se diverte ao contar sobre as experiências profissionais, quase sempre mescladas à vida pessoal. Não poderia ser diferente, vindo de alguém que viveu da Publicidade desde a juventude, na década de 1970, quando descobriu na propaganda sua vocação.
Filho de Paulo Maurício Narvaez Billes e Elida Maria Gonçalves Billes, já falecida, o publicitário fala em alto e bom som que nasceu em Porto Alegre "graças a Deus". Gaúcho de coração, o profissional se orgulha das escolhas que fez e, com alegria estampada no rosto, diz que não se arrepende de nada no caminho trilhado. Entre idas e vindas do Rio Grande do Sul para Santa Catarina, Billes não hesita em dizer que "gaúcho bom mora na sua terra", o que explica por que, mesmo tendo se firmado como profissional no estado vizinho, largou tudo para voltar e esbanjar talento nos pampas.
E a escolha, para ele, foi satisfatória. "Fiz com medo. Em Santa Catarina, muita gente já me conhecia e vim para cá com a cara e a coragem, só com minha pasta debaixo do braço. E consegui. Isso me deu a certeza de que não é a fama que move o mundo. É o trabalho."
"Desafios me alimentam"
Foi aos 16 anos que descobriu seu talento. A certeza veio quando se machucou ao chutar uma pedra e precisou ficar parado até estancar o sangramento. Com o pé de molho na água salgada do mar, refletiu sobre o futuro e o que gostaria de fazer. Foi quando se deu conta de que escrever era a sua vocação. E escreveu. Aliás, escreve até hoje, como redator da agência Moove - uma vocação que virou ofício.
A paixão pela comunicação se iniciou quando ainda era copy desk (expressão para designar a pessoa responsável por formatar mudanças e aperfeiçoamentos em um texto) no Jornal Extra de Florianópolis, Billes lembra cada passo que deu na carreira para chegar aonde chegou. Com certo ressentimento, conta um episódio que ficou marcado na memória e que, sem dúvida, serviu como um empurrão para sempre buscar ser melhor. Com o olhar longe e as mãos explicitando seu nervosismo, relembra quando, ainda no começo da trajetória profissional, levou seu portfólio para uma entrevista de emprego. "Estava com minha pasta, muito orgulhoso dos meus trabalhos, e o cara olhou o material e me disse: muito bom o teu portfólio, mas é Junior, né?". Um balde de água fria no ego, o que considera o grande impulso na carreira.
Quantos aos elogios, brinca: "Prefiro não mencionar apenas um para não ser injusto com os outros". Por outro lado confessa que, se tivesse que agradecer a uma pessoa em especial, esta seria o publicitário Luciano Rockenbach. Billes escolhe este nome por ter sido a primeira pessoa a acreditar e lhe dar uma chance. "O Rockenbach me ofereceu um terço do salário de jornalista, que já era baixo, e eu aceitei. Depois, eu veria o que iria fazer", recorda.
Os cursos da vida
Com orgulho que se percebe na voz, o publicitário conta que a paixão pela leitura foi decisiva para seu crescimento profissional. Com seis anos já sabia ler, incentivado pelo pai, e obras de Monteiro Lobato e Julio Verne passaram pelas mãos do aspirante a comunicador desde muito cedo. Hoje, convicto, diz que seu autor favorito é Machado de Assis, com quem aprendeu a escrever. Chegou a cursar um semestre do curso de Publicidade na Ufrgs, mas foi chamado para uma experiência em Joinville, na sucursal do Jornal Estado, onde seria repórter de Geral. Abandonou a faculdade se imaginando como jornalista para o resto da vida, mas logo mudou de ideia, pois o coração batia pela propaganda.
Sem formação acadêmica, o publicitário por experiência sentiu a necessidade de se aperfeiçoar e, por isso, se inscreveu em um curso de Planejamento e Prospecção. Com um riso alto e solto, fala: "Minha formação acadêmica é nada ortodoxa". Para buscar informações fora do círculo, chegou a cursar História, Artes Plásticas e Letras, mas não concluiu nenhuma das qualificações. Certo de suas escolhas, confessa que tem pouca paciência com o método acadêmico. "Fiz apenas as cadeiras que eram do meu interesse. Um diploma hoje não faz diferença na minha carreira. Ficou sem sentido para mim."
Em 1997 trabalhou na agência Núcleo Sul, em Joinville, da qual um dos principais clientes era a Tubos e Conexões Tigre. "Na época, eu não sabia a sorte que tinha dado. Comecei com cliente nacional", recorda. Ainda em Santa Catarina, descobriu as contas públicas, ramo que se tornaria seu foco e estímulo, pois consegui ampliar o alcance da comunicação através delas, pelas quais a entrega social é mais objetiva, segundo seus conceitos.
No Rio Grande do Sul, passou por agências como DCS Comunicação, Branco, Selling Outlier Thinking e Moove, onde está há pouco mais de um ano. O desafio que tem a cada dia é o que o alimenta, e aos que dizem que a propaganda gera consumo, ele rebate: "A sociedade é capitalista, mas é possível gerar um consumo sustentável. Eu crio atitude e modifico a vida das pessoas".
Por um fio
Quando o assunto é desafio, o profissional não consegue esconder o pesar ao lembrar uma época ruim para o ramo da propaganda. Hoje, com 51 anos, Billes sentiu na pele a desvalorização dos profissionais chamados "sêniors". Essa dificuldade quase foi razão para desistir da profissão. Ele conta que fez um curso de cozinha, "caso nada desse certo". Chegou a receber duas propostas, mas não aceitou, pois tinha convicção de que seria um profissional frustrado caso abandonasse o ramo da propaganda.
Billes enfrentou a retração do mercado e sobreviveu, diz que hoje a mentalidade da área já mudou bastante e comemora por ainda estar bem posicionado na profissão. Ele acredita que os sêniors têm mais bagagem, pois já passaram pelos problemas, têm as soluções e são mais assertivos. "De maneira nenhuma é questão de maior ou menos inteligência, única e exclusivamente é uma questão de maior ou menor bagagem", se posiciona.
Nascido em 28 de janeiro de 1964, o irmão mais velho de Paulo Dirceu não fala muito da vida pessoal. Com respostas curtas e objetivas, conta que é separado da primeira mulher, com quem foi casado por 20 anos e teve a filha Cassandra Martins Billes. Cheio de saudades, ele diz que a herdeira de 26 anos mora em Joinville, mas vem de vez em quando visitá-lo, e não esconde o orgulho quando questionado sobre a profissão dela: professora de crianças especiais.
Da infância carrega uma lembrança clara, que são as férias de verão em Capão da Canoa na casa dos avós com todos os primos. Ao terminar a frase, o olhar correu da mesa para a janela, e ali ficou por segundos?
Cozinheiro nato e apaixonado por risoto, Billes conta que o tempo livre passa no fogão. Caminhar e ler também são ações que complementam o dia a dia do publicitário, que é casado há um ano com Patrícia Delacroix dos Santos. Entre outras afinidades, afirma que encontrou em Patrícia uma grande parceira para ir ao cinema, outra paixão - principalmente o francês. "Não gosto de cinema americano", esclarece, de forma categórica.
Sem chance para o fracasso
A intolerância ele confessa ser um dos seus maiores defeitos, e não importa com o quê, apenas se diz intolerante, mas rebate dizendo que sua grande qualidade é aprender com seus defeitos. "Não dou chance para os meus problemas. Quando os identifico, trato de melhorá-los logo", conta.
Tem no futebol uma das maiores decepções da vida jovem. Colorado por influência da família, foi ao Estádio Beira Rio em 1979, assistir à conquista do tricampeonato, mas aos 15 anos descobriu que "todos os jogadores eram mercenários". Desistiu e nunca mais assistiu a uma partida sequer.
Realizado profissionalmente, acredita que já passou por experiências que o ajudaram a crescer e a chegar onde está. Agora, o desafio é se manter no mercado e aprimorar sempre. Rindo, ele conta que quer mais do mesmo, pois, apesar da rotina ser igual, cada trabalho é diferente, ponto que valoriza na profissão.
Para o futuro, prefere pensar em continuar no ofício. "Daqui a quatro ou cinco anos já posso me aposentar legalmente, mas isso não significa que vou parar de trabalhar", garante. Billes diz mais, que não pretende parar nunca, que talvez tenha que reduzir a carga horária ou até trabalhar por conta, mas parar está fora de questão. "Pretendo trabalhar até o último dia de vida."
Na vida pessoal e profissional, costuma levar algumas diretrizes. Fazer a diferença no mundo e replicar coisas positivas são duas delas. "Recebo muitas coisas e faço questão de ser construtor também. Acredito no poder da educação. Se houver alguém na tua frente querendo aprender, ensine. Afinal, vamos receber de volta o que doamos. É uma questão de ressonância. Até porque eu não vim ao mundo a passeio."

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