Marcia Budke: Conectar, inspirar e transformar

Cofundadora da Brazo Mídia, publicitária construiu a trajetória unindo estratégia, relacionamento e inovação no universo da mídia digital

Crédito: Arquivo Pessoal

Na engenharia das relações humanas e profissionais, Marcia Budke é uma construtora de pontes. Seja na atuação pioneira no mercado de mídia programática, seja ao articular relacionamentos entre clientes e parceiros, ou até mesmo na forma como enxerga o futuro, sempre há uma constante: a capacidade da publicitária de enxergar conexões estratégicas e transformá-las em algo significativo.

Como cofundadora da Brazo Mídia, mais do que vender soluções em Comunicação, Marcia aproveita cada negociação como uma oportunidade de ensinar e aprender, criando relações sólidas e de longo prazo com clientes e parceiros. "Queremos transformar conhecimento em negócio, mas não necessariamente fazer negócio. Vamos para dentro dos clientes falar de mídia digital, da demanda deles, do que eles não sabem e do que gostariam de saber que está dentro da nossa expertise", explica. Essa fórmula, inclusive, rendeu o reconhecimento que se materializou em uma estrela no 'Salão ARP' de 2024 na categoria Serviços Especializados - homenagem que também coroa os 10 anos da empresa. 

Mas, acima de tudo, Marcia é movida pelas histórias que encontra pelo caminho. Nas agências, no contato com clientes ou mesmo nas amizades que cultiva, seu desejo de ajudar faz dela uma profissional que vai além dos números. E, quando olha para o futuro, enxerga possibilidades em diferentes direções, mas todas com um ponto em comum: a conexão, esse fio invisível que sempre guiou sua trajetória.

Das páginas de livro aos passos de ballet

Marcia nasceu em 1967, em Iraí, mas a cidade é apenas um registro na certidão, visto que, logo em seguida, a família se mudou para São Sebastião do Caí, antes de finalmente se estabelecer em Passo Fundo. O motivo das mudanças era o trabalho do pai, Seno, como pastor luterano - função que exerceu por mais de 20 anos, antes de se voltar ao Direito. Já a mãe, Iracema, era professora, chegando a ser diretora de escola, o que foi uma forte influência para o encanto da empresária com o mundo das palavras.

Irmã mais velha do neurocirurgião Marcelo e do engenheiro mecânico Roberto, Marcia sempre cultivou os hábitos de ler, escrever e conversar. "A Comunicação sempre esteve na minha vida. Meus pais, e principalmente a minha mãe, sempre incentivaram muito", conta. E ainda hoje, mesmo que o ritmo da vida adulta diminua o tempo disponível para a Literatura, a publicitária tem outro incentivador: o marido, Ricardo, responsável por atualizar uma mini biblioteca na casa da família, que também acaba sendo um estímulo para a leitura dos filhos Bruno, de 26 anos, e Pedro, de 20. "Ele é um leitor voraz, então nos beneficiamos disso", pontua. 

Entre os autores favoritos, a empresária destaca Lya Luft: "já li toda a obra dela". Elena Ferrante e Carla Madeira são outras escritoras de quem gosta. Contudo, a publicitária garante que lê de tudo. Já quando o assunto é música, é mais criteriosa: "gosto de rock e jazz". No período em que morou na Alemanha, Marcia assistiu a um show do U2, uma experiência tão marcante que foi repetida posteriormente, quando o grupo veio ao Brasil. No universo audiovisual, ela declara preferência pelas obras de Almodóvar, Dave Clint, Fernando Meirelles e Martin Scorsese. 

E assistir a filmes com a família é uma das diversas programações que a publicitária tem para os momentos de folga, embora também use as pausas profissionais para descobrir experiências e passeios. "Gosto de cinema, da natureza, do mar, mas também gosto de ficar em família. Quando estou de folga, fico feliz, então, tenho vontade de fazer diferentes passatempos", explica. Ela ainda tem a preocupação em se manter ativa por meio de atividades como ioga, treinos funcionais, caminhadas e trilhas, pois entende que se manter em movimento é fundamental.

Isso também é algo que vem da infância, época marcada por outra paixão além da leitura: o ballet. "Comecei entre meus cinco e seis anos. E, mesmo morando em Passo Fundo, eu ia a Porto Alegre fazer cursos na Vera Bublitz", conta. Já formada em ballet clássico, começou a dar aulas para crianças aos 18 anos, mesma idade em que se mudou para a Capital para estudar. "Dancei na academia Tony Petzhold e no ballet Fênix. Mesmo com a faculdade e o trabalho, eu era intensa na dança. Parei só quando não consegui conciliar os filhos, o ballet e o trabalho", afirma. 

Alemanha: o lugar certo, na hora certa

Já que na Universidade de Passo Fundo (UPF) não havia a graduação do seu interesse, Marcia deu início ao curso de Comunicação Social - Publicidade na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 1986. Já no segundo semestre, em busca de aprender na prática, fez estágio nas agências Escala e Standard Ogilvy & Mather. Na sequência, assumiu o cargo de assistente de Marketing na Centro Cópias. A formatura foi em 1991, mesmo ano em que embarcou com destino um dos capítulos mais enriquecedores da trajetória.

Desde cedo, o alemão fazia parte de sua vida - principalmente pela presença da avó materna, que quase só se comunicava naquele idioma. "Sempre quis morar fora", pontua Marcia, destacando a Alemanha como um destino natural. Na cidade de Colônia, seu primeiro passo foi um curso de alemão para estrangeiros, que durou um ano. Essa imersão foi fundamental para a especialização em Marketing na West Deutsche Akademie fur Kommunikation (Academia de Comunicação da Alemanha Ocidental, em tradução livre), entre 1994 e 1995.

Foi lá também que conheceu o marido Ricardo, com quem é casada há 28 anos. "Já estava na Alemanha havia mais ou menos uns dois anos quando conheci ele, um gaúcho de Porto Alegre, em Colônia", relata. Além disso, a empresária aproveitou o período para conhecer novos lugares. Entre os países que visitou na Europa, destaca Bélgica, Espanha, Grécia, Holanda e Turquia, bem como as cidades de Budapeste, na Hungria, Londres, na Inglaterra, e Praga, na República Tcheca.

Para ela, foi um período em que "tudo se encaixava". "Foi uma fase muito boa. Era uma cadência de acontecimentos que estavam dando certo. Parecia que eu estava no lugar certo e na hora certa", conta. Com uma vivência tão positiva, o retorno ao Brasil foi difícil. Quem voltou primeiro foi Ricardo, meio ano antes da publicitária. "Então eu vim, mas deixando uma dúvida no ar, sem muita certeza. Até que casamos e eu fiquei aqui", explica.

Mercado, academia e empreendedorismo

De volta ao Brasil, Marcia atuou na área de Planejamento na Jornal Comunicações - empresa de revistas especializadas. Foi, porém, em uma passagem de 13 anos no Grupo RBS que sua carreira ganhou contornos ainda mais expressivos. A publicitária começou como executiva de Contas da TVCom, em 2000, cargo que repetiu na RBS TV. Em 2010, assumiu o posto de gerente comercial de Mídia Digital do Click RBS, até que um ano e meio depois, ainda mantendo a mesma ocupação, voltou-se aos portais G1 e GE do Rio Grande do Sul.

Neste período, também se aprofundou academicamente: entre 2008 e 2010, realizou mestrado em Administração e Negócios na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e, em 2010, começou a dar aula na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). A publicitária se dividiu entre o mercado e a docência até 2012, quando se despediu do Grupo RBS para focar nas salas de aula. No mesmo ano, passou a lecionar também no Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). "Estava pensando em começar o doutorado e dar essa virada de ser só professora, pois estava indo bem", comenta.

Mas o plano não foi adiante. Em 2014, Jessé Rodrigues, que foi colega de Marcia no Grupo RBS, propôs a fundação de um escritório de representação comercial. Apesar do empreendedorismo nunca ter sido um grande sonho, ela abraçou a ideia e assim nasceu a Brazo Mídia. Por pouco mais de um ano, a dupla tocou o negócio em conjunto, até Jessé decidir seguir outros caminhos, sugerindo que a publicitária continuasse com a empresa. "Fiquei como única sócia, mas sempre digo que sou co-fundadora, pois, na verdade, foi ele que me convidou", reconhece.

Ao longo dos anos, a Brazo Mídia operou sempre com uma equipe enxuta e focada no que faz de melhor: venda, prospecção, planejamento e comercialização de campanhas, conectando clientes às plataformas parceiras. "Acompanhamos tudo do início ao fim", explica. Marcia não sentiu grandes dificuldades em empreender, visto que já contava com uma forte rede de relacionamentos. Por ser pioneira na venda de mídia programática no Rio Grande do Sul, o único desafio significativo da publicitária foi aculturar um mercado que não tinha tanto tato com o digital. "E esse desafio permanece, já que a inovação acontece em ciclos muito curtos. Então, temos que estar sempre trazendo novas tecnologias e serviços para os clientes", pondera.

Transformando-se

Marcia se define como uma geminiana nata. "Sou curiosa e intensa nas coisas que faço, e tento ser sempre esperançosa", afirma. Entre as qualidades que mais valoriza em si, destaca a resiliência, visto que a perda precoce dos pais lhe ensinou a transformar a dor em força. Entretanto, a empresária reconhece que a impaciência faz parte da sua personalidade, manifestando-se em relações profissionais e pessoais. "Estou aprendendo e tentando ser melhor", garante.

Quando perguntada se já se imaginou em outra profissão, confessa que cogitou caminhos bem diferentes dos que seguiu. "Adoro cafés, então, fico pensando se eu poderia ser barista", revela. Mas, ao mesmo tempo, há outra opção que sempre a fascinou: a Psicologia - área para a qual chegou a prestar vestibular de forma alternativa à Comunicação. "Gosto de escutar de forma genuína e de conhecer histórias. O autoconhecimento e comportamento humano me interessam, então, acho que até faria Psicologia daqui uns anos", comenta.

Marcia se declara realizada e grata pela trajetória até aqui: "Acho que tudo se desencadeou de uma maneira muito legal". Ainda assim, ela guarda um sonho: voltar a morar fora, quem sabe por um ano ou mais, para se especializar em novas tecnologias e explorar oportunidades internacionais. "Com a experiência e a maturidade que tenho hoje - e com os filhos já crescidos - seria uma chance de trabalhar e estudar em um ambiente diferente", comenta.

Com este desejo de se reinventar e ampliar horizontes, a empresária considera modelos de negócios diferentes, mas também vê espaço para continuar trabalhando com conexões estratégicas, aproximando marcas e pessoas de maneira inovadora. Acima de tudo, Marcia não pretende estacionar na vida, certeza que é bem resumida ao citar as palavras de Lya Luft: "Pois viver deveria ser - até o último pensamento e derradeiro olhar - transformar-se". "Temos que nos transformar, nos provocar, mesmo que seja por mudanças pequenas. Às vezes, paramos, não queremos mais a transformação, mas ela é tão boa quando conseguimos", finaliza.

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