Marcos Santuario: Ele é apenas um rapaz latino-americano

Editor de Cultura do Correio do Povo e curador do Festival de Cinema de Gramado interrompeu a faculdade para viajar pelo continente

Editor de Cultura do Correio do Povo, Marcos Santuario

Marcos Emílio Santuario, que herdou o segundo nome do pai, percorre todos os dias cerca de 60 quilômetros para ir trabalhar. Isso porque ele, que é editor de Cultura do jornal Correio do Povo, localizado no Centro de Porto Alegre, construiu, ao lado da esposa, Bruna Provenzano, uma casa em Ivoti. Após morar na Capital em bairros como Menino Deus e Ipanema, foi a tranquilidade do "pé da Serra" que resolveu chamar de lar, que divide, ainda, com a mascote Mafalda, uma Soft Coated Wheaten Terrier. É com ela que passeia todos os dias pelas ruas arborizadas do município. "Gosto de ir a todos os lugares do mundo e voltar", revela ele, que é apaixonado pelo lar, e, também, por desbravar horizontes.

Mesmo tendo retornado ao Rio Grande do Sul, a inquietude nunca o deixou levar e, com isso, viajar passou a ser uma espécie de hobby. "Há lugares dos quais gosto muito, por exemplo, Toronto, Montevidéu e Punta Del Este", lista, ao lembrar, ainda, que foi graças ao Jornalismo que visitou muitos outros locais, desde a Suíça e a Alemanha, até a Colômbia e o Chile, que, segundo ele, têm algo que o fascina.

Intrínseco

Esportista durante a adolescência, Santuario praticava muitos esportes nos tempos de colégio, como basquete, vôlei e handball. Contudo, é o futebol que admira até hoje quando assiste aos jogos do Grêmio, time do coração. Sempre sociável, participava de grupos de debate na escola, e, ao adorar folhear as páginas do Correio do Povo na casa dos avós, logo percebeu que a Comunicação seria o seu caminho. "Entendi que, para traduzir a maneira de expressar o que observava e gostaria de passar adiante, seria por meio do Jornalismo", relata. Oriundo dos anos 60, foi alfabetizado no audiovisual e no rádio e o interesse pela cultura foi imediato.

Com a informação de que logo seria aberto o curso de Jornalismo na Universidade de Caxias do Sul (UCS), ingressou na graduação de Relações Públicas com o intuito de mudar para o curso desejado assim que possível. Nascido em Caxias do Sul, em 1964, o filho de Emílio e Terezinha interrompeu a faculdade aos 18 anos para viajar pela América Latina ao lado do movimento cultural americano 'Viva La Gente'. Após assistir a um show deles, interessou-se pela proposta de trabalharem a temática de integração e valores humanos por meio da música. E o que era para ser um ano tornou-se oito. Assim, deparou-se com um mundo e universo muito maiores do que a cidade natal.

Anos depois, foi convidado pela Universidade Católica de Montevidéu para continuar o curso com uma bolsa e, de quebra, teve a oportunidade de estagiar no Canal Cinco. Após terminar o curso e retornar ao Brasil, revalidou os estudos e, para isso, cursou um semestre de Jornalismo na Unisinos. Foi quando entendeu a máxima que veio se tornar seu lema de vida: "Nada é por acaso". Na Universidade do Vale do Rio dos Sinos conheceu o colega, também jornalista, Juan Domingues, que abriu os caminhos para trabalhar com Jornalismo Cultural. O colega soube de uma vaga no jornal NH, do Grupo Sinos, onde entre idas e vindas, de repórter especial, tornou-se editor de Variedades.

No currículo, Santuario ainda carrega a implementação da Unisinos FM, a qual ajudou a criar ao lado de Flávio Bernardi, Luis Aquino e Paulo Torino, e onde trabalhou por quatro anos. De volta ao NH, recebeu o convite de Tiaraju Brockstedt, então editor do impresso, para ser editor-assistente de Cultura no Correio do Povo.

Constante atualização

Com o desejo de voltar aos estudos anos após a graduação, regressou à universidade para realizar mestrado em Comunicação e Cultura na PUC. Lá, desenvolveu uma dissertação sobre a Comunicação Globalizada na América Latina e que, mais tarde, virou livro. Foi nesta mesma época que foi indicado para dar aula no curso de Jornalismo que estava sendo incorporado ao currículo da Feevale. Desde lá, a troca de ideias com os alunos se tornou rotina, principalmente, ao desenvolver um curso de pós-graduação em Jornalismo e Convergência de Mídias. 

Depois que regressou aos estudos, não parou mais, chegando a fazer doutorado, também na PUC, com o intuito de ser pesquisador. E a tese 'Jornalismo e Mundo Novo', assim como a dissertação, também virou livro. Santuario não se diz teórico nem prático, pois gosta de trabalhar praticando a teoria e observando como elas acontece no dia a dia. Ao adquirir esse gosto, decidiu fazer parte e contribuir com a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa e com a Associação Latino-Americana de Investigadores em Comunicação (Alaic).

Em razão de sua atuação na academia, muitas das leituras são acadêmicas e científicas. Aproveita para colocar a leitura em dia durante a quase uma hora que passa no trem de Novo Hamburgo até Porto Alegre, no trajeto até o trabalho. Ainda dá atenção às obras culturais que necessitam de divulgação. Contudo, fora do trabalho e da academia, diz-se um leitor eclético. "É por isso que consigo circular em várias áreas", alega.

O mesmo acontece no que se refere à música. O jornalista descobriu a importância dos Beatles com o irmão mais velho, Luís Carlos, que também lhe apresentou Rolling Stones. Do Rock transita para a MPB, admirando artistas brasileiros como Caetano Veloso, Chico Buarque e Maria Bethânia, até os contemporâneos como Lenine, Marisa Monte, Zeca Baleiro e a banda Tribalistas. Para relaxar, prefere sons mais tranquilos, como a banda The Corrs, a qual o ajuda em momentos de reflexão, assim como as melodias de Reiki, que interioriza e o trazem paz e tranquilidade. Santuario se tornou mestre na prática devido a uma busca pessoal que o auxiliou a encontrar um universo de equilíbrio nas relações.

O crítico

Também foi o irmão que o levou ao cinema e, deste meio, nunca mais se afastou, tornando-se um hobby. Quando viajou pelo continente, aproximou-se das produções latinas e, mais tarde, quando morou no Uruguai, associou-se à 'Cinemateca Uruguaia', por meio da qual convive com amantes da sétima arte. O lazer virou profissão anos mais tarde, quando conquistou o cargo de crítico no Correio do Povo, além de editor do blog Cine CP, do impresso.

Com o elo ainda mais forte, participou da criação da Associação Gaúcha de Críticos de Cinema (Accirs), e da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Diante de tanta paixão e dedicação, recebeu o convite para integrar o trio de curadores do Festival de Cinema de Gramado ao lado de José Wilker, que faleceu em 2014, e Rubens Ewald Filho. Assim, há quase oito anos, o então jornalista cultural e crítico, que frequentou por muitos anos o evento, hoje é quem ajuda a escolher as produções ao lado de Rubens e Eva Piwowarsk, que substituiu o ator global.

Como consumidor, diz que tem vários olhares sobre os filmes. Gosta desde romances até ficção, visto que assiste ao filme mais hermético iraniano até os Vingadores - série da Marvel baseada em super-heróis. "Faço isso com o maior prazer, pois aprendi a observar em cada obra algo de positivo", revela. Porém, tem seus favoritos, a exemplo de 'Encouraçado Potemkin' e todos os longas-metragens de Hitchcock. Também cita produções de Brian de Palma, Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos.

Rapaz latino-americano

O irmão também de Lourdes Mary, Márcia, Maria de Lourdes e Marta foi criado no catolicismo. "Não compareço tanto à missa, pois prefiro viver as práticas do cristianismo me inspirando em Cristo como modelo", explica. Ele, que se considera confiante, porém, impaciente, adora comida brasileira e, cada vez que deixa o Brasil, pensa em voltar para apreciar uma feijoada ou um churrasco. "Não me considero 'gourmetizado', mas, ao mesmo tempo, adoro frequentar diversos restaurantes para ter experiências gastronômicas."

Citando a música de Belchior, Santuario se define como "apenas um rapaz latino-americano sem muito dinheiro no bolso", com um desejo muito grande pela Comunicação e pelo Jornalismo, somados à paixão pelo Cinema. "Tudo o que para várias pessoas é apenas lazer, para mim, é, também, trabalho", comenta, ao garantir que se sente feliz. "Cada dia que me levanto, sinto-me realizado para continuar neste caminho", sentencia, ao destacar que este sentimento não é algo que o torna estanque, e sim, que o faz ir adiante.

Autor
Editora

Comentários