Maria Eduarda Soccal Bastos Gigena: Aberta ao novo

Para a gerente de Marketing da Fruki Bebidas, a prática do respeito e da empatia tornará o mundo melhor

Manter a consideração e a empatia com todos os indivíduos, sejam eles de diferentes funções, gêneros sexuais ou raças, é o que guia a gaúcha Maria Eduarda Soccal Bastos Gigena, mais conhecida como Dada - apelido que ganhou ainda pequena dos primos e irmãos. E essas características podem ter vindo de Uruguaiana, onde nasceu em 28 de agosto de 1980. Afinal, ela acredita que o pessoal do campo tem um diferencial e uma fortaleza, "que é o respeito pelas pessoas".  Quarta filha, e a mais nova, do veterinário Luiz Antônio - falecido em 2014 - e de Mirta, ela é a única mulher e a única que mora em Porto Alegre. Os familiares ainda estão na fronteira, local que ela recorda com muito carinho. 

Na memória da infância, traz a conexão com a família, as origens e o pertencimento à terra. "É um lugar que eu quero sempre voltar. Mesmo longe, minhas raízes estão lá." E esse sentimento ela transmite aos filhos Inácio, de 10 anos, e Luiz Antônio, de cinco, do casamento com o agrônomo Fabrício. Sempre que pode, volta à cidade natal e mantém o convívio dos pequenos com os primos, assim como ela cresceu com os dela, o que os tornaram muito próximos. "É quase como se fosse a extensão dos meus irmãos", destaca. 

Essa vivência no Interior também pode ter contribuído para o que ela considera hoje a sua maior qualidade: relacionar-se e gostar de estar com seres humanos. "Até na minha vida profissional, acho que meu ponto forte é empoderar as pessoas para que extraiam delas o melhor", observa. Já a extrema autoexigência é algo que não chega a atrapalhá-la no trabalho, mas a coloca sempre sob pressão.

Família: o melhor hobby

Quando não está exercendo as atividades profissionais, a publicitária confessa que a melhor atividade é estar com os filhos e passar o tempo com a família.  Aliás, ficar com os pequenos é o que a preenche de fato, portanto, adequa a rotina de tarefas, como uma ida à academia às 6h, para que possa estar com eles logo após o trabalho. Entre as atividades que são realizadas juntos, está o acompanhamento do mais velho nos campeonatos de golfe em diversos locais do Brasil. Inácio é vice-campeão sul-americano e o primeiro no ranking gaúcho na sua categoria. Já o mais novo adora cavalos, assim como o pai. 

Além dos programas com as crianças, gosta de estar com os amigos e ir a shows. De esportes, pratica beach tennis, mais como uma forma de se desconectar da rotina agitada, como se fosse "uma terapia, talvez", conforme explica. Também é uma ávida leitora. Não há um tipo específico de livro preferido, depende do momento, mas um hábito rotineiro é ler antes de dormir. 

Aberta ao novo

Em busca de conhecimento, Dada veio à Capital para estudar com cerca de 18 anos. Uma mudança muito grande, com sofrimento, mas que ela entendia necessária. Apesar de morar com os irmãos - que, após os estudos, voltaram para Uruguaiana -, a profissional diz ter sido difícil a desvinculação com a terra natal, porém, ela queria muito essa experiência.

Depois do cursinho pré-vestibular, cursou Administração por aproximadamente quatro semestres, porém não gostou. Um teste vocacional, em que apareceu fortemente a questão da criatividade, a impulsionou à Publicidade. Foi onde ela se encontrou. A formatura da graduação foi em 2004, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mas a capacitação, no entanto, segue constantemente. Entre elas, fez pós-graduação em Gestão Estratégica de Negócios de Pessoas, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV); e Refresh, na Perestroika - curso que considera como o melhor que fez na perspectiva de inovações.

Para Dada, é preciso ver as situações com diferentes lentes. "Quando você olha assim, produto, comportamento, pessoas, faz muita diferença para a gente poder construir e produzir algo novo." A procura constante por aprimoramento, seja por meio das leituras, seja pelas capacitações, vai ao encontro de como ela se define: aberta ao novo. 

De agência ao mundo corporativo

Essa sede de novidade aparece também na trajetória profissional, que começou em 2000, na Profit Consultoria de Comunicação e Marketing. Em 2002, ela foi para a Paim, de onde saiu para atuar na Ipiranga por cerca de dois anos. Foi a primeira experiência no mundo corporativo. Em janeiro de 2004, começou na Panvel e ficou por 16 anos. A entrada na companhia foi como trainee, pela área Comercial, o que ela considera "fantástico" e defende que todos do Marketing deveriam passar pelo setor, pois crê que é no ponto de venda que tudo acontece e onde se aprende muito também com o consumidor. 

Após dois anos, a profissional foi convidada a assumir o Marketing. A mudança foi um divisor de águas na carreira. Na função de GPM - sigla em inglês de Group Product Manager, ou Gestão de Produtos -, a publicitária viveu um dos momentos mais marcantes na profissão: a transformação da organização de um local onde se ia apenas para comprar remédios quando se estava doente, para o destino nas datas presenteáveis. Para tanto, foi trabalhado, em especial, o desenvolvimento de itens da marca própria e, assim, "fazer a Panvel realmente ser uma alternativa de compras de presente nas principais épocas do ano, aproveitando a capilaridade, os pontos de venda das lojas físicas, e transformar elas para serem referência".

Todo o processo de modificação passou pela gestora, como a nova identidade visual da marca e das lojas, o planograma (representação gráfica do posicionamento de um produto, do seu sortimento ou da sua categoria em uma determinada gôndola e/ou prateleira), o portfólio e a precificação. O slogan também foi alterado para 'Panvel, você sempre bem', pois dessa forma, sob o guarda-chuva de bem-estar, mostrou-se que a farmácia não precisava ser vinculada à doença, mas ao cuidado, à imunidade e à beleza. 

Assim como o lado profissional, o pessoal também vivia transformações. Neste período, Dada teve os filhos. Foi com a chegada do segundo herdeiro que sentiu que precisava se conectar mais com o papel de mãe e dedicar mais tempo a eles. Então, em novembro de 2019, pediu para sair da empresa, deixando o posto em janeiro do ano seguinte. Por um tempo, mudou-se para Uruguaiana para ficar com a família e cuidar de outros negócios por lá. Foi um período que ela considera maravilhoso e necessário.

Apesar de a pandemia ter sido um momento difícil no município, ela disse que conseguiu viver de uma forma mais amena, não tão isolada, com os irmãos e parentes. Nesse tempo, algumas empresas começaram a chamá-la para novas oportunidades. A profissional, porém, estava decidida a não retornar ao mundo corporativo. Essa opinião, contudo, mudou com o convite da Fruki Bebidas. 

Com o incentivo do marido, que já havia atuado na empresa, ela resolveu testar. E gostou. Por isso, está na organização há três anos. Além de construir uma área grande de Marketing, Comunicação e Branding, de Trade e de Merchandising, que é estratégica na empresa, ela vê como ponto positivo o fato de ser um trabalho em formato híbrido, porque agora ela tem mais tempo com os filhos. 

Trabalho sempre coletivo

Sedenta por inovação, situações novas e desafios, Dada se diz alguém que nunca se acomodou. Por isso, nada a limitou, nem no início da carreira. Credita o desenvolvimento profissional à ajuda das pessoas. Com estima aos colegas, a gerente defende a ação em conjunto, não individual. "Eu gosto muito de trabalhar com pessoas, colocando-me sempre à disposição para ajudar, fazer junto, reconhecer quando há um trabalho coletivo. Eu nunca ganhei louros só para mim." Até hoje, atua com muita confiança e autonomia com o time. 

Por cada lugar que passou, com cada colega com quem atuou, ela diz ter aprendido um pouco. "Acho que todas as pessoas contribuíram em um pedacinho dessa Dada que eu sou hoje." No entanto, há uma que é uma verdadeira inspiração para a vida: a matriarca. Mirta fez a publicitária enxergar o mundo com coragem e a incentivou a se transformar em quem é atualmente. "Minha mãe sempre disse: 'Seja quem tu quer ser, vai em busca dos teus sonhos e vai buscar a tua profissão'". Uma das situações lembradas foi quando, vendo que a filha não gostava de cavalo como toda a família gosta, afirmou que a menina não era obrigada a tal. "Quando ela falou isso, foi libertador", confessa. 

Mais do que sonhar, é preciso se movimentar

Com a percepção de que o mundo está se transformando tão rápido, Dada não tem uma visão no longo prazo, por isso, não faz planos longínquos. "É mão no volante para ficar muito atento à próxima curva. E estar preparada para isso", brinca. Porém, ela se imagina fazendo o que gosta, construindo marca, gerando valor onde estiver, e fazendo com que as pessoas ao seu lado tenham vontade de prosperar, de trabalhar e de construir junto.

Com uma gestão horizontal, é no crescimento coletivo que ela acredita, entendendo que pessoas felizes trazem resultados prósperos. Por outro lado, pessoas tensas e tóxicas colocam energia sempre para fora da empresa. Por isso, entende que um ambiente de abertura, de flexibilidade, de conversa e de diálogo proporciona às pessoas serem o que elas são e elas trazem o que têm de melhor. 

Realizada, ela vê que ocupa o posto que está porque batalhou para tal, com muita dedicação, empenho e estudo. As conquistas que têm acredita que vieram não só dos sonhos, mas também da busca por eles. Para ela, não adianta só sonhar. "Tu tens que te movimentar para conquistar. E eu acho que, quando fazemos isso, a gente atrai, porque a inércia não leva a lugar nenhum", enfatiza. 

Respeito acima de tudo

Dada não crê em nenhum movimento, como o dos LGBTQIA+ ou dos negros e brancos. Para ela, acima de tudo, está a estima ao próximo. Defende que não é preciso taxar as pessoas pela orientação sexual, raça ou origem. É necessário respeitar as pessoas como elas são na essência. "O que eu sinto, às vezes, são muitas marcas levantando bandeira para a rua, sendo que, da porta para dentro, não é nada disso", observa.  

A gerente sempre conversa com a equipe sobre esse tema, em especial com os gestores, porque entende que eles são responsáveis pela forma com que os colaboradores saem da empresa, já que eles têm vida além da organização, e eles têm que sair felizes. Para tanto, defende a necessidade de cuidar das pessoas de fato, pois, como gestora, é possível massacrar ou estimular alguém. "Porque pessoas iguais terão resultados iguais, pessoas diferentes trarão óticas e perspectivas diferentes. E quando a gente vive e está aberto ao mundo, ao novo, tudo se transforma." 

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