Os números sempre fizeram parte da vida de Claro Gilberto. O diretor de eventos do Grupo RBS formou-se em Matemática pela PUC e por quatro anos ministrou aulas desta disciplina em "cursinhos". A experiência adquirida na área das Ciências Exatas rendeu-lhe um pensamento lógico e uma facilidade para organizar eventos. Transformar sonhos em realidade; criar projetos em uma mesa e, depois, tirá-los do papel; coordenar e motivar equipes; delegar ordens e funções: estas são algumas das atividades exercidas por Claro, mestre de Matemática que se transformou em mestre de eventos.

A carreira na área da Comunicação aconteceu por acaso. Em 1968, foi escolhido para representar o Centro Acadêmico de sua universidade em um encontro com a TV Gaúcha, a atual RBS TV. "Era uma promoção da emissora que reunia representantes de escolas e faculdades com o objetivo de organizar uma gincana, os Jogos da Primavera. Na época, cursava Artes e Matemática, e neste evento tinha mais umas 50 pessoas que iam apresentar trabalhos. Senti que não teria oportunidade com tantos concorrentes inteligentes e determinados a apresentar televisão e aparecer na frente das câmeras. Então, para me destacar, usei uma estratégia bem diferenciada: comecei a pedir para apresentar os trabalhos deles também", relata.

No final das contas, a estratégia deu certo e o jovem de 19 anos foi convidado a integrar o quadro de funcionários da empresa. "Esta é uma estratégia que passo para os meus filhos até hoje, pois quando queremos realmente alguma coisa, começamos a auxiliar os outros e chamar a responsabilidade para nós e, muitas vezes, acabamos fazendo o trabalho dos outros", diz. Claro iniciou suas atividades na empresa no departamento de "Promoções da Rádio e TV Gaúcha", dirigido pelo jornalista e político Glênio Peres. "Acabei caindo nas graças do Glênio, pois trabalhava muito e ele, imediatamente, me contratou. No final daquele ano, quando terminamos um evento, ele saiu da RBS e foi abrir uma empresa de exposição, a Expositur, e me levou junto. Lá fiquei quatro meses, porque José Maurício Pires Alves assumiu o cargo do Glênio na RBS e me chamou de volta", lembra.

Homem das estratégias

"Quer fazer bem-feito, põe na mão do Claro!" Segundo o executivo, esta é uma frase que freqüentemente ouve de seus colegas. Além de ser reconhecido como uma pessoa dedicada e trabalhadora, também se define como uma pessoa transparente e determinada. "Sou dedicado às minhas atividades e tenho uma mania de organização muito grande. Tem diretores da RBS que possuem uma norma dentro da cabeça deles: "para fazer acontecer, entrega para o Claro". Isso me deu uma credibilidade muito grande."

Para cumprir com responsabilidade os projetos da empresa, Claro admite que é rígido e exigente com sua equipe de trabalho.  "Sempre me organizei muito e sou muito exigente, às vezes até demais. Muita gente deixou de trabalhar ou saiu do meu lado devido ao meu alto grau de exigência. Sempre fui muito cobrado e passo isso para minha equipe. Se você não tiver um diretor que cobre, pode ter certeza que a tua empresa vai desaparecer. A RBS cobra muito dos seus diretores e, por isso, acabamos criando a idéia de que não existe vida fora da empresa, mas existe vida sim em qualquer lugar. Vivemos as coisas de uma forma muito interna, para depois colocar isso para o telespectador e cobramos muito de todos aqueles que passaram por vós", diz ele. Na sua análise, este modo de ser provoca resultados contraditórios: "Hoje, muitas pessoas me agradecem por isso e, outras, criticam", explica.

Quanto a esta postura, Claro acredita ser necessária. "As pessoas não gostam de ser cobradas, elas não gostam de trabalhar e são muito relaxadas. Se tu deixar, vira lixo em tudo quanto que é lugar e os funcionários acabam transferindo isso para o trabalho. Uma empresa assim perde muito dinheiro e o objetivo é fazer muito mais com menos. Na RBS isso está dando certo", justifica.

Idas e vindas

Agora em 2008, o executivo completará quatro décadas de serviços prestados à Rede Brasil Sul de Comunicação. Durante este tempo, produziu eventos e chamadas para a televisão, foi gerente executivo e dirigiu programas e emissoras do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. "Foram muitas as idas e vindas, pois saí e voltei seis vezes à RBS, mas nunca passei mais de meio ano fora da empresa", diz. Apesar de ter atuado mais tempo em televisão, a paixão por criar eventos sempre foi mantida. "Faz 25 anos que saí pela última vez da RBS e, neste período, me especializei muito mais em televisão, mas nunca deixei de lado os eventos. Afinal, foi onde tudo começou. Esta área não existia na RBS, só na televisão. Ela foi criada por Nelson Sirotsky, que me trouxe para a corporação, onde estou há oito anos", relata.

Além de trabalhar um período na Expositur, com Glênio Peres, o executivo ainda deixou o grupo de comunicação para atuar no ramo da publicidade. Foi convidado para montar uma agência de propaganda na loja Rainha das Noivas e, mais tarde, para trabalhar na Mercur Publicidade. Também dirigiu programas na TV Guaíba e na TV Bandeirantes. Já na Caldas Júnior ajudou a organizar uma edição do concurso Rainha das Piscinas. "Uma espécie de antepassado do Garota Verão", explica.

O evento que mais marcou a carreira de Claro foi o Garota Verão, criado e dirigido por ele há 27 anos. O concurso de beleza, transmitido todos os anos pela RBS TV, acontece durante o verão em 400 cidades do Rio Grande do Sul e 150 de Santa Catarina. Ele lembra: "O Garota Verão é um evento muito forte e que manteve aqui no Estado a cultura dos prestigiados concursos de Miss, que tiveram seus anos dourados na década de 60.  Sempre dirigi o Garota Verão, porque evento a gente não monta na hora, as idéias surgem em papéis, em cima da mesa e ano a ano ele foi ficando mais forte. Hoje em dia, o sonho de qualquer menina bonita é ser Garota Verão da sua cidade. É compreensível, pois é um concurso estadual, que tem a maior televisão do Rio Grande do Sul envolvida e que dá visibilidade à candidata." O executivo ainda faz questão de destacar sua participação na primeira edição do Planeta Atlântida, que, segundo ele, é o maior evento produzido atualmente pelo Grupo RBS em termos de público.

Viajar em família

Claro Gilberto nasceu em Pelotas no dia 5 de agosto de 1949, é casado há 30 anos com a publicitária Carmen e com ela possui dois filhos: Stephania, 18, e Pietro, 23. A caçula Stê, como é carinhosamente chamada pelo pai, cursa Ciências da Computação na PUC, mas, no segundo semestre deste ano, a jovem vai morar na Alemanha, onde pretende terminar sua faculdade. Já o primogênito Pietro resolveu seguir os passos do patriarca na comunicação: formou-se em Publicidade e Propaganda e atua na área de Criação.

Trabalho é o sobrenome do executivo. Ele conta que para obter um bom desempenho profissional, teve que abrir mão de algumas coisas. "Confesso que sempre dediquei 90% do meu tempo para o trabalho, mas os 10% restantes soube otimizar muito bem. As pessoas podem até discordar da minha opinião, mas acho que o mais importante que existe para os filhos é você dar proteção econômica para eles. Não adianta ser um pai extremamente carinhoso, abandonar o trabalho e não poder mantê-los nos melhores lugares. Poder dar tudo para eles é o mais importante. Confesso que sempre deixei a parte afetiva com a mãe, mas com os meus filhos isso deu muito certo: têm bom caráter, são dedicados e estudiosos. Claro que o carinho vem antes disso, mas sem dinheiro não se faz nada".

Apesar do tempo escasso, viajar é o programa predileto da família. "Só nos preocupamos em viajar. Viajamos umas três vezes por ano, geralmente vamos para o exterior. Costumamos ir para a Europa, porque chegamos lá, alugamos um carro e viajamos de automóvel. Já percorremos Estados Unidos, México, Europa e com a minha mulher fui à Arábia Saudita, Iraque, Egito, Israel e Marrocos." Agora em julho o ciclo se renova: o casal vai  para Dubai e depois para a Austrália e, em setembro, os passaportes serão carimbados em Milão e Berlim.

Passear, fotografar, apreciar culturas e dirigir por belas paisagens. É com estas atividades que Claro procura eternizar momentos vividos com a família, explicando que o importante é a qualidade e não a quantidade de tempo dedicado aos familiares.